domingo, 22 de janeiro de 2012

Quem será o cavaleiro da barbárie contra Obama?

                      

Sou viciado na política americana, acho que todo o processo de escolha de um candidato a presidente algo muito interessante. Esse esquema das prévias eleitorais em cada Estado é muito prodigioso pois força os candidatos a aparecer e buscar apoio dos filiados do partido para ser o candidato a presidente. Aqui no Brasil é a cúpula dos partidões que decidem os candidatos a presidência, nenhuma corrente política é consultada, o PT e PSDB são exemplos disso.
Antes de discorrer sobre o que acho que vai acontecer nas eleições dos EUA é preciso entender algumas coisas sobre os EUA e seu povo. Os EUA são a vanguarda tecnológica e científica do mundo, tem a economia mais forte e a democracia mais sólida, mas isso não é exatamente mérito do povo estadunidense. Os EUA são um país educacionalmente fraco, onde apenas sendo alguém muito endinheirado para ter um curso superior numa faculdade de respeito, ou sendo um gênio para conseguir bolsas de estudo. As grandes faculdades dos EUA, ao contrário do Brasil, são privadas e um filho da classe média que consiga uma vaga nessas universidades é forçado a adquirir um empréstimo estudantil em bancos privados e que provavelmente o manterá endividado por anos.
Nesse contexto o cidadão médio dos EUA não enxerga no conhecimento uma possibilidade de ascensão social, prefere trabalhar duro para conseguir realizar o “sonho americano”. Daí se forja populações inteiras que literalmente desprezam o conhecimento e passam a ver a polidez e a intelectualidade como arrogância. Esse vácuo educacional que assola a população faz com que as bases sociais sejam bem menos racionais do que aquilo que a propaganda cultural estadunidense mostra ao mundo. A religiosidade calvinista não encontrou durante muitos anos nenhum contra poder na construção do imaginário social dos EUA e isso trouxe suas conseqüências boas e más: de um lado criou uma população super competitiva e que enxerga a riqueza como sinal da salvação espiritual, o que faz o indivíduo muito predisposto ao trabalho; por outro lado a população dos EUA desenvolveu um individualimo extremo, uma insensibilidade social grotesca e, devido a esse excesso de religiosidade aliada ao déficit educacional, um analfabetismo científico e intelectual que atinge a maioria esmagadora da população. (basta notar que na cultura dos EUA há uma exaltação do ignorante brutamontes que é bom nos esportes e nas lutas enquanto o intelectual é mostrado de maneira vexatória.). Outra característica dos EUA é também o partidarismo exagerado, especialmente do partido mais conservador, o Republicano.
[Nota: acabei de perceber  como a formação cultural dos EUA é bem parecida com a de Santa Cruz do Capibaribe. Com exceção da influência calvinista, Santa cruz parece um microcosmo do que acontece nos EUA)
Esse americano comum é chamado de John Doe (algo como “João Ninguém”), cineasta e escritor Michael Moore chama com muita propriedade essa figura de “Stupid White Man” (Homem branco estúpido). É esse o eleitorado de classe média, muito religioso e conservador e com pouca escolaridade que é a base eleitoral do Partido Republicano dos EUA, justamente o partido que mais venceu eleições e que hoje faz oposição ao presidente Obama que é do Partido Democrata.
O sistema de prévias dos EUA mostra bem como o eleitorado do país é um tanto ignorante e passa, sem aviso prévio, do estado de irredutibilidade ao de ser facilmente manipulável, o que caracteriza dois extremos perigosos. Os atuais postulantes a candidatura representam bem essa marca do eleitorado. É engraçado como as propostas do candidato se mostram  insignificantes para o eleitor diante da imagem que o político passa, a escolha parece ser mais intuitiva onde o eleitor, incapaz de entender propostas sérias, busca um perfil que lhe pareça mais adequado ao momento, conteúdo fica em segundo plano.
Neste pleito atual o candidato mais moderado dos Republicanos é Mitt Romney, um empresário bem sucedido e de posições menos radicais do que o habitual para seu partido, mas é visto com desconfiança por ser mórmon (só John Kennedy conseguiu chegar a presidência dos EUA não sendo protestante declarado, era católico), além disso é conhecido por aumentar impostos quando era governador de Massachusetts o que o afasta do eleitor republicano comum. Justamente por ser moderado é capaz de trazer o eleitorado independente, que é mais simpático ao Partido Democrata, mas sua moderação desanima os velhotes do partido.
   
