quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Terrorismo eleitoral e indignação seletiva

Quando a candidata do momento recuou em seus posicionamentos depois de 4 tweets de um líder religioso e isso lhe é jogado na cara é, na cabeça de alguns, terrorismo eleitoral. Quando a mesma candidata falava em “independência do Banco Central” e essa ideia era combatida foi, também, terrorismo. Quando ela flertou com os ruralistas e disse que ia flexibilizar a definição de trabalho escravo, terrorista é quem se revolta.
Se Arnaldo Jabor faz uma crônica ensandecida profetizando um desastre com a vitória de Dilma ele não é terrorista eleitoral, “está apenas mostrando um lado das coisas que os petistas querem esconder”. 

Quando Armínio Fraga diz que os salários estão altos demais, terrorista é quem discorda e combate essa idéia. Quando o mesmo Armínio Fraga, já declarado Ministro da Fazenda de um eventual governo de Aécio Neves, sinaliza com a diminuição da participação dos bancos públicos na economia (indício de inclinação neoliberal) quem não acha uma boa idéia é chamado de terrorista eleitoral.

Gente como Rodrigo Constantino, Reinaldo Azevedo, Olavo de Carvalho, Lobão e congêneres falam de um delirante “golpe comunista” de “bolivarianismo no Brasil”, “médicos cubanos são guerrilheiros”, eles não estão criando terrorismo eleitoral, pela mente de alguns terrorista é quem se opõe a essa gente.

Pesquisas de institutos obscuros divulgam resultados pró-Aécio com dados irreais e claramente direcionados, trata-se como se nada tivesse acontecido ou como um pecadilho menor dessas eleições.

Quando se rememora os erros do governo FHC do PSDB, e que tanto o partido como o seu candidato atual nunca admitiram ou renegaram, isso é chamado de “terror”, mas falar do atual governo pode né?
Se revistas semanais e jornalistas televisivos em suas sabatinas tratam os adversários da presidenta com reverência, só faltando chamar de “majestade”, enquanto são incisivos e agressivos com Dilma, não há nada demais.

Ao fim das eleições no 1º turno manifestações xenófobas explodem em revolta contra a popularidade de Dilma e Lula no Nordeste, igual a 2010, e terrorista é quem reclama do silêncio do candidato Aécio Neves, que sequer se manifestou abertamente sobre o assunto preferindo no lugar de uma fala enérgica contra essas pessoas, colocar em seu site um comunicado estéril de seu advogado de campanha que protocolou um pedido de investigação.
Depois diz que o PT que quer “jogar o norte contra o sul” mas se livrar dos dividendos políticos do ódio ninguém quer.

Isso entre outras centenas de fatos que eu poderia citar aqui

Claro que Dilma também caiu na tentação de algumas falas exageradas contra seus adversários, por exemplo a de que o Bolsa Família terminará caso ela perca as eleições, (apelação bizarríssima).
Mas o que quero chamar a atenção é a indignação seletiva dos caçadores de terrorismo eleitoral. Contra o governo tudo vale, contra Marina e agora contra Aécio é baixaria e terrorismo.

É normal que todos tenham opiniões diferentes sobre como resolver os problemas do Brasil, mas o voto "do contra", simplesmente pra tirar Dilma do poder não é um voto inteligente. Quando vejo alguém dizer jargões como "fora PT", "fora Dilma" sem carregar nenhuma ideia por trás, assumidamente votando em qualquer um apenas para "tirar o PT do poder", fico temeroso sobre o sentimento real que envolve o posicionamento dessas pessoas. Pra elas pouco importam as políticas dos adversários sobre emprego, educação, moradia, saúde, o que importa é renegar os avanços conseguidos nos últimos 12 anos e dizer que o Brasil está um caos.

Não temem arriscar as conquistas dos últimos anos não por acreditar em um projeto inovador e corajoso, Aécio não representa isso em nada. Querem apenas tirar do poder um partido que detestam após anos de pregação radical e intensa por parte de jornalistas de extrema direita, filósofos picaretas e de líderes religiosos ultraconservadores e antissecularistas que usam suas críticas o governo como bode expiatório para disfarçar o mercantilismo da fé que praticam.
 É para se temer quando o que se propõe é apenas destruição sem ter a mínima visão sobre o que virá depois.

Lógico que não são todos os eleitores de Aécio que pensam assim, conheço vários que o apoiam com domínio de causa, mas infelizmente é esse sentimento que permeia essa onda anti-PT que poderá dar a vitória ao candidato do PSDB.

Mas mesmo remando contra a maré eu continuo na luta. A única batalha que se perde é aquela que se abandona.