segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Mea Culpa


Sobre o texto anterior fui justamente repreendido por alguns amigos por ter usados termos fortes e mal-educados. Peço desculpas, muitas desculpas. Quem acompanha esse blog sabe que em várias postagens critiquei aqueles que apelam ao insulto e a ridicularização de seu opositor. (aqui e aqui) e quem me conhece sabe o quanto repudio essas coisas. Peço desculpas aos amigos leitores desse blogue por tê-los feito ler um texto dotado de tamanha má-educação, isso foi fruto do calor do momento (uma das propostas do blog é postar os textos em estado bruto, o que explica alguns recorrentes erros gramaticais). Sei que poderia ter escolhido melhor as palavras para me expressar.

No mais, eu mantenho tudo o que falei.

domingo, 8 de dezembro de 2013

Mandela morreu. O respeito pela história também.



Tá faltando pouco, muito pouco, para os reaças de facebook fãs de Olavo de Carvalho começarem a dizer que o nazismo teve lá suas vantagens (ops!! O Olavo já insinuou isso). A morte de Nelson Mandela deu mostras de que essa turma não tem a menor noção do que diz. São movidos por um ódio tão irracional que sequer tentam disfarçar a sua mentalidade racista, machista, homofóbica e eugênica.
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Um dos carros-chefe desses imbecis engajados é a página de facebook “Meu professor de História mentiu pra mim” que conta até esse momento com 59 mil seguidores (inclusive gente que um dia cheguei a achar que era inteligente e intelectualmente honesta. Ledo engano). Após o falecimento de Mandela eles postaram essa canalhice a seguir:

Primeiro cabe aqui uma refutação ao relincho argumentativo presente na imagem. Mandela lutou contra um regime político que estabeleceu a partir de 1948 uma brutal segregação racial. No rol de realizações deste regime estão a proibição de casamentos interraciais (1949), criação de espaços exclusivos para brancos e criação de um sistema de educação diferenciado que levava os negros a serem educados apenas para exercerem trabalhos braçais (1953);  tomou terras dos negros e forçou-lhes remoções forçadas. 
Placa delimitando o uso da praia exclusivamente para brancos na África do Sul
Para os direitosos errado estava ele Mandela em resistir ao Apertheid 
Daí passam a acusar Mandela de “terrorismo” (palavra que os reaças adoram) por liderar um grupo guerrilheiro que lutava contra esse regime. Talvez esses imbecis achem Mandela e os negros deveriam ter aceitado quietinhos a dominação branca e esperar pela “divina providência”. O fato é que diante de um regime violento e segregacionista não se pode condenar Madela por formar uma resistência armada. 
A postagem ainda termina relinchando que Mandela implementou um regime marxista na África do Sul ao virar presidente. Basta olhar que na África do Sul aconteceu na verdade uma enorme liberalização da economia, com venda de estatais, ataque aos direitos trabalhistas, impedimento da reforma agrária (bandeira histórica do partido de Mandela, o CNA) e aumento do desemprego e manutenção da desigualdade social.
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O uso da mentira como jogo argumentativo é um espetáculo de estupidez bem ao gosto das Olavetes. Além disso fica nítida a defesa que esses cretinos fazem de um regime de segregação racial (uma característica do fascismo é crença em “superioridades raciais”). Claro que é perda de tempo refutar esse monte de excremento pois os indivíduos que os pregam a torto e a direita não tem a menor preocupação com a verdade.

. “O fascismo é fascinante deixa a gente ignorante fascinada” (Humberto Gessinger)

Fenômenos como esse, onde grupos investem num pesado revisionismo histórico visando adequar fatos acontecidos para se tornarem legitimadores de suas crenças não são coisas novas, isso sempre ocorre em determinados momentos históricos. Os fatos históricos são explicados em moldes pré-prontos sempre vendendo respostas fáceis e falsas (não existe resposta fácil para temas complexos). O levante conservador no Brasil tem várias formas, ataca de várias frentes e tem em comum um ódio mortal contra o PT e demais partidos de esquerda (ódio que não é por questões éticas, pois silenciam quando direitosos do DEM, PSDB e congêneres são pegos em situações “pouco republicanas” como o “Trensalão Tucano”, “Mensalão do DEM” ou o “helicóptero do pó”), além de odiar abertamente o processo de inclusão social ocorrido no Brasil nos últimos 20 ano a acentuado nesses últimos dez anos do PT no poder. Tentam passar a impressão de que o Brasil era um país industrializado, socialmente menos desigual e com menos corrupção do que agora lá pelos anos da ditadura militar (outro aspecto fascista é acreditar que a democracia enfraquece a sociedade).

Esse levante conservador conta com figuras midiáticas que tem um certo destaque. Desde rockeiros decadentes com uma imagem que teima em ser “jovem” (Lobão, Roger), humoristas que adorampiadas racistas (Danilo Gentili), apresentadoras de telejornal cheias de “openeão” (Rachel Sheherazade), historiadores de ocasião (Leandro Narloch), “filósofos” que odeiam as faculdades e escolas (Luis Felipe Pondé e Olavo de Carvalho), líderes religiosos claramento racistas e/ou homofóbicos e machistas (Feliciano, Malafaia) entre outros. Em comum é que todos são propagadores de discurso de ódio as vezes velado, as vezes declarado.