Mitt Romney                                         Newt Gringrich                                     Rick Santorum
Outra alternativa é o desastroso Newt Gingrich , vencedor das últimas prévias. Gringrich é católico mas é bem conservador. Ex-deputado atuante é um ídolo para segmentos do partido. Mas é um desastre em público: temperamental e cheio de escândalos conjugais ele espanta o eleitorado evangélico radical que exige total retidão moral de seus candidatos. Para agradar esse público Gringrich se apresenta em eventos religiosos como um “pecador arrependido”, num truque de marketing muito eficiente num pais protestante como os EUA.
O outro candidato é Rick Santorum, uma aberração política brutal. Vencedor das primeiras prévias do partido é um ídolo da direita evangélica, defende a manutenção dos exorbitantes gastos militares (que ferraram com a economia do país). Suas posições religiosas ao muito acentuadas, ponto de dizer que não acha prudente uma mulher ser presidente pois isso não seria vontade de Deus (leia sobre isso aqui [em inglês]).
O Obama corre o risco de perder a reeleição por ter errado na recuperação econômica dos EUA ao tentar salvar os bancos privados no lugar de incentivar a produção e gerar empregos, uma postura que é clássica do Partido Republicano, justamente seus opositores. Ao não se dispor a fazer um novo New Deal Obama deixou de ser visto como uma esperança e passou a ser visto como parte do problema. Na famosa crise de 1929 a saída foi colocar dinheiro na mão dos trabalhadores, já Obama preferiu dar dinheiro aos causadores da crise (os bancos) em vez de ajudar suas vítimas. Mas o atual governo dos EUA fez reformas importantes que com certeza serão eliminadas caso Obama não se reeleja. A criação de um sistema de saúde gratuito nos EUA é uma posição revolucionária e que desperta um ódio irracional dos Republicanos já que eles são defensores do estado mínimo. Ou ainda a proposta de aumento de impostos aos mais ricos, que é excelente pois cobra mais de quem mais pode pagar e deixa mais dinheiro na mão do consumidor comum, mas que vem sendo vetada pelos Republicanos. Nos EUA os ricos pagam proporcionalmente bem menos impostos que a classe média e os pobres.
Meu palpite é que se o candidato for Mitt Romney o Obama estará em péssimos lençóis, pois a campanha de seu adversário será demolidora, com muito dinheiro investido e com o fato de Romney ter uma vida pessoal irrepreensível. Restaria a Obama apelar para o preconceito religioso da direita evangélica contra os mórmons, o que não faz o estilo dele nem de seu partido.
Se os candidatos forem Rick Santorum ou Newt Gringrich acho que o Barack Obama ganha sem precisar sair de casa. Santorum restringe o eleitorado a apenas a direita radical evangélica, assustando moderados e independentes, já Gringrich tem tantos escândalos conjugais e pessoais que será facilmente ofuscado pelas polêmicas, além de ser temperamental ao extremo o que o faz  um grande falador de bobagens comprometedoras.
Por via das dúvidas o Obama tem é que melhorar a economia dos EUA  rapidamente pois se o candidato for Romney ele vai sofrer um bocado e eu duvido que ele ganhe. Se o partido Republicano voltar ao poder nos EUA os avanços de Obama (criação de um sistema de saúde, impostos maiores aos ricos e diminuição dos gastos militares) serão todos revogados e um desastre social e político nos EUA, e talvez no mundo, estará a caminho.

Nenhum comentário:

Postar um comentário