domingo, 30 de dezembro de 2012

COMO ELE FOI ELEITO? (impressões sobre como um desastre anunciado não pôde ser evitado)



Nota 1:  esse texto, assim como todos os textos deste blog, é escrito de uma única tacada, sem muito refino ou revisão. Escrevo da maneira como a idéia sai na hora pois não disponho de muito tempo para editar e corrigir, daí então ser comum que existam pequenos erros de pontuação, repetição desnecessária de palavra.

Nota2: meu blog não tem a mínima pretensão de ser científico, é só uma tribuna onde prego no deserto as minhas idéias. Apesar de que em alguns textos meus há uma clara influência dos livros que li em minha vida acadêmica, eles (os textos)são opiniões particulares não devendo ser confundidos com artigos de ordem científica,ou verdades pretensamente absolutas. A enorme introdução que pretendo fazer é baseada em algumas leituras estudos que vivi, mas não está sistematizada a ponto de ser chamada de “científica”.

Nota3: a intenção do blog não é insultar ninguém, mas promover uma discussão para aqueles que se aventurarem em ler o texto. Interpretações equivocadas não são culpa minha.



COMO ELE FOI ELEITO? 

O maior choque de realidade que a política me impôs foi a vitória esmagadora de Toinho do Pará para a prefeitura de Santa Cruz do Capibaribe em 2008. Pela primeira vez fiquei realmente afetado com o resultado de uma eleição, passei a pensar sobre o impacto social da democracia e a maneira como o cidadão comum maneja em sua cabeça o que é a política.

Para entender o que quis expressar no parágrafo acima é importante tomar nota de algumas considerações:

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES PRÉVIAS

É comum que grupos detentores de alguma forma de poder ou de conhecimento específico demarquem um “limite de atuação” claro que impeça membros de outros grupos de estabelecer uma crítica consistente sobre eles. É uma estratégia interessante no sentido que agrega valor aos membros deste determinado grupo, uma vez que pessoas de fora que venham a depender deste poder ou conhecimento estão em situação de total vulnerabilidade aos detentores deste mesmo conhecimento. Em outras palavras podemos dizer, a título de exemplo, que é como se um grupo social transformasse seus saberes  em algo indecifrável para aqueles não fazem parte do meio, e caso estes venham a precisar destes conhecimentos entram nestes espaços determinados em posição de quase completa subserviência e dependência, tornando-se vulneráveis as vontades daqueles que dominam tais práticas.

A estratégia consiste então em transformar certos conhecimentos em linguagens que seriam indecifráveis pelo cidadão comum. A intenção é fazer claramente com que ele não entenda como se tramitam e resolvem as questões relativas a esses saberes específicos, tornado se assim, caso necessite utilizar destes conhecimentos, em uma figura que entra nessas questões em total espaço de subserviência e dependência. Isso agrega valor aos membros deste grupo. É como se a ética dos mágicos, que guardam a sete chaves os segredos da sua profissão, fosse vivenciada por quase todos os grupos sociais estabelecidos e percebidos como tais. Advogados guardarão para si e seus pares os segredos do Direito, médicos também farão o mesmo em suas áreas de atuação, assim como se sucede com acadêmicos em geral, professores, economistas, entre muitos outros e, é lógico, os políticos.
Sem entender como se tramitam e resolvem as questões relativas a esses grupos, o indivíduo médio torna-se, caso venha a necessitar de algum destes conhecimentos, em uma vítima indefesa dos membros destes grupos.
Para exemplificar o que citei acima é só pensar que a linguagem utilizada por advogados, juízes e economistas, bem como as regras de atuação específicas a esses segmentos são indecifráveis para um leigo, tornando quase impossível que este possa entender por simples associação de idéias os temas tratados pelos membros destes grupos. Qualquer um que conversa com advogados ou economistas, só pra ficar em dois exemplos, entende pouca coisa sobre o que falam esses dois profissionais devido estes saberes serem dotados de uma linguagem específica feita para serem dominadas exclusivamente por seus membros, não pela pessoa comum. Assim aqueles que necessitarem da atuação destes profissionais tornam-se quase que reféns deles.

É importante lembrar que dentro destes grupos detentores de um conhecimento específico existem vários pontos de vista, disputas ideológicas, discordâncias e rivalidades por vezes extremas, mas essa linguagem (que é adotada por todos os membros numa clara ação corporativa conjunta) faz com esse grupo pareça coeso e detentor de uma verdade única das quais os não-membros são dependentes.

Calma que vamos chegar em Toinho, paciência...