A fixação desses indivíduos em deturpar a história não é nada mais do que uma tentativa de adequar os fatos com as suas ideias, não o contrário. A reescrita arbitrária da história é um fenômeno que sempre esteve presente em todas as ideologias radicais e em seus adeptos ignorantes, sejam eles de esquerda ou de direita. Daí esses babacas saírem dizendo que o Brasil está diante de um golpe comunista tramado pelo PT em parceria com Fidel Castro (é, eu sei que é ridículo, mas essas toupeiras gostam de propagar isso), que o Mais Médicos é um programa que visa infiltrar guerrilheiros cubanos no Brasil, que a ditadura militar foi de “esquerda” e que as redes de TV são todas “comunistas” (Inclusive Globo, Bandeirantes, SBT, etc.).
Mais do que isso essas figuras estão perdendo a vergonha em expressar os seus mais profundos preconceitos. O ódio que essas pessoas sentem dos discursos de inclusão social e o fanatismo imbecil adquirido com as suas pseudo-leituras os faz defender reacionarismos de fazer qualquer indivíduo com o mínimo senso de decência corar de raiva e vergonha.

A página deu mais uma mostra de que essa direita radical defende novos tipos de eugenia. Faz umas duas semanas quando fez um comentário sobre a novela das nove da TV Globo. Reproduzo o comentário aqui:

“Acabei de ser informado que a novela das 9 se passa em uma realidade paralela na qual obesidade e autismo são atributos de sexy appeal. O pessoal do politicamente correto tá no desespero mesmo!”

Diante da avalanche de comentários o cara ainda tentou se justificar com uma postagem que aumentava ainda mais a vergonha alheia. (veja aqui) (outro aspecto do pensamento fascista é a crença de que certos indivíduos são biologicamente “bem nascidos” enquanto outros não são)
Daí cabe pensar: o que dizer de um grupo que quer chamar de “liberdade de expressão” discursos de ódio e preconceito desavergonhado? 

Essa página não revela nada sobre história, revela sim muito sobre quem a acompanha. Se o indivíduo é alguém razoavelmente letrado e tem consciência das sandices que são divulgadas ali e mesmo assim as repercute então é uma figura com um nível estratosférico de desonestidade intelectual e moral. Se o indivíduo acredita seriamente no que encontra ali então é melhor evitar cair de quatro pois periga de não levantar mais.

Snif, Snif!!! O papa mentiu pra você também?

Pra encerrar vem aí aquela que eu considero a maior prova de desonestidade intelectual e do fanatismo destes indivíduos. Para quem não sabe a página “Meu professor de História mentiu pra mim” faz apologia declarada da Igreja Católica, o que de início não haveria nada demais. Eu mesmo, um ateu, tenho me percebido muito simpático a certos aspectos do catolicismo (como o de não deixar que sua fé e suas missas se tornem espetáculos midiáticos dantescos); mas a página tenta reescrever certos aspectos pouco elogiáveis do passado da Igreja. Os caras já afirmaram que a Igreja ordenou  queimar Galileu na fogueira por que ele “não seguiu o método científico” ou já fez a apologia ao Tribunal da inquisição chamando-o de “marco civilizatório”  (O mestre deles chegou a dizer que as mortes na fogueira não eram desumanas). Gastam tempo tecendo loas aos papas mais conservadores que manifestaram repúdio ao comunismo e ao ateísmo. Mas surge o Papa Francisco, ele mesmo o Mário Jorge Bergóglio, um papa que está saindo muito melhor do que a encomenda. Já oelogiei aqui no blog. 

Eis que Francisco faz uma exortação apostólica em que denuncia a vergonha do mundo capitalista atual, da falta de solidariedade e da busca por lucro desenfreado. Exorta sobre a falta de amparo aos desvalidos e sobre a insensibilidade dos mercados. Há trechos amplamente inspiradores, vejam:

“O grande risco do mundo actual, com sua múltipla e avassaladora oferta de consumo, é uma tristeza individualista que brota do coração comodista e mesquinho, da busca desordenada de prazeres superficiais, da consciência isolada. Quando a vida interior se fecha nos próprios interesses, deixa de haver espaço para os outros, já não entram os pobres”

“Alguns defendem (…) que todo o crescimento econômico, favorecido pelo livre mercado, consegue por si mesmo produzir maior equidade e inclusão social no mundo. Esta opinião, que nunca foi confirmada pelos fatos, exprime uma confiança vaga e ingênua na bondade daqueles que detêm o poder econômico e nos mecanismos sacralizados do sistema econômico reinante. Entretanto, os excluídos continuam a esperar.”

Qual foi a reação dos responsáveis pela página? Passaram a criticar o Papa Francisco. No blog de mesmo nome que a página há uma postagem com o singelo nome de “Bergoglio, uma decepção” onde chega a petulância de chamar o Papa de “vitima de uma epidemia mundial de burrice”. Para esses indivíduos o papa só é infalível (como afirma o dogma da Igreja) se defender um capitalismo destrutivo e desumano, se ele for progressista ele é indigno do cargo.

Essa mentalidade absurda que mistura mentiras, alienação, insultos e preconceito vem ganhando cada vez mais corpo nos dias atuais. O sinal amarelo acendeu.

