sexta-feira, 5 de julho de 2013

Manifesto contraditório e grandioso de Lobão


Muito boa a leitura de "Manifesto do nada na Terra do Nunca" de Lobão, ele consegue ir da genialidade para a insensatez numa única página e é nisso que está a grande virtude do livro. Os acertos e erros do livro são grandiloquentes e interessantíssimos

Faz críticas contundentes e coerentes ao discurso de esquerda no Brasil, denuncia as contradições do governo petista e explicita qual o lado negativo do discurso petista para o imaginário do povo brasileiro. Lobão é primoroso em definir a "patrulha ideológica" promovida por professores, secundários ou universitários, e intelectuais de esquerda sobre expressões artísticas e políticas que não lhes sejam amigáveis.
Mostra também o vício da esquerda em culpar sempre "os outros" por seus erros e contradições e como o pensamento enviesado faz com que intelectuais e militantes tentem justificar, a partir da ideologia, os desmandos e casos de corrupção do governo.

Por outro lado Lobão cai no discurso imbecil e alarmista de que o Brasil está a beira de um golpe militar de esquerda, que o PT trama secretamente com Cuba um projeto continental de comunismo (engraçado como Lobão e os demais trogloditas metidos a intelectuais de direita atribuem poder e força a um país pequeno e pobre e que, segundo eles, é um exemplo do atraso). Afirma, ainda que pelas entrelinhas, que a ditadura militar no Brasil foi algo positivo e é desrespeitoso com a memória das vítimas de tortura. Engraçado também que ele não lembre que membros da oposição ao atual governo também se embrenharam na luta contra a ditadura militar.
 Ao falar sobre a ditadura Lobão comete erros de interpretação e anacronismos que visam claramente culpar a esquerda pelo golpe, num tradicional exercício de desonestidade intelectual-histórica muito comum aos "polemistas conservadores de facebook" (Um exemplo é quando diz que os grupos guerrilheiros estavam na ativa desde o governo João Goulart, quando na verdade surgiram efetivamente após a implantação ditadura).
O equívocos de Lobão em algumas partes do seu texto pode ser explicado pelas leituras que embasaram o livro, como descrita nas referencias bibliográficas: Chovem livros de idiotas reacionários como Olavo de Carvalho, Reinaldo Azevedo e publicações do Instituto Mises (a maior palhaçada pseudo-intelectual destes tempos de internet).

Mas apesar de tudo as temáticas sobre política no livro são muito agradáveis de ler. Lobão tem estilo e consegue arrancar boas risadas ao intercalar suas ideias com casos vivenciados por ele. O relato de quando, sem querer, chamou Eduardo Suplicy "babaca" num showmício em 1992 é simplesmente hilário. As narrativas de como caiu no colo do PCB nas eleições de 1989 e como pediu votos pra Lula naquele 2º turno também são ótimas.

No campo da crítica cultural Lobão consegue ser exato e excelente na maioria de suas palavras, o capítulo em que analisa o que é o fenômeno do "sertanejo universitário" é outro dos pontos altos do livro. Ao criticar a MPB (cujo popular só tem o nome) e a estética pouco ousada do rock nacional, Lobão é também excelente.

No fim das contas é praticamente impossível lançar um "não gostei" no livro do Lobão. As contradições e as opiniões equivocadas (ao meu ver, lógico) só dão mais graça a leitura do livro e fazem pensar realmente. 
Outro ponto perceptível em "Manifesto do nada..." é que ele está claramente um degrau acima em comparação com livros escritos com outros pensadores antagonistas ao governo do PT; o livro não tem, apesar de alguns recorrentes espasmos de radicalismo, a mesma linguagem raivosa de panacas como Diogo Mainardi ou Reinaldo Azevedo, por exemplo (os títulos de alguns livros dos dois como: "O nome da minha anta é Lula" ou "No país dos Petralhas" já servem de indicativos que são pródigos em ódio e ralos em conteúdo).

Lobão é um polemista de respeito, merece ser lido e discutido e fez um livro denso que não é muito indicado para leitores inexperientes.

Vale a leitura.



Post dedicado a Janielson Santos e Bill Coutinho, pelo interesse demonstrado no blog, e a Pablo Ricardo que testemunhou minha epopeia em comprar e ler esse livro 

Atualização em 22 de Abril de 2015

Me arrependo seriamente de ter escrito que o Lobão é um polemista de respeito. Se mostrou um surtado, presunçoso e delirante. O livro continua tendo suas virtudes mas me parece que serviu apenas de trampolim para que Lobão tivesse plateia para dizer suas insanidades.
Alias a bela arregada que o Lobão deu pro Mano Brown mostra que ele é só um garotinho de 50 e poucos anos que na hora da irritação fala sem pensar e depois não aguenta a rebordosa.

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