segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Mea Culpa


Sobre o texto anterior fui justamente repreendido por alguns amigos por ter usados termos fortes e mal-educados. Peço desculpas, muitas desculpas. Quem acompanha esse blog sabe que em várias postagens critiquei aqueles que apelam ao insulto e a ridicularização de seu opositor. (aqui e aqui) e quem me conhece sabe o quanto repudio essas coisas. Peço desculpas aos amigos leitores desse blogue por tê-los feito ler um texto dotado de tamanha má-educação, isso foi fruto do calor do momento (uma das propostas do blog é postar os textos em estado bruto, o que explica alguns recorrentes erros gramaticais). Sei que poderia ter escolhido melhor as palavras para me expressar.

No mais, eu mantenho tudo o que falei.

domingo, 8 de dezembro de 2013

Mandela morreu. O respeito pela história também.



Tá faltando pouco, muito pouco, para os reaças de facebook fãs de Olavo de Carvalho começarem a dizer que o nazismo teve lá suas vantagens (ops!! O Olavo já insinuou isso). A morte de Nelson Mandela deu mostras de que essa turma não tem a menor noção do que diz. São movidos por um ódio tão irracional que sequer tentam disfarçar a sua mentalidade racista, machista, homofóbica e eugênica.
.
Um dos carros-chefe desses imbecis engajados é a página de facebook “Meu professor de História mentiu pra mim” que conta até esse momento com 59 mil seguidores (inclusive gente que um dia cheguei a achar que era inteligente e intelectualmente honesta. Ledo engano). Após o falecimento de Mandela eles postaram essa canalhice a seguir:

Primeiro cabe aqui uma refutação ao relincho argumentativo presente na imagem. Mandela lutou contra um regime político que estabeleceu a partir de 1948 uma brutal segregação racial. No rol de realizações deste regime estão a proibição de casamentos interraciais (1949), criação de espaços exclusivos para brancos e criação de um sistema de educação diferenciado que levava os negros a serem educados apenas para exercerem trabalhos braçais (1953);  tomou terras dos negros e forçou-lhes remoções forçadas. 
Placa delimitando o uso da praia exclusivamente para brancos na África do Sul
Para os direitosos errado estava ele Mandela em resistir ao Apertheid 
Daí passam a acusar Mandela de “terrorismo” (palavra que os reaças adoram) por liderar um grupo guerrilheiro que lutava contra esse regime. Talvez esses imbecis achem Mandela e os negros deveriam ter aceitado quietinhos a dominação branca e esperar pela “divina providência”. O fato é que diante de um regime violento e segregacionista não se pode condenar Madela por formar uma resistência armada. 
A postagem ainda termina relinchando que Mandela implementou um regime marxista na África do Sul ao virar presidente. Basta olhar que na África do Sul aconteceu na verdade uma enorme liberalização da economia, com venda de estatais, ataque aos direitos trabalhistas, impedimento da reforma agrária (bandeira histórica do partido de Mandela, o CNA) e aumento do desemprego e manutenção da desigualdade social.
.
O uso da mentira como jogo argumentativo é um espetáculo de estupidez bem ao gosto das Olavetes. Além disso fica nítida a defesa que esses cretinos fazem de um regime de segregação racial (uma característica do fascismo é crença em “superioridades raciais”). Claro que é perda de tempo refutar esse monte de excremento pois os indivíduos que os pregam a torto e a direita não tem a menor preocupação com a verdade.

. “O fascismo é fascinante deixa a gente ignorante fascinada” (Humberto Gessinger)

Fenômenos como esse, onde grupos investem num pesado revisionismo histórico visando adequar fatos acontecidos para se tornarem legitimadores de suas crenças não são coisas novas, isso sempre ocorre em determinados momentos históricos. Os fatos históricos são explicados em moldes pré-prontos sempre vendendo respostas fáceis e falsas (não existe resposta fácil para temas complexos). O levante conservador no Brasil tem várias formas, ataca de várias frentes e tem em comum um ódio mortal contra o PT e demais partidos de esquerda (ódio que não é por questões éticas, pois silenciam quando direitosos do DEM, PSDB e congêneres são pegos em situações “pouco republicanas” como o “Trensalão Tucano”, “Mensalão do DEM” ou o “helicóptero do pó”), além de odiar abertamente o processo de inclusão social ocorrido no Brasil nos últimos 20 ano a acentuado nesses últimos dez anos do PT no poder. Tentam passar a impressão de que o Brasil era um país industrializado, socialmente menos desigual e com menos corrupção do que agora lá pelos anos da ditadura militar (outro aspecto fascista é acreditar que a democracia enfraquece a sociedade).

Esse levante conservador conta com figuras midiáticas que tem um certo destaque. Desde rockeiros decadentes com uma imagem que teima em ser “jovem” (Lobão, Roger), humoristas que adorampiadas racistas (Danilo Gentili), apresentadoras de telejornal cheias de “openeão” (Rachel Sheherazade), historiadores de ocasião (Leandro Narloch), “filósofos” que odeiam as faculdades e escolas (Luis Felipe Pondé e Olavo de Carvalho), líderes religiosos claramento racistas e/ou homofóbicos e machistas (Feliciano, Malafaia) entre outros. Em comum é que todos são propagadores de discurso de ódio as vezes velado, as vezes declarado.