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Nós vivemos na revolução


Para um cético convém pensar que não existem forças místicas, espíritos, feitiços... não faz sentido achar que existe algo sobrenatural guiando a história e a vida dos indivíduos, a realidade basta e só.
Depois de ontem eu começo a rever meus conceitos. Se existir uma força mística poderosa ela reside no Santa Cruz Futebol Clube; se existe um espírito por trás da história, como acreditava Hegel,  ele se apresenta na massa coral unida no Arruda.

Fico a pensar como conseguimos subir de divisão ontem. Temos um time limitado até para uma série C (Sampaio Correia, Fortaleza, Luverdense, Macaé formaram times bem mais equilibrados e qualificados que o nosso), um time que as vezes parece dormir em campo, outras vezes parece sentir o peso da responsabilidade de vestir o manto coral e desaprende a jogar. Nossos zagueiros viciam-se em chutões a esmo, nossos volantes marcam mal, nossos atacantes são puros caneleiros (O único diferenciado, Denis Marques, entrou de férias em abril e não voltou mais).

Ontem o time desaprendeu a jogar mais uma vez, tomou pressão, foi acuado; parecíamos um boxeador fulminado por socos demolidores preso a um corner, mas que se recusava  a cair. Não caímos.
As 60.040 vozes levantaram o time do chão, nos levaram a uma vitória épica que denuncia a existência de um espírito que move a história.

Existe uma revolução esperando a acontecer, a revolução definitiva da história, aquela que jamais será derrubada. Essa revolução é tão grande que não há ainda como descrevê-la, só se pode senti-la. Ontem no Arruda estiveram reunidas todas as raças, credos e estratos sociais. Milhares de histórias de vida díspares se uniram para expressar um sentimento que vem se acumulando de geração em geração, de época em época. O espírito da história esteve presente ali.

Ali estiveram os Incas, Maias e Astecas que foram dizimados pelos colonizadores espanhóis, estiveram aqueles que foram torturados nos porões, os prisioneiros dos Gulags stalinistas. Esteve ontem no Arruda a força dos primeiros cristãos que eram devorados pelos leões no coliseu romano, dos irmãos Caio e Tibério Graco que morreram lutando pelo sustento da plebe romana, dos escoceses que lutaram ao lado de William Wallace por um país livre contra a tirania dos ingleses. Ontem no Arruda o sangue escravo derramado para que se construísse o Brasil esteve em cada uma das vozes presentes.

Amigos, existe uma revolução que reside dentro do Santa Cruz. Uma revolução que fará justiça a todos aqueles que um dia sucumbiram diante da tirania, das ditaduras, dos genocídios, da fome. Essa revolução é tão grande, mas tão grande, que não há uma única palavra capaz de descrever ou de imaginar como ela será. Por isso ela é expressa através do grito ensandecido da massa tricolor, da sensação de alívio e vitória que sentimos ontem.
Carregamos o peso de milhares de anos de história nas costas, temos a obrigação de fazer justiça.

Ontem antes do jogo no Recife havia o clima das mais emocionantes utopias, pessoas desconhecidas se cumprimentavam e se abraçavam, milhões de pessoas formavam um único corpo. Até nossos adversários nos cumprimentavam e desejavam boa sorte com enorme sinceridade. Os velhinhos sorriam nas calçadas de Olinda, as mulheres estavam mais bonitas, os homens mais confiantes; haviam oceanos de sorrisos nas ruas. A alma do povo estava ali.

Por um dia não haviam ricos nem pobres, por um dia parecia não haver miséria,  parecia não haver violência. Havia um nível de fraternidade sem precedentes na capital pernambucana.


Agora sei porque Robespierre, Lênin, Mao, Che, Fidel não conseguiram fazer revoluções realmente populares: eles não conheciam o Santa Cruz. Não entendiam a alma do povo, aquela que vai fazer a revolução definitiva.

Não sei como será essa revolução, mas sei que ela esteve lá ontem.


sábado, 2 de novembro de 2013

O que se está construindo no ensino público?


Nunca houve exatamente uma "época de ouro" da educação no Brasil. O mantra de que "no meu tempo a escola era melhor" é uma meia-verdade pois quem fala faz pensar que antigamente a escola não tinha problema, ou que esses problemas eram ínfimos.
Nunca estudei a fundo a história da educação no Brasil mas lembro que nessa determinada "época de ouro" a escola no Brasil era bem excludente. Haviam exames de admissão em colégios públicos (o que eliminava grande parte das crianças de 10,11,12 anos da vida escolar), altos índices de analfabetismo e uma quantidade irrisória da população terminava o 2º grau (ensino médio). Ou seja, a sala de aula podia até ser melhorzinha (há controvérsias) mas a sociedade pegava fogo ao redor dela.

A partir dos anos 1970 começa a expansão do ensino público no Brasil. Os governos militares, endividados com o FMI, cumpriam com as exigências do fundo quanto a escolarização simplesmente enchendo as salas de aula, precarizando as estruturas e ainda mais os salários dos professores. O que se configurou um desastre na prática era um sucesso em números, daí tome a divulgar estatísticas frias sobre educação que em nada condiziam com a realidade. 
Essa cultura de divulgar os feitos da educação apenas em indicadores frios e estéreis se enraizou. Presidentes, prefeitos e governadores usam de números, e apenas eles, para fingir que a educação vem dando certo.

