quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

A dieta do palhaço - Será que somos aquilo que comemos?

 

Quando as leis de mercado são o único moderador de um segmento dá pra sentir que não existe moderação nenhuma. Quando as empresas podem praticar uma concorrência sem nenhuma regra que exija delas responsabilidade logo o desastre vai cair em quem consome.
Os EUA são a população mais gorda do mundo. a obesidade é a segunda maior causa mortis evitável do país perdendo apenas para o cigarro. Isso num país onde não há sistema de saúde pública, então adoecer pode ser a porta de entrada para a ruína financeira. Morgan Spurlock discute as causas da epidemia de obesidade que atinge os EUA e que é tendência mundial. Os métodos de Spurlock são bem  pouco ortodoxos: ele resolve transformar a si próprio numa cobaia viva que passa 30 dias se alimentado apenas de lanche do Mcdonalds (viveu na prática o sonho de qualquer criança de 9 anos). Os efeitos na sua saúde são devastadores.
As regras da experiência:
  • Deve plenamente comer em McDonald's três comidas por dia
  • Deverá escolher cada item no menu do McDonald's ao menos uma vez durante o transcurso dos 30 dias (fez em nove dias)
  • Deve ingerir só os itens do menu. Isto inclui a água engarrafada.
  • Deve escolher o tamanho "Super Size" de sua comida sempre que lhe for oferecido.
  • Deve aceitar todas as promoções oferecidas para que ele compre mais comida que a intencionada inicialmente.
  • Terá de caminhar a média que se caminha nos Estados Unidos, sobre a cifra de 5000 passos ao dia, porém isto não era rígido, já que ele caminhou relativamente mais, em comparação do que se caminha em Nova York que em Houston.
Mais do que ser uma experiência radical, quase um suicídio em longo prazo, o documentário discute como a falta de leis que regulem as empresas e a ausência de alguma agência reguladora governamental transforma o consumidor na maior vítima do processo.  As empresas bombardeiam o consumidor com toneladas de propagandas se aproveitando da ausência do Estado como regulador; a inexistência de um sistema público de saúde tira do governo dos EUA a responsabilidade em promover hábitos de vida saudáveis aos estadunidenses. Como conseqüência a população vai ficando cada vez mais gorda e alimentando a sanha devoradora do sistema de saúde privado dos EUA.
As crianças são o principal alvo das empresas de fast-food, o poder viciante destes alimentos (comprovados durante o documentário) faz dos infantes as maiores vítimas e garantia de um público futuro que será ávido consumidor destas porcarias industrializadas.
O documentário é muito bom principalmente devido a experiência bizarra ao qual Morgan se submete. Em 30 dias consome o que uma pessoa deveria consumir de fast-food em 8 anos e os efeitos na saúde são devastadores: a vida sexual é nula, Morgan vive em depressão constante, o fígado quase para de funcionar e seus músculos literalmente viram gordura.
Morgan usa técnicas de edição e de entrevista muito parecidas com a de Michael Moore, mas consegue não alimentar o mesmo ódio pelo adversário o que torna as entrevistas e depoimentos mais sóbrios.
O documentário de Spurlock é genial pela originalidade do tema e do roteiro. O filme é um belo retrato de como deixar o consumidor diante da força de propaganda das grandes corporações é um desastre anunciado. A força de coerção das grandes empresas chega a ser constrangedora, nos EUA as empresas de fast-food controlam até o fornecimento de lanches para as escolas públicas, o que vai garantir gerações futuras consumidoras destes produtos e cada vez mais obesas.
O filme também é pródigo em mostrar como essa conversa de que a “culpa não é de quem vende e sim de quem consome” não passa de balela, um engodo desleal e covarde. Não há como um cidadão médio elaborar uma opinião consistente se deve ou não consumir um produto quando a única fonte de informação é a sedutora propaganda. Não há sequer como ele próprio estabelecer, por suas próprias idéias, um limite seguro para o consumo de qualquer produto se não for informado a ele os riscos de um consumo excessivo. Pode parecer que estou considerando todas as pessoas como ingênuas e influenciáveis, mas acho que é justamente isso o que acontece. As pessoas são entupidas de informações distorcidas e  propagandas sedutoras sem ter um mínimo referencial que faça um contraditório a essa avalanche promovida pelas grandes corporações.
Esse consumo irracional, fundamentado em toneladas de propaganda e na ausência de regulamentação governamental que exija responsabilidade de quem vende, não ocorre apenas sobre nas redes de fast-food. Basta ver como as redes de TV odeiam qualquer tipo de regulação da mídia, qualquer tentativa de adequar a grade de programação a um padrão ético é imediatamente tratada como “censura” pela opinião pública.
Vender porcaria é a especialidade das grandes corporações, sejam do ramo de alimetos, informação, entretenimento, etc. e está cada vez mais difícil achar um concorrente de qualidade contra elas.
E, se o governo e a justiça dos EUA se fingem de morto diante das redes de fast-food, no Brasil o governo perde a quebra de braço na luta para atribuir responsabilidade às grandes redes de comunicação.
Voltando ao documentário: é muito bom e consegue dar bons toques de humor num tema sério  Nota 9,0
Se aguentar a espera assita aqui o documentário completo
 

Se preferir assista apenas o trailler 


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