A classe política também se encaixa nesse conceito de expressei anteriormente. Alguns podem discordar e dizer que os políticos não são um “grupo social específico” uma vez que os que ocupam os cargos são representantes de segmentos sociais por vezes antagônicos, que não caíram de pára-quedas cargos que ocupam pois para isso antes tiveram que ser eleitos pelo voto, ou que a política numa democracia representativa é expressão maior da vontade do povo. Tudo isso são balelas. A classe política se reconhece como tal e, a despeito de suas infinitas diferenças ideológicas internas, cria toda uma blindagem para sua atuação através da elaboração de uma linguagem específica e de toda uma série de trâmites que impeçam o cidadão comum de discutir de forma coerente a ação dos poderes políticos instituídos. A ação parlamentar, o texto das leis, o tecnicismo das falas, entre outras estratégias, são formas de impedir esse homo vulgaris em ter uma inserção autônoma no espaço da política.

Mas a classe dos políticos até pode criar maneiras de impedir um conhecimento profundo da política, mas não pode impedir as populações (essas massas supostamente “incultas’) de criar seus próprios sentidos para a política, assim como criam seus próprios sentidos para outras coisas. 

Num contexto onde a política é feita justamente para que as pessoas não entendem, mas onde, paradoxalmente, elas são obrigadas por lei a participar não há como impedir que as populações driblem essas proibições não declaradas e reinventem para si próprias o sentido da política. Ao criar um sentido particular para o poder e para a política a “plebe rude” força os poderes políticos a cortejá-la, a seduzi-la, a referendar valores que são aceitos por ela ainda que esses nada tenham a ver com  a vida política, a ação legislativa ou a administração pública (pelo menos não imediatamente). 

Um grupo político, ou um político capaz de perceber e criar uma imagem pública que esteja de acordo os simbolismos depositado pelas massas na política, tem o sucesso eleitoral quase garantido.Por isso os partidos e candidatos gastam quase nenhum tempo no debete político propriamente dito e investem muito mais na criação de uma imagem identificada com os valores socialmente aceitos. É daí que começo minhas conjecturas sobre como um completo idiota, um desastre anunciado como Toinho do Pará foi eleito prefeito de Santa Cruz do Capibaribe.

A TRAJETÓRIA ATÉ O DESASTRE

Os “taboquinhas” chegaram ao poder em 2000 já se mostrando mais sintonizados na arte de manipular esses sentimentos populares sobre a política. Não que tenha sido apenas por isso, existem méritos políticos claros na vitória taboquinha em 2000, mas desde ali o grupo liderado por José Augusto Maia já sabia como seduzir as massas ao captar a maneira sub-reptícia como o povo reinventa a política. Enquanto os “bocas-pretas” apelavam ao tradicionalismo e ao partidarismo, José Augusto (que tinha Toinho do Pará por seu vice) apelava  uma suposta luta contra os poderosos, contra os ricos insensíveis com as necessidades dos pobres, com aqueles que supostamente usariam o poder para promover apenas sua riqueza pessoal. A vitória nas urnas em 2000 serviu para carimbar de vez um estigma sobre os adversários como atrasados, elitistas, anti-povo, esnobes, etc.

Para se entender como esse discurso, essa  estratégia foi eficiente é só pensar em Santa Cruz do Capibaribe como uma cidade industrial que se formou a partir da exploração de mão-de-obra barata, sem garantias trabalhistas, onde as margens de lucros dos patrões eram altas (pelo menos na época da explosão da confecção por aqui), onde devido a altíssima sonegação de impostos o poder público não tinha recursos para estruturar a cidade, e onde as elites e famílias tradicionais se engalfinhavam pela posse do poder. Santa Cruz cresceu então com uma elite pouco escolarizada, espalhafatosa, exibicionista, e incapaz de pensar algum projeto coletivo para a cidade. Lutar pelo poder sempre foi uma forma das famílias conseguirem mais estatus e benefícios; mas dividir com as pessoas? Ah, você deve estar brincando... Ao povo restava trabalhar pesado e buscar ascender socialmente numa cidade que vendia a ilusão de que pra ficar rico bastava querer. O fato é que se criou uma grande massa de trabalhadores que ralavam muito  e iam sobrevivendo (em condições  muito melhores do que em grande parte do Brasil, é verdade) e uma elite cada vez mais esnobe e deslumbrada. 