Lutar por um objetivo cujo os efeitos não se verá a olhos nus, e que para ser percebido é necessário ter uma visão histórico-contextual, é uma tarefa ingrata. O povão gosta de obra feita, de viaduto construído mesmo que ele não tenha carro e que o transporte público seja uma porcaria, gosta de hospital feito mesmo que não tenha médicos ou remédios, quer polícia na rua mesmo que essa seja truculenta e abuse da autoridade (as vezes contra o próprio povão). Esse homo vulgaris é fruto de um país onde a educação é pífia e a concentração de poder e renda nas mãos de uma minoria é enorme. Percebe-se assim que esse homo vugaris tem seríssimas dificuldades em aprender aquilo que escape ao seu horizonte imediato.

Quem mais sofre com isso é a educação, pois o povo só a enxerga em sua praticidade imediata, não pelo legado que uma boa ou má educação escolar deixará para seus filhos e para a sociedade como um todo.  Desse modo se valoriza a letra bonita, o fardamento arrumado, os conhecimentos decorebas, o domínio das 4 operações básicas e, principalmente, a capacidade da escola em manter os meninos e meninas trancados e ocupados durante o dia. Os conteúdos, a pedagogia, a preparação para a vida são deixadas de  lado. 
Para o político basta cumprir com esses anseios imediatistas e a cama está feita. Daí nasceu uma mentalidade de que importante é manter o aluno dentro da escola não importando o que ele esteja fazendo por lá. Então tome aprovação automática, tome falta de livros didáticos, falta de equipamentos e salários baixos. Tome salas lotadas, tome direcionamento pedagógico ineficiente, e tome mais deseducação escolar.

Podemos resumir que o que aconteceu foi que tentou-se acentuar a democratização do ensino sem promover a estrutura e capacitação para tal.
De nada adianta democratizar o acesso a escola se não houver antes condições para que se dê aula. As políticas pedagógicas são permissivas demais aos alunos, dando-lhes liberdade e proteção excessivas; isso acaba potencializando os problemas sociais que explodem na escola, levando boa parte dos jovens ao desrespeito ao espaço escolar, ao desleixo com os estudos e para a violência verbal e física contra professores e funcionários da educação. Fora isso há escolas onde faltam até livros didáticos.

O que se vê no ensino público são tragédias existenciais sendo escritas. Não falo apenas daqueles que por falta de oportunidades, necessidades extremas e influencia de determinadas forças vão cair no crime e no consumo de drogas; esses casos são minorias ainda que isso não torne essa face do problema menos calamitosa.. Mas me refiro ao fato de que estão sendo forjadas gerações que serão incapazes de ler um único livro e interpretá-lo, que devido a má formação escolar estarão presas aos sub-empregos, aos trabalhos meramente braçais, que não terão condições de ascender socialmente pois lhes faltarão a amplitude de pensamento para construir uma atitude ousada visando o crescimento pessoal.

São essas gerações que devido a estreiteza de pensamento sofrerão as angústias de não encontrar uma palavra que traduza suas dúvidas existenciais e seus dilemas, que não saberão resolver os problemas de sua comunidade negociando em conjunto uns com os outros (a pouca escolarização dificulta muito a convivência com ideias e posturas diferentes). Provavelmente serão esses indivíduos que mais sofrerão com a violência doméstica, que se refugiarão no alcoolismo, ou cuja única forma de força esteja no fanatismo político ou religioso. 

O fracasso da educação pública está construindo a renovação do rol de vítimas dos políticos ficha-sujas, dos líderes religiosos picaretas, dos agiotas inescrupulosos, do traficante aliciador...

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

OS BLOGS DO BLOG

Deixo aqui minhas indicações de blogs que me inspiraram em maior ou menor grau a criar o Desacordo Moral Razoável, também indico outros blogs com estilos bem diferentes do meu, mas que gosto de acessar ou que tiveram seus momentos de glórias passadas.

ARAPUCAS LIBERTÁRIAS E LETRAS ELÉTRICAS

Escritos pelo mineiro José Geraldo Gouveia, um historiador e escritor que trabalha como bancário, são meus blogues preferidos, especialmente o Arapucas.
No Arapucas José Geraldo escreve com clareza e desenvoltura, além de algumas sacadas irônicas muito legais, sobre política, religião, atualidades, história e filosofia. Um blogue que foi elaborado na intenção de rebater o pensamento libertarianista (nova moda nas discussões 'políticas´ nas redes sociais, baseados em Ayn Rand e Mises), mas que vai muito além disso. A grande sacada dos textos do blogueiro no Arapucas são as constantes citações de acontecimentos históricos para sustentar o ponto de vista do blogueiro.
Realmente é muito bom.
Alguns bons textos:

A Psicologia e a Homossexualidade

A Crítica Anarcocapitalista ao Estado

  A Psiquiatria como Arma Política

No Letras Elétricas o foco é literatura, publicação de contos e crônicas originais e tradução de outros textos de literatura internacional que são pouco conhecidos por aqui.
Indicações:

Avós Rebeldes

Mais Compreensão do que Estudo…

O Sábio Louco e o Ignorante Vigoroso

Grãos de Areia na Praia


 Caótico
Outro blogaço, do jornalista, escritor e tricolor-coral Inácio França. É um blog mais centrado na literatura e no jornalismo, mas a literatura predomina. Há excelentes indicações de livros e os textos de Inácio são muito bons, simples, sem afetações, deixam o leitor com vontade de adquirir as publicações resenhadas. O blog conta com a participação de alguns colaboradores, em especial Samarone Lima (escritor do blog "Estuário" e parceiro de Inácio no sempre genial "Blog do Santinha", além de excelente escritor. Logo dois livros seus serão resenhados aqui no Desacordo).