A fixação desses indivíduos em deturpar a história não é nada mais do que uma tentativa de adequar os fatos com as suas ideias, não o contrário. A reescrita arbitrária da história é um fenômeno que sempre esteve presente em todas as ideologias radicais e em seus adeptos ignorantes, sejam eles de esquerda ou de direita. Daí esses babacas saírem dizendo que o Brasil está diante de um golpe comunista tramado pelo PT em parceria com Fidel Castro (é, eu sei que é ridículo, mas essas toupeiras gostam de propagar isso), que o Mais Médicos é um programa que visa infiltrar guerrilheiros cubanos no Brasil, que a ditadura militar foi de “esquerda” e que as redes de TV são todas “comunistas” (Inclusive Globo, Bandeirantes, SBT, etc.).
Mais do que isso essas figuras estão perdendo a vergonha em expressar os seus mais profundos preconceitos. O ódio que essas pessoas sentem dos discursos de inclusão social e o fanatismo imbecil adquirido com as suas pseudo-leituras os faz defender reacionarismos de fazer qualquer indivíduo com o mínimo senso de decência corar de raiva e vergonha.

A página deu mais uma mostra de que essa direita radical defende novos tipos de eugenia. Faz umas duas semanas quando fez um comentário sobre a novela das nove da TV Globo. Reproduzo o comentário aqui:

“Acabei de ser informado que a novela das 9 se passa em uma realidade paralela na qual obesidade e autismo são atributos de sexy appeal. O pessoal do politicamente correto tá no desespero mesmo!”

Diante da avalanche de comentários o cara ainda tentou se justificar com uma postagem que aumentava ainda mais a vergonha alheia. (veja aqui) (outro aspecto do pensamento fascista é a crença de que certos indivíduos são biologicamente “bem nascidos” enquanto outros não são)
Daí cabe pensar: o que dizer de um grupo que quer chamar de “liberdade de expressão” discursos de ódio e preconceito desavergonhado? 

Essa página não revela nada sobre história, revela sim muito sobre quem a acompanha. Se o indivíduo é alguém razoavelmente letrado e tem consciência das sandices que são divulgadas ali e mesmo assim as repercute então é uma figura com um nível estratosférico de desonestidade intelectual e moral. Se o indivíduo acredita seriamente no que encontra ali então é melhor evitar cair de quatro pois periga de não levantar mais.

Snif, Snif!!! O papa mentiu pra você também?

Pra encerrar vem aí aquela que eu considero a maior prova de desonestidade intelectual e do fanatismo destes indivíduos. Para quem não sabe a página “Meu professor de História mentiu pra mim” faz apologia declarada da Igreja Católica, o que de início não haveria nada demais. Eu mesmo, um ateu, tenho me percebido muito simpático a certos aspectos do catolicismo (como o de não deixar que sua fé e suas missas se tornem espetáculos midiáticos dantescos); mas a página tenta reescrever certos aspectos pouco elogiáveis do passado da Igreja. Os caras já afirmaram que a Igreja ordenou  queimar Galileu na fogueira por que ele “não seguiu o método científico” ou já fez a apologia ao Tribunal da inquisição chamando-o de “marco civilizatório”  (O mestre deles chegou a dizer que as mortes na fogueira não eram desumanas). Gastam tempo tecendo loas aos papas mais conservadores que manifestaram repúdio ao comunismo e ao ateísmo. Mas surge o Papa Francisco, ele mesmo o Mário Jorge Bergóglio, um papa que está saindo muito melhor do que a encomenda. Já oelogiei aqui no blog. 

Eis que Francisco faz uma exortação apostólica em que denuncia a vergonha do mundo capitalista atual, da falta de solidariedade e da busca por lucro desenfreado. Exorta sobre a falta de amparo aos desvalidos e sobre a insensibilidade dos mercados. Há trechos amplamente inspiradores, vejam:

“O grande risco do mundo actual, com sua múltipla e avassaladora oferta de consumo, é uma tristeza individualista que brota do coração comodista e mesquinho, da busca desordenada de prazeres superficiais, da consciência isolada. Quando a vida interior se fecha nos próprios interesses, deixa de haver espaço para os outros, já não entram os pobres”

“Alguns defendem (…) que todo o crescimento econômico, favorecido pelo livre mercado, consegue por si mesmo produzir maior equidade e inclusão social no mundo. Esta opinião, que nunca foi confirmada pelos fatos, exprime uma confiança vaga e ingênua na bondade daqueles que detêm o poder econômico e nos mecanismos sacralizados do sistema econômico reinante. Entretanto, os excluídos continuam a esperar.”

Qual foi a reação dos responsáveis pela página? Passaram a criticar o Papa Francisco. No blog de mesmo nome que a página há uma postagem com o singelo nome de “Bergoglio, uma decepção” onde chega a petulância de chamar o Papa de “vitima de uma epidemia mundial de burrice”. Para esses indivíduos o papa só é infalível (como afirma o dogma da Igreja) se defender um capitalismo destrutivo e desumano, se ele for progressista ele é indigno do cargo.

Essa mentalidade absurda que mistura mentiras, alienação, insultos e preconceito vem ganhando cada vez mais corpo nos dias atuais. O sinal amarelo acendeu.