Não se deve pensar que por serem pouco escolarizadas as classes mais humildes de Santa Cruz do Capibaribe tinham um nível zero de compreensão da sociedade. Provavelmente o homo vulgaris santacruzense não tem uma visão articulada sobre a realidade, mas a sente a realidade na própria pele, percebe que nos tempos de crise é sobre ele que recaem as demissões, o desemprego, o arroxo de salários enquanto os ricos continuavam mantendo suas riquezas as custas da precarização da vida do cidadão comum. Não precisar ser gênio para perceber a cidade abandonada, sem estrutura mínima. Se não havia articulação política das classes populares para lutar contra esse quadro (talvez devido a baixa escolaridade e a mentalidade individualista da população [isso é só uma hipótese]), havia o sentimento de revolta dentro dos corações e mentes, os taboquinhas apenas o captaram e o usaram para si.

Durante os 8 anos do governo José Augusto a manipulação destes sentimentos se tronou cada vez mais clara, transformada até em canções pelo próprio José Augusto (meu TCC foi sobre o impacto das canções compostas por ele nas eleições entre 1998 e 2004).  Diante dos acertos e erros de seu governo José Augusto Maia passou cada vez mais a imagem (falsa) de que seu governo contava com participação do povo (o que claramente era uma mentira) e de que lutava contra os “poderosos”. 

Esses poderosos não tinham nome, pois, logicamente, esse discurso era uma farsa completa. Durante o governo de José Augusto houve acertos (em quantidade, para sermos justos), mas também se formou nitidamente uma classe de poderosos sob a permissão e supervisão dele e seu grupo político. Surgiram donos de rádios comunitárias (uma clara ilegalidade), a especulação imobiliária atingiu níveis que passam do absurdo, a doação ilegal de terrenos públicos para pessoas ligadas ao grupo político, um show de irregularidades diversas em licitações e até o desvio do FGTS de funcionários públicos municipais (em especial dos professores). Mas com o discurso cristalizado ficava fácil vender a versão de que essas acusações eram ataques dos adversários supostamente com raiva dos “benefícios gerados para o povo”. E tome música chorosa cantada pelo Zé Augusto, tome as rádios vendidas manipulando informações, tome zombaria promovida pelo próprio prefeito e vereadores contra os adversários e por aí vai...

Nesse meio tempo Toinho do Pará elegeu-se duas vezes Deputado Estadual e foi um completo inoperante. Nunca promoveu sequer uma prestação de contas sobre seu mandato parlamentar, ficou na sombra de Zé como sempre fez. Em 2008 chegava a hora de do partido “taboquinha” escolher o novo candidato, e foi Toinho. Do outro lado os “bocas-pretas” vinha passando por mudanças e candidatou-se Edson Vieira, que vinha em franca ascensão política.

Pelo menos 1 ano antes o governo já andava meio mal das pernas, cambaleante financeiramente e a cidade ia tomando ares de abandono, obras inacabadas e o caos no trânsito demonstravam o claro desgaste do governo, que teve inúmeras de suas contas rejeitadas pelo TCE.

O claro desgaste do governo, junto com o frescor da ascensão de Edson Vieira, bem como a postura inoperante de Toinho do Pará como político encheram os “bocas-pretas” de esperança. Edson apostou no fato de aparentar ser mais preparado para exercer o cargo, Toinho apostava em dois golpes que se mostrariam certeiros: o apelo a figura quase mítica de José Augusto na época e nos ressentimentos populares em santa Cruz do povo contra as “elites”.

Toinho deu no decorrer da campanha de 2008 um espetáculo de como não se portar em público. Era uma figura dantesca, de doer na vista e no juízo de quem leva política minimamente a sério. Demonstrava total desconhecimento sobre as atribuições de seu cargo, era incapaz de manter uma idéia coerente caso questionado, repetia a exaustão jargões indicados por seus marketeiros (repetia a palavra “punjante” mesmo quando essa não mais cabia em nada), discursava sofrivelmente e no único debate entre os candidatos deu respostas no nível da idiotice. 

O fato é que justamente esse comportamento de Toinho talvez tenha sido fundamental para ganhar a eleição de forma tão enfática. Os seus traços grosseiros, suas falas desconexas, suas respostas simplórias aproximou ainda mais o eleitorado mais humilde de sua figura. Lembro de ter ouvido da boca do candidato Edson Vieira que havia uma grande dificuldade dele em penetrar nas camadas mais pobres da cidade. Some-se que na época o mito Lula estava no auge,a maioria das pessoas viam nele um exemplo de político que deveria governar. 

O sucesso eleitoral de Lula lançou dentro das cabeças a ilusão de que o bom político não deveria ser um técnico, alguém  com formação acadêmica ou sucesso empresarial, mas sim homens humildes, que supostamente conheceriam a realidade do povo e que por isso supostamente ele saberia encontrar soluções fáceis para os problemas. Alguém que governaria com o coração e simplesmente mudaria o foco da máquina pública em direção a promoção do bem estar dos mais humildes. Vendeu-se a ilusão de que o poder pode ser exercido sem problemas por um mero ato de vontade e que se a origem social de um político é humilde então isso seria um pré-requisito para que ele fosse um bom governante, se o candidato fosse de origem rica ele seria então automaticamente um “inimigo do povo” e só pensaria em beneficiar os ricos.