Bons momentos:

Quando os farsantes falam a verdade

Minha vida

Pulphead

 

Bertone Sousa

 Escrito por um professor historiador da Universidade Federal do Tocantins, é um blog excelente por procurar ser embasado e equilibrado em suas postagens. Não há uma propaganda explícita de nenhum credo político. Percebe-se um certo esquerdismo em Bertone, mas ele é bem ponderado, sem afetações exageros ou desonestidades intelectuais. Há grandes virtudes no blog, as postagens sobre política e religião são muito boas e as discussões sobre História são excelentes. O único problema do blog talvez seja a navegação que se torna difícil as vezes.

Indicações:

 Olavo de Carvalho: um filósofo para racistas e idiotas

A confusão mental dos seguidores de Olavo de Carvalho 

Por que Marx ainda assusta os conservadores? 

Irracionalismos da direita brasileira 

A importância (e o perigo) das ciências sociais

 

Bule Voador

teve dias melhores. Era um blog que discutia ateismo e humanismo secular de forma contextualizada, com textos acadêmicos muito bons e artigos de primeira linha. Sempre trouxe grandes reflexões  de escritores consagrados. O problema do Bule é que de dois anos pra cá ele perdeu a mão, passou a centrar-se apenas na causa feminista e LGBTT, esquecendo as discussões sobre ateísmo, ceticismo e outros temas não relacionados a questão de gênero. Fora isso os textos tornaram-se chatos, pesados, sem algo novo pra mostrar. 
Atualmente a qualidade caiu muito, os grandes momentos estão em tempos passados:

O anti-intelectualismo num mundo em transformação

 

Slavoj Zizek: O ateísmo é um legado pelo qual vale a pena lutar.

 

O Brasil que lincha primeiro e pergunta depois 

 

O famigerado discurso ateofóbico de José Luiz Datena


 

 

 

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Nem mesmo uma leve sombra?

 
Carrego uma impressão(bem arbitrária, confesso) de que na disputa entre direita x esquerda a "direita" sempre existe a "esquerda" some em certos momentos, torna-se um mero arremedo de proposta política que de tão deformado torna-se impossível definir pelo que luta politicamente.
Acho que vivemos um momento assim no Brasil, todos os partidos grandes, com respaldo eleitoral, pendem para a direita, uns mais outros menos, mas pendem!
Quando vejo Lindberg Farias, ex-jovem-revolucionário-cara-pintada aliar-se ao Silas Malafaia para tentar vencer a eleição do Rio de Janeiro sinto que vivemos esse momento: a esquerda sumiu.
 Como a esquerda luta contra os "Status Quo" supõe-se que seja dela a missão de desafiar as elites, as oligarquias, de denunciar os mecanismos que camuflam a dominação exercida por certos grupos sobre o povo. Não é só uma questão de mera luta de classes, é uma questão de promover autonomia do povo. 
A maior das utopias é que um dia o mais reles cidadão tenha senso crítico suficiente para não se deixar manipular pela mídia, pelas igrejas "peque-e-pague", pelos sindicatos meramente cartoriais, pelos professores mal-intencionados. Ser de esquerda é querer que o mais simples porteiro, gari, marceneiro seja capaz de fazer os maiores representantes do poder teme-los, e esse temor não ser mero fruto de ódio irracional momentâneo, como nos protestos de junho/julho, mas seja fruto de um senso crítico presente nas massas, nos mais simples dos homens. Isso não se conquista meramente elegendo um partido ao poder. Não se conseguirá isso apelando aos mesmos que emburrecem e alienam, não da pra esperar da grande mídia, das igrejas, dos políticos profissionais, a solução dessas coisas pois ele se alimentam da alienação ululante.
Assim vivemos num momento que não temos esquerda. O importante é o poder e só, que se danem as reivindicações sociais. Qual oligarquia o PT desafiou? Qual grande mídia teve seus interesses feridos pela atuação do governo petista? Como os professores são tratados em estados aliados do governo? Onde o latifúndio foi confrontado? Onde o povo tornou-se real participante do poder? 
Para que se entenda como o caso de Lindberg Farias é simbólico no que se refere a ausência de esquerdas relevantes no país é só pensar em quem é o Silas Malafaia. Mais do que lembrar de que esse líder religioso é um personagem de ultra-direita, reacionário puro, que cospe ódio contra os movimentos LGBTT, contra os ateus e que nas últimas eleições rebaixou a discussão política a mera discussão moralista-religiosa (onde acusava vergonhosamente Dilma de ser ateia, abortista e onde execrou o nome de Marina Silva por ela se recusar a curvar-se diante de sua agenda intolerante, isso a beira de um 2º turno com a candidata do PV quase passando Serra), é preciso também ver quem é esse sujeito como pastor, como líder religioso.
Malafaia é um expert em enganar os fiéis com a sua pirotecnia teológica-gospel. Desceu ao nível da vigarice religiosa mais baixa possível com as suas famosas "unções financeiras de R$ 900" (valor módico, hein), seus "trizimos da casa própria", suas bíblias de "batalha espiritual e vitória financeira", ou ainda com a sua promoção baixa de pseudo-ciências e defesa da horrenda causa da "cura gay". Isso entre outros fatos pouco lisongeiros...
Fico a pensar: que esquerda é essa que busca apoio justamente daqueles que mais alienam o povo? O caso não é só o Malafaia, que antes era um inimigo declarado (na verdade ainda é inimigo declarado de Dilma e do PT, se não é no Rio de Janeiro é porque deve haver algum interesse talvez pouco republicano).
A direita brasileira sempre utilizou dessas táticas baixas de perversão do discurso político para desqualificar o PT eleitoralmente, o que era um sinal de sua clara crise, da ausência de propostas, do seu fracasso político. Em 2010, na campanha Dilma X Serra, o desespero da direita nacional a fez cair numa cruzada teocêntrica contra o PT, com deturpações, mentiras deslavadas (como o caso do "satanismo" de Michel Temer, ou de que Dilma era ateia e que "zombou de Deus), com aliança junto a Assembleia de Deus, CNBB, grupos reacionários católicos, demais igrejas pentecostais, todas em coro uníssono de que  Dilme e o PT eram o "partido do demônio" e "inimigo dos cristãos". O fato é que Dilma e principalmente o PT venceram esse mar de obscurantismo, não que isso limpe a ficha do Partido dos Trabalhadores, mas foi uma vitória histórica e heróica.
Hoje parece que o PT e seus aliados  mais tradicionais definharam de vez nesse mar de obscurantismo. Claro que as contradições já vinham de antes, com acordos espúrios para manter a frágil governabilidade, mas dessa vez o PT está escolhendo tornar-se um partido indefensável, está destratando seu legado de inclusão social, estabilidade, crescimento econômico e luta pela erradicação da miséria ao atrelar-se aqueles que lutam contra autonomia das pessoas.
 
