sexta-feira, 8 de março de 2013

O que penso sobre a morte de um jovem de 20 anos em Santa Cruz do Capibaribe

Pensei em ler algo, ouvir uma música, dedicar um tempo para a minha esposa...
Simplesmente não consigo fazer isso hoje
O assassinato de Áttila Souza simplemente acabou com minha noite
Me perco em vários pensamentos...
Todos de um enorme desamparo
É horrível sentir-se impotente, imaginar-se no lugar dos parentes dele

Pensar que se houvesse uma segurança decente nessa cidade, que importunasse bandidos e não o cidadão, talvez isso não tivesse acontecido.

Vou dormir me sentido derrotado... uma derrota que se tornou a cara dessa cidade.
Isso não é dos últimos dias, já é assim faz muitos anos.

Em 1999 fui assaltado, eu tinha 15 anos de idade.
Um dos bandidos, insastifeito por eu nada carregar de valor, encostou o cano frio da arma na minha cabeça... o comparsa dele pediu que ele não disparasse e ele desistiu
Fui salvo por um outro bandido...

Fina ironia...

É isso que me vem a mente agora; que um dia fui salvo da morte por um bandido, que num surto de misericórdia convenceu o comparsa a me poupar

Tenho 29 anos hoje, e as coisas continuam do mesmo jeito.
Só que hoje não houve nenhuma misericórdia daqueles que assaltaram Áttila

Também não há misericórdia daqueles que são responsáveis pela segurança. Daqueles que adoram armas, mas não protegem ninguém.Daqueles que são eleitos, no município, no estado e no país.

Pensar na segurança do homem comum significa tirar as pessoas da zona de conforto, incomodar gente graúda que prefere aumentar o muro da própria casa a pagar um imposto a mais. Que acha que pobre é tudo bandido, e que uma boa cidade se faz apenas trazendo dinheiro e riqueza para alguns.

Em Santa Cruz do Capibaribe, desde que me entendo por gente, a evasão escolar é enome, ninguém valoriza o estudo, o conhecimento. O importante é hostentar bens e símbolos de riqueza, mesmo que a prosperidade da cidade sirva de máscara para o desastre social que é Santa Cruz.

Santa Cruz onde as pessoas reclamam dos buracos nas ruas que atrapalham o passeio de carro, mas não reclamam de crianças trabalhando, da falta de escolas, e, principalemente, da falta de um poder público que seja pensado no cidadão comum.

Nossa cidade pensa nas empresas, nas obras que elegem políticos (mesmo com alguns comprovadamente corruptos), que se empenha nas rodadas de negócios. Pensa em aparecer nas festas da alta sociedade e onde se paga alguns milhares de reais para ser capa da revista que exalta a mesquinharia da burguesia medonha da cidade.

Santa Cruz só não pensa no cidadão comum

Não são apenas os políticos, não são os empresários, não somente "os outros"

Somos nós, que aceitamos um ideal de grandeza (que em parte é verdadeiro e em outro não), para esquecer o desastre que é essa cidade enquanto comunidade.

É só isso que tenho pra dizer.

Aqueles que não concordarem não se importem em responder a isso que eu escreví. Não me importo com o que vocês pensam, afinal, que teve compaixão por mim, um cidadão comum, foi um bandido numa noite de domingo em 1999

2 comentários:

  1. "Não me importo com o que vocês pensam, afinal, que teve compaixão por mim, um cidadão comum, foi um bandido numa noite de domingo em 1999."

    Texto excepcional !

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  2. Gostei do texto. Parabéns e que, se não muitas, mas algumas pessoas possam pensar com mais clareza sobre nossa realidade, a partir de suas palavras.
    "Eu me sinto um estrangeiro, passageiro de algum trem que não passa por aqui, que não passa de ilusão" (A revolta dos dandis - Engenheiros do Hawaii)

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