Toinho se aproveitou muito dessa representação positiva que reinava quanto a sua figura. Escondeu todo seu despreparo no fato de que era um homem do povo, de fala incorreta, mas que sabia o que o povo passava, que seu adversário era um riquinho que estava na política por interesses particulares. E não adiantava tentar explicitar a falta de capacidade de Toinho, isso era interpretado como ataque pessoal e não como uma constatação evidente (o que era de fato). 

Daí seguem-se músicas falando da origem humilde de Toinho do Pará e outras falando que o candidato adversário lavaria as mão com álcool depois de cumprimentar os pobres. Segue-se a dizer que Toinho do Pará nunca estudou mas sempre trabalhou pelo povo (fazendo o que?) enquanto o adversário “comprou anel de doutor”.

Enfim, a antipatia nutrida pela maioria da população humilde contra os ricos mais uma vez se refletiu na política, o candidato adversário passou a representar a elite egoísta formada por patrões mesquinhos. A eleição então se tornou a forma que a população encontro de se vingar desta “elite mesquinha”. Não importa se o seu patrão vota no mesmo candidato que o seu, importa que o candidato dos ricos é o outro e ele deve ser derrotado.

A campanha de Toinho ganhou esse aspecto da mais vil vingança, algo claramente alimentado por ele e seus aliados em canções discursos e etc. O falas das ruas bradavam palavras de zombaria ,vingança e rancor. O nível de revolta era tal que perdeu-se totalmente o que restava de senso crítico quanto ao que era dito em palanques, em um comício o candidato Toinho do Pará chegou a dizer:   O candidato do outro lado diz que é o mais preparado, preparado, que eu saiba, é um prato de cuscuz com sardinha”  (antes que algum desinformado pense que é piada, garanto e tenho como provar com testemunhas, muitas por sinal, que ele disse isso. Essa foi uma das menos horríveis, diga-se). A campanha de Edson Vieira, apelando ao fato dele ser supostamente “o mais preparado” e atrelada a sua falta de carisma, via-se de mãos atadas ante a uma ofensiva tão forte e também que estava em sintonia profunda com os sentimentos que o povo levava para a política naquele momento.

Esse sentimento refletiu-se nas urnas com uma vitória acachapante de Toinho do Pará: 2991 votos de vantagem, até hoje a maior vitória eleitoral nas eleições.
O resultado todo mundo sabe, o governo municipal que já dava claros sinais de desgaste desde 2007 apenas seguiu seu rumo e terminou por desmantelar de vez o município. O governo de Toinho pode ser taxado claramente de desastroso, menos por culpa dele e mais pela herança maldita deixada por seu antecessor. Em quatro anos a prefeitura sucateou todo o maquinário público, transformou a saúde municipal no paraíso das negligências médicas, o que custou algumas vidas, a estrutura da educação foi a um nível desprezível, faltando até água de boa qualidade para os alunos beberem (só não ficou pior pela ação heróica dos professores do município, que seguraram as pontas como dava), apenas na questão dos salários do professores Toinho merece elogios (mas salário, por mais importante que seja, está longe de ser tudo na educação). Isso para não citar desmandos em todas as outras áreas, que se fosse citar aqui o blog não suportaria a quantidade de texto (se é que alguém vai já agüentar ler esse texto enorme que fiz).

Hoje, dia 30/12 é o penúltimo dia desse governo nefasto, que de tão ruim destruiu até a figura do político mais vencedor eleitoralmente em Santa Cruz do Capibaribe, o José Augusto Maia. A derrota do Maia é um castigo justo pelo desmantelamento promovido por ele e seu grupo no município. Não há figura mítica ou heróica que resista a desmandos diversos, como merenda escolar ruim, hospitais sem médicos e remédios, ruas esburacadas, especulação imobiliária, fraudes e rejeição de contas no TCE. Nem mesmo a ação parcial de duas rádios FM puderam salvar o grupo taboquinha e seu semi-deus da derrota eleitoral. Como disse anteriormente neste texto, não é porque a população é pouco escolarizada que não saiba entender a realidade, o erro de José Augusto foi pensar que todo mundo era burro de continuar votando nele e em seus aliados mesmo com desastre em marcha comandado por ele e seus asseclas apenas por que ele um dia se apropriou de um discurso que se mostrou eficiente. Apelou para o ódio, para o rancor e para o preconceito, não teve a hombridade de levantar um debate político sério sobre o município e sua realidade, achou que sempre seria capaz de manipular a todos. Agora vive de mastigar o rancor da derrota, espero que esse seja apenas o início de uma longa derrocada política. Desejo que seus algozes não tenham misericórdia.

Ao grupo vencedor e seu prefeito Edson Vieira prefiro manter um conveniente silêncio. O futuro dirá se eles mereceram a chance que tiveram ou terão que ser esquecidos, mas contam com a minha torcida. Estou claramente otimista.

Desejo a todos um 2013 de paz, alegria e vitórias contra a tirania.

sábado, 24 de novembro de 2012

A RELIGIÃO COMO CORTINA DE FUMAÇA (parte 1)

ESCLARECIMENTO PRÉVIO SOBRE O TEXTO: 

Para que se entenda esse texto sem deixar brechas a algum mal entendido é preciso deixar claro que a noção de “direita” e “esquerda” que eu trato aqui não se trata de definir os grupos políticos entre “proletérios” e “burgueses” ou “marxistas” e “Neo-liberais”. O conceito que adoto vai além dessas definições. Defino particularmente a “direita” como a defensora da estrutura social estabelecida, dos donos do poder, dos valores sociais vigentes e atualmente hegemônicos, e por “esquerda” eu defino como aqueles que são os excluídos do poder, os rebeldes e defensores de ideologias inovadoras (Nota: quando falo “excluídos do poder” não é no sentido de mera oposição política a um governo, mas sim relativos aos grupos sociais que são oprimidos pela estrutura social-econômica vigente). De modo que “direita” e “esquerda” não são ideologias fixas, num certo sentido pode-se considerar o Partido Comunista Cubano como “conservador” pois ele tenta evitar a partilha do poder econômico e político, como fazem as oligarquias brasileiras, por exemplo (comunistas não me insultem, por favor!)

A RELIGIÃO COMO A CORTINA DE FUMAÇA DA DIREITA

Ninguém admite que é reacionário, ponto. Muito dificilmente escutaremos algum político afirmar que é contra direitos trabalhistas fundamentais (férias, salário mínimo, seguro desemprego, multa em caso de demissão sem justa causa, etc.), ou contra algum outro direito constitucional reconhecido. Nenhum candidato ou partido admitirá que pretende ampliar as diferenças sociais entre ricos e pobres, ou que tem por intenção jogar nas mãos da iniciativa privada  serviços como saúde, educação básica ou educação superior. Ainda que o programa partidário diga o contrário, e que o histórico do partido faça a negação do candidato parecer bisonha, eles não admitirão. Mas também não negarão, e se negarem é só um estratagema para, chegando ao poder, colocar em práticas essas idéias. 

 Um debate aberto e franco sobre programas de governo e seus efeitos sociais a médio e longo prazo faria com que os partidos defensores de políticas liberais na economia, do estado mínimo e da desregulamentação do mercado fossem verdadeiros fracassos eleitorais. Afinal, um cidadão das classes médias e baixas só votaria em candidatos com propostas contrárias a seus interesses se fosse  ele um boçal extremo, ou se acreditasse piamente na balela que o sistema capitalista dá oportunidades iguais para todos (o que é uma bobagem, embora exista sim alguma possibilidade de uma pessoa ascender de classe social mediante o seu trabalho, mas é ingenuidade achar que isso está a disposição de todos mesmo que se esforcem muito).
Mas o fato é que estes partidos tem sim êxito eleitoral, por vários motivos. Vamos aqui tentar mostrar algum deles.

Tim Maia dizia que o Brasil era o único lugar em que “cafetão sentia ciúmes e pobre é direita”. Mas convém pensar: “por que diabos pobre seria de direita?”. Simples, porque como disse no início, ninguém admite que é reacionário. Do mesmo modo em a Coca-Cola não admite que seu produto causa diabetes, câncer,  entre outras doenças a direita jamais admitira suas reais implicações enquanto projeto de poder. Ninguém compraria Coca-Cola se estivesse escrito com destaque na embalagem “ISSO CAUSA GASTRITE”;  talvez alguns ainda comprassem , sei lá.

A direita no percurso da história disfarçou seu ideal político com vários outros estratagemas bem sedutores e eficientes como o apelo à tradição, venda do ideal do sucesso financeiro (ainda que na prática irrealizável), moralismos, machismo, anticomunismo, racismo, arianismo, nacionalismo, xenofobia, etc. Todos esses sentimentos com ampla aceitação popular (Nota: é triste dizer mas racismo, machismo, xenofobia tem sim aceitação social. Horrível mas é verdade) sempre serviram como uma cortina de fumaça eficiente para que o grupo que domina o poder político e os meios de produção, educação e comunicação da sociedade possam manter seu status posando como defensor destes valores e, lógico, disfarçando as reais conseqüências do seu domínio.

Neste mundo pós-moderno onde não se tem nenhuma ideologia de massas, e o individualismo chega quase aos níveis do autismo e faz com que os indivíduos vejam as outras pessoas como concorrentes em todos os aspectos da vida, fica difícil para um grupo apelar para alguns valores coletivos a fim de manter seu poder na sociedade. Quase não existe mais o sentimento de pertencimento a uma nação, uma raça ou um grupo. Mas ainda existe um espaço que mantém o sentimento de grupo dos indivíduos e que consegue em si só abarcar todos os estratagemas usados anteriormente pelas elites dominantes e de forma ainda mais sutil: A RELIGIÃO.

A religião continua viva e eficaz na arte de congregar pessoas e fazê-las compactuar de uma ideologia comum.  Apenas uma minoria adota um credo religioso por ter uma opinião elaborada a partir de leituras e pensamentos autônomos. E daí o pensamento de direita faz a festa, encontra na religião o disfarce que preenche a lacuna deixada por seus reais ideais e que, caso fossem expostos publicamente, levariam ao fracasso eleitoral.

Detalhe é que a religião consegue dar uma roupagem virtuosa a quase todos os estratagemas conservadores que pareciam ter sido jogados no ostracismo e que fazem a alegria das ideologias reacionárias. A submissão da mulher (em outras palavras: machismo) é justificada a partir do fato de que Deus havia determinado o homem a ser “o cabeça”; a concentração de renda deixa de ser fruto da estrutura econômica e passa a ser culpa da falta de fé ou da determinação divina (teologia da prosperidade e da predestinação); os governantes não podem ser questionados pois foram colocados no poder supostamente pela vontade de Deus, e assim por diante.

Essa forma de pensar a realidade a partir da religião faz com que qualquer idéia contrária a fé seja vista como obra do diabo, sinal do fim dos tempos, algo que tem que ser extirpado da sociedade ou Deus poderá castigar severamente os fiéis caso se omitam ( e isso porque “os ama”, imagina se detestasse). Daí para que isso seja usado como arma política é um passo. 
Os grupos sociais marginalizados tendem a buscar mudanças sociais e apoiar partidos com ideologias mais abertas a eles. As atuais esquerdas adotaram as questões das desigualdades raciais, culturais, étnicas e de gênero em seu programas políticos por reconhecerem nelas um reflexo da desigualdade social. Como ambos lutam por mudanças na sociedade era de se esperar que houvesse uma cumplicidade entre esses grupos e foi o que aconteceu. 

É justamente a partir daí que a direita atual consegue a cortina de fumaça que tanto precisa para disfarçar as suas reais intenções. Os seus adversários ideológicos passam a representar tudo aquilo que a religião entende como “ruim”, “profano” e “degenerador”, e diante de um exército numeroso de pessoas arrebanhados pelas igrejas passam apelar a o discurso religioso, misturando-o com a política visando obter vantagens eleitorais. E a partir disso o debate se radicaliza e desce a níveis muito além do subsolo. 
O crescimento da religião no mundo pós-moderno, mesmo com todo avanço da ciência e das comunicações, é a zona de conforto dos grupos políticos conservadores. Nessa aliança todos os envolvidos saem felizes: os religiosos, e mais ainda seus líderes, usarão essa força partidária para ter o poder como força de opressão aos grupos sociais e ideologias consideradas inimigas por eles, bem como para manter privilégios (isenção de impostos) e ampliá-los até os limites da imoralidade (compras de redes de rádio e TV, de editoras, influenciarem o que é ensinado nas escolas, etc.). Já a direita política consegue a cortina de fumaça quanto a seus reais interesses, adquire um público cativo que não percebe que são ovelhas jantando com lobos e agora tem como estigmatizar seus adversários políticos como “inimigos da fé” ou “inimigos da família”.

E que se danem a expressão religiosa das minorias, os direitos das mulheres, dos homossexuais, o direito da livre manifestação, dane-se o debate público plural e construtivo; e que se exploda definitivamente a educação pública de qualidade, laica científica e gratuita. Em suma: danem-se os direitos mais elementares de uma democracia.
E tudo isso debaixo das bênção de líderes religiosos pouco, ou nada, virtuosos.

No próximo post eu cito exemplos concretos das idéias expostas aqui

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

PRA QUÊ REATIVAR UM BLOG? (a solidão das idéias)



 

             A pior das solidões é a solidão de idéias, quando se tem muito a dizer e ninguém disposto a escutar. Por sentir-me assim é que retorno com esse blog de audiência pífia. A intenção é justamente de pregar no deserto, falar com as pedras, correr atrás do vento. Mesmo com a aproximação um estafante fim de ano nos 4 colégios onde leciono, um projeto de mestrado para elaborar (com leituras e mais leituras se acumulando)  um tempo cada vez mais escasso simplesmente vou reativar o meu blog. A intenção prática é a de pegar novamente ritmo de escrita a intenção maior é a de falar sobre aquilo que ninguém quer discutir (pelo menos não seriamente).

            Coisa ingrata é lutar contra o espírito da época. Hoje sinto que ninguém mais se interessa por problema algum, pensar cansa e para se elaborar uma opinião realmente consistente sobre qualquer tema é preciso ter alguma vivência intelectual, cruzar informações usar de conhecimentos diversos que se adquire durante a vida; e simplesmente ninguém mais faz isso. O importante é lançar opiniões toscas, sem fundamento, baseadas muitos mais na “sabedoria popular” (que de sábia tem pouca coisa) do que em um exercício de pensamento realmente relevante. As redes sociais dão prova disso todo dia.

            Não importa se da alma mais ignorante, daquela que assiste o Programa do Gugu e do Datena, ou do mais erudito doutor, jornalista, professor (sim, eles também), hoje é cada vez mas claro que todo mundo se percebeu que ser idiota é mais fácil do que ser inteligente. Ser um “Zé povinho” não requer prática, nem tampouco habilidade, basta querer ser um e... pronto! Daí é sair vomitando posições políticas, sociais e morais de constranger um Alborgheti . 

            Simplesmente vejo gente com alguma  instrução usando de sua erudição para encher de pompa as idéias mais medíocres.  Daí tome mais moralismos sem nexo, mais bairrismo idiota, mais exaltação de “heróis da história” e mais defesas das idéias mais reacionárias. Se acham verdadeiros “eruditos novaiorquinos” por isso quando na verdade não passam de texanos decadentes.  Lêem certas revistas como se fossem uma nova Bíblia e sentem orgasmos quando algum colunista destila preconceito politicamente incorreto, com um pouco de sorte você encontrará algum dizendo “Hitler não estava tão errado” ou “a ditadura fez bem ao país, naquela época não tinha corrupção”

            Já dos ignorantes habituais se espera o de sempre: o voto nos piores políticos, a rejeição a qualquer idéia realmente coerente, os preconceitos comuns, as correntes ridículas nos facebooks da vida, os modos rudes e grosseiros, a apreciação de humor chulo, e o uso da ignorância como argumento ( agora engrossado com o endosso dos pseudo-eruditos que usam sua formação para legitimar as opiniões dos “Zé povinhos”).

            Daí não raro que os discursos de pessoas aparentemente díspares em suas posições sociais (“eruditos” e ignorantes, sem distinção de classe social) se assemelhem tanto: “antigamente existia respeito”; “os valores da família não são mais respeitados, por isso o mundo está assim”; “a culpa é da falta de Deus na sociedade”; “esses negros são uns preguiçosos que se escondem por trás das cotas”; “os gays tem ódio dos héteros”; “Politico X é bom porque é igual ao povo”; “Quem critica nossa cidade é porque sente raiva dela”, “fulano de tal é um herói de nossa história, devemos a ele nosso desenvolvimento”; “quem se importa com a cultura dos índios, é tudo um bando de maconheiro”, isso entre outras infinidades de pérolas.  No Facebook essas “opiniões” vem acompanhadas de mensagens religiosas e/ou motivacionais tiradas do perfil de alguma banda de forró, padre cantor, ou jogador de futebol. (isso fora as citações falsas)

            Daí qualquer um que tente desafiar a mediocridade geral e irrestrita (globalização funcionou até nisso, hein?!) é tratado como pária social, seja nas redes sociais, seja no trabalho, seja entre os conhecidos no dia-a-dia. Um texto mais longo ninguém quer ler, uma opinião mais longa e abalizada ninguém quer ouvir, uma música com uma letra que preste ninguém quer escutar. Um livro que tenha alguma profundidade, com muitas linhas? Pufffffs, aí é que ninguém nem chega perto. 

            Não se trata de consumir apenas o erudito, de buscar apenas ser intelectual, ou desprezar todas as formas de entretenimento e distrações mais populares, isso é impossível (além do óbvio fato de que algo ser popular não significa que necessariamente seja ruim). Eu gosto de músicas populares, de piadas bobas e conversas despretensiosas; também assisto novela e (muito) futebol, também falo bobagens.  O problema é que as pessoas simplesmente estão declarando uma guerra contra qualquer tipo de pensamento mais elaborado, e sinceramente não acho que exista quem despreze o conhecimento e a inteligência por algum tipo de determinismo social ou algo que o valha. Todos esses “Zé povinhos”, com diploma na mão ou não, sabem que defendem um ideal de vida degradante onde o cinismo é o principal sustentáculo, os valores aceitos socialmente hoje são tão degradantes que apenas alguém com sérios problemas os defenderia por convicção genuína. Até o mais radical hedonismo tem seus limites.

            Por isso ressuscitei o blog, para ser a minha trincheira pessoal contra esse espírito que corrói essa época. Não que eu seja um gênio, um messias, um guru (Zeus me livre disso), mas esse consenso construído pelo imobilismo das mentes é simplesmente opressor para alguém que sempre admirou a curiosidade, o desafio contras as tradições, um debate aberto e pleno sobre qualquer tema, a ausência de tabus intelectuais. Minhas idéias são simplórias em sua maioria, mas não são formadas a partir do nada, da doutrinação, muito menos da mediocridade geral.

            É claro que me envergonho de muitos textos que escrevi aqui no blog (porque o texto foi pobre,  argumentação foi falha e a gramática ruim, o tema foi irrelevante, ou porque simplesmente mudei de opinião sobre o assunto), mas também sinto orgulho de outros textos que escrevi, vez por outra posto o link no twitter e no Facebook e, como de costume, ninguém lê.

            Esse blog nunca moderou um único comentário, ninguém nunca o considerou relevante para tal (a postagem de maior audiência foi sobre futebol), mas é meu grito solitário em prol de algum debate de idéias que vá realmente ao âmago das coisas e contra esse debate de surdos travado por essa época  que idolatra a futilidade e a ignorância.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

O Santa Cruz Futebol clube contra a "tática do pivete"

 


Os batedores de carteira das grandes cidades têm uma tática bem inteligente na hora de dissimular seus roubos: quando passam a mão na carteira de algum pobre diabo e percebem que este o flagrou o delinqüente começa a gritar enquanto corre “pega ladrão! pega ladrão!” para disfarçar dos demais transeuntes a atenção de seu roubo e transmití-la para um roubo imaginário. No fim das contas o batedor de carteira sai ileso e o cidadão roubado nada pode fazer.
No futebol pernambucano os dirigentes do Sport Clube do Recife usam da mesma estratégia para tentar desestabilizar o campeonato e pressionar os árbitros a dar aquela ajudinha ao time vermelho e preto quando eles não conseguem ganhar sozinhos.  Esse ano o Santa Cruz começou razoavelmente bem o campeonato, vencendo 3 dos 4 jogos e mostrando superioridade sobre os adversários mesmo estando ainda longe do futebol ideal. Sabendo a pedreira que vão encarar pela frente os dirigentes rubro-negros, em especial um tal de Guilherme Beltrão, já começam a alegar um possível favorecimento ao Santa Cruz por parte das arbitragens. A intenção é pressionar a federação e os árbitros criando um clima de desconfiança para forçar futuros erros em favor do Sport. (entendeu a semelhança com o batedor de carteiras?)
Vamos aos fatos:
O Santa Cruz teve, em suas três vitórias no atual campeonato, jogadores adversários expulsos e 3 pênaltis marcados em seu favor (todos muito claros), eu gostaria bastante que alguém me mostrasse qual das expulsões de adversários não foi justa. Contra o Belo Jardim o defensor foi expulso por uma entrada desleal que se acerta o jogador era capaz de quebra-lhe a perna; contra o Serra Talhada o defensor puxou a camisa do nosso atacante impedindo um ataque em velocidade, tomou o segundo amarelo; contra o Ypiranga o volante Junior Terceiro foi expulso por dois amarelos (uma mão na bola dentro da área e uma falta em Natan durante um ataque do Santa Cruz).
Se o Santa vem ganhando jogos essa tática da direção rubro-negra não deveria incomodar, mas é melhor tomar cuidado pois isso já nos tirou um título pernambucano.
Em 2006 o Santa venceu o primeiro turno do pernambucano e lutava pelo bicampeonato. No primeiro turno haviam sido marcados 5 pênaltis em favor do time coral (todos corretamente, diga-se) e isso foi o bastante para que a então diretoria do Sport colocasse a tática do batedor de carteiras. Homero Lacerda ia a todas as rádios acusar um favorecimento ao Santa Cruz por parte dos árbitros, que o Sport era prejudicado e blá, blá, blá... Como a diretoria tricolor (na época presidida pelo desastroso Romerito