 Indico também artigo do deputado Jean Willys sobre a pavorosa aliança Lindberg/Malafaia
 " A transparência do mal" por Jean Willys, na Carta Capital
Uma frase muito repetida e cuja autoria é atribuída a Confúcio – embora não se saiba ao certo se é mesmo dele – diz que “uma imagem vale mais que mil palavras”.  Ainda que existam palavras que mil imagens não consigam traduzir (“honestidade” é uma delas!),  trata-se de uma verdade válida para a maioria das imagens, inclusive para a fotografia de um culto evangélico que circula pelas redes sociais e que veio parar em minha caixa de e-mails no fim de semana.  Nesse flagrante fotográfico, o senador Lindberg Farias (PT-RJ) aparece “orando” ao lado do pastor e empresário Silas Malafaia: uma imagem que diz tanto quanto todas as palavras de O príncipe, de Maquiavel, ou Fausto, de Goethe.
Não é segredo para ninguém que o senador Lindberg Farias é pré-candidato do PT ao governo do Rio de Janeiro. E que sua pré-candidatura ameaça a aliança sempre conflituosa - sempre por se romper a qualquer interesse privado não atendido – entre seu partido e o PMDB, sigla que no momento não só governa o Rio, mas tem a vice-presidência da República, além de presidir as duas casas do Congresso Nacional.  O atual governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, mesmo sucumbindo a uma impopularidade sem precedentes, fruto de denúncias de corrupção em sua gestão, não quer a candidatura de “Lindinho” e pretende eleger seu vice, Pezão, a qualquer preço. Ameaçado pelo impacto negativo de sua pré-candidatura na aliança nacional entre PT e PMDB e sentindo que esse impacto se amplia na medida em que a parceria entre Marina Silva e Eduardo Campos emerge como a possível aposta da “grande mídia” para eleições do próximo ano, Lindberg decidiu pôr a alma à venda em busca de força para sua empreitada. Ora, se o fato de se pôr a alma à venda já suscita um debate sobre ética, imaginem quando a alma é oferecida a negociante que costuma pagar pouco e pedir mais que alma!
Todos sabem como Silas Malafaia se comportou nas eleições de 2010 em relação à então candidata do PT Dilma Rousseff. Em conluio com José Serra, candidato do PSDB, ele demonizou a petista e reduziu o debate eleitoral a uma agenda moralista - quase fascista – que obrigou os principais candidatos à presidência a se colocarem contra os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres e contra a cidadania plena de homossexuais. Não contente, nas eleições do ano passado, Malafaia tentou derrubar o candidato do PT à prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad, com a mesma estratégia de demonização e rebaixamento (aliás, o apoio do pastor ao candidato do PSDB me levou a sair em defesa de Haddad mesmo contra a vontade de meu partido).
A militância petista teve ânsias de vômito quando viu imagens de José Serra em cultos evangélicos, acompanhado de Malafaia, proferindo expressões cristãs – “A paz do senhor, irmão” – que, em sua boca, soavam tão naturais quanto um pacote de Tang. O que essa mesma militância estará dizendo de seu senador?
A foto de Lindberg orando ao lado de Malafaia me fez lembrar das lições de Roland Barthes na memorável A câmara clara, obra que li para a disciplina Fotografia quando cursava Jornalismo nos idos anos 90. Nela, Barthes elabora dois conceitos - Studium e Punctum  - para se referir a dois modos de envolvimento com a fotografia. O studium corresponde a uma “leitura” da fotografia por meio de critérios e objetivos definidos; uma espécie de crítica intelectual da imagem a partir de um repertório cultural. Posso dizer, então, tendo em vista o studium da foto em que o senador do PT aparece “orando” ao lado do pastor fundamentalista e boquirroto, que a mesma revela um “fenômeno extremo” da contemporaneidade: o abraço eivado de cinismo entre o marketing e a política.
A expressão “fenômenos extremos” é utilizada pelo filósofo francês Jean Baudrillard, em seu excelente A transparência do mal, para se referir aos episódios da atualidade que correspondem à substituição do real por “simulacros”. A foto da conversão de Lindberg não é só um “simulacro” do real mas, antes, uma simulação descarada. Nela, o mal – a mentira, a enganação, o oportunismo, a desonestidade intelectual, a venda da alma ao diabo - é transparente a quem quer que se preste a “ler” seu studium.
Já o punctum é, segundo Barthes, algo que, na imagem, toca-nos independentemente daquilo que, nela, vemos de imediato ou buscamos. Nas palavras do autor, o punctum é “um detalhe”; “são precisamente pontos”; “pequena mancha, pequeno corte” [na fotografia]. Trata-se de uma “leitura” não-intelectualizada da imagem; intuitiva; um ponto na foto para o qual o olho se dirige quase contra a vontade; um traço notado mesmo que tudo na foto chame mais atenção que ele. Varia de acordo com o leitor. Para mim, o punctum da foto de Lindberg “orando” ao lado de Malafaia é o riso mal-disfarçado de ambos. Ambos têm consciência de que estão enganando um eleitorado que não por acaso é chamado e tratado como “rebanho” pelo seu pastor. Esforçam-se para parecerem convincentes – e tudo na foto reforça a verossimilhança da cena, inclusive o nome “Jesus” ao fundo. Mas o punctum os desmascara e revela o riso da serpente.
 

domingo, 13 de outubro de 2013

"GUIA POLITICAMENTE INCORRETO DA FILOSOFIA" - Pondé tão mediocre quando a mediocridade que denuncia




Relutei em comprar o “Guia Politicamente Incorreto da Filosofia” de Luis Felipe Pondé pois vejo a olhos nus o estrago intelectual que o trabalho co-irmão desse (as três edições do “Guia Politicamente Incorreto da História” de Leandro Narloch) tem feito. 


Esses “guias” servem ao interesse imediatista do mundo atual. Vivemos uma época em que quem quer emagrecer compra um remédio milagroso no lugar de fazer dieta e malhar, e quem quer ter opinião sobre as coisas prefere se apegar a qualquer informação rápida e redentora, da qual já se alimenta simpatia de antemão, do que buscar conhecimento profundo.


Tais publicações servem para dar argumentos ao pensamento reacionário atual, a esses indivíduos de pensamento enviesado que só estudam aquilo que lhes agrade (isso quando estudam, claro) e que ficam dando piti quando precisam estudar sobre algum tema com o qual arbitrariamente não simpatizam (vide o caso do “garotodefensor de valores democráticos” que se recusou a estudar Marx na faculdade e defendeu “democraticamente” o banimento do marxismo).  Tenta-se buscar na história legitimação para os ideais mais reacionários, para as maiores desonestidades intelectuais; lógico que para isso é preciso se apegar a fontes obscuras, fazer uma leitura descontextualizada dos fatos e, claro, disposição desavergonhada em mentir. Assim encontra-se nessas publicações afirmações que o nazismo era de “esquerda” porque o partido se chamava “Nacional-Socialista Alemão”, só para ficar em um exemplo da desonestidade argumentativa desses indivíduos.


Movido por essa desconfiança fiquei temeroso em comprar o livro de Luis Felipe Pondé, mas a curiosidade foi maior e comprei-o. Minhas expectativas milagrosamente...     se confirmaram! O livro é um tratado de reacionarismo, de defesa de ideais antidemocráticos, preconceito social, machismo e desleixo e desrespeito contra tudo aquilo que se mostra contrário ao ponto de vista do autor. Claro que Pondé também cometerá acertos no livro, mas eles são em ampla minoria.


Pondé tem estilo, escreve com clareza, desenvoltura e sem rebuscamentos, mas logo nas primeiras páginas já mostra um traço comum nos autores desses “guias”: o ataque a quem pensa diferente, a desqualificação a quem discorda dele. Assim chovem adjetivos como “preguiçoso”, “medíocre”, “covarde” contra seus antagonistas.

Como sabe que em tempos de governo de esquerda falar que é de direita dá muito audiência, Pondé radicaliza e logo nas primeiras páginas sai com tiradas ácidas  contra a democracia e em favor de um pensamento aristocrático. Para Pondé o homo vulgaris, a massa inculta, não sabe sobre o que se debate de fato em uma democracia (isso é verdade) e por isso acaba por dobrar as decisões políticas à sua vontade ignorante. Apesar de haver alguma substância de verdade nas falas de Pondé sobre isso, percebe-se na verdade um grande recalque por parte dele, talvez com o momento político e social vivido pelo Brasil, onde a “pobretada inculta” vive com mais dignidade e freqüenta alguns espaços que antes lhes eram inacessíveis. A mentalidade reacinha de Pondé aparece logo aí; pra ele pobre tem mais é que chafurdar na pobreza, andar de cabeça baixa, e pronto.


“Costumo dizer que aeroportos e os aviões, além de todos os lugares do mundo, viraram um grande churrasco na lage” (pág 17)


 “Quando se acentua a igualdade na democracia, amplia-se a mediocridade” (pág 50)


O grande inimigo listado por Pondé no livro é o pensamento do “Politicamente Correto”, que segundo ele é uma praga que vive a castrar a liberdade de pensamente e que é desonesto intelectualmente. A maior expressão do politicamente correto, segundo Pondé, é a “Teoria de gênero” e sua idéia de que a sexualidade é algo construído socialmente. A crítica de dele ao feminismo é ácida e mal educada, apelando para um processo de desqualificação das feministas enquanto pessoas. Isso demonstra o quanto o “filosofo” foi cirúrgico na escolha das palavras e qual o público que busca atingir. Os reacinhas de plantão são figuras que se sentem superiores e adoram xingar seus adversários ideológicos, em muito por falta de argumentos (é praticamente impossível um debate decente e civilizado com um reaça moderno). Por isso Pondé carrega na desqualificação covarde contra as feministas, ainda que certas críticas suas ao feminismo estejam corretas, se não xingar o reaça politicamente incorreto não compra o livro (Lobão, Olavo de Carvalho, Reinaldo Azevedo são provas disso):


“feministas, normalmente, são azedas porque são feias” (pág 80)


Mas a parte que considerei mais ofensiva foram as reflexões sobre educação. Para Pondé a maioria esmagadora dos professores escolhem essa carreira porque são medíocres. Mas concordo que algumas coisas que ele fala sobre a classe de professores são reais para uma boa parte deles: que poucos tem apreço pela leitura e o estudo, que poucos valorizam a erudição e a polidez, que consomem lixo cultural desavergonhadamente (numa clara contradição com a sua posição de alguém que deveria querer elevar o nível cultural e intelectual do aluno), etc.


O problema dessa parte é que Pondé coloca quase todos no mesmo saco, mas coloca-se como exceção, claro, afinal ele é um “iluminado aristocrata-intelectual”. Vergonhosamente desqualifica as ciências humanas dizendo que nada de bom surge delas. É o lado mais asqueroso do livro porque o ódio as ciências humanas é a face mais estúpida do reacionarismo. Os conservadores-reacionários detestam as ciências humanas pois elas desafiam o senso comum, contestam a estabilidade social aparente, e Pondé, um filósofo, as desqualifica abertamente. Esse sentimento de ódio aos intelectuais me lembra muito o sentimento do nazismo contra os intelectuais, especialmente das ciências humanas, expresso na frase de Gobbles: " QUANDO EU OUÇO FALAR EM CULTURA EU PUXO O REVÓLVER".


“Na maioria dos casos, professores de universidade (ou não) são pessoas que, além de não gostar dos alunos, têm uma inteligência mediana e foram, quando jovens, alunos medíocres, que fizeram ciências humanas porque sempre foi fácil entrar na faculdade em cursos de ciências humanas” (pág 97)

“As ciências duras ainda podem entregar remédios e ‘robots’, as ciências humanas não tem nada para entregar” (pág 101)


O desprezo a intelectualidade é a marca do estúpido politicamente incorreto, além da grande admissão de burrice que é apelar para um ataque tão vil. Esse deboche do Pondé quanto a seus pares mostra outra característica do novo imbecil reacinha: ele se acha especial. Pensa que não há necessidade de aprender na escola, de ouvir o contraditório, de estudar. Sentem-se especiais a ponto das conjecturas que eles elaboram dentro da sua ignorância serem maiores do que conhecimento científico amplo, assim só valem pra eles filósofos, sociólogos e historiadores que estejam de acordo com seu ponto de vista desenvolvido arbitrariamente.

Mas admito que fiquei feliz ao ler esse trecho quando lembrei dos meus amigos reacinhas que infestam cursos de Filosofia, Letras e História. Fico a pensar o que eles acham de um de seus ídolos o chamarem de medíocres. (Fina ironia, hehehehe)


Pondé caminha pela mesma estrada de gente como Olavo de Carvalho e Reinaldo Azevedo, Lobão, que vestem de estilo as ideias mais estúpidas (restrição da participação popular na democracia, desprezo pela educação escolar, deboche contra professores e intelectuais das ciências humanas, machismo).

Sinto-me mal em ter dado 40 reais para essa turma do politicamente incorreto, em financiar essa gente que se arroga de professor, filósofo, historiador e jornalista para difundir preconceito e apologia a ignorância e estupidez. Se algum reaça quiser me comprar o livro pelos mesmo 40 reais eu vendo na hora, mas aviso que vou usar a grana para comprar algum livro que realmente preste.



Um texto que desnuda o estilo de argumentação de Pondé e seus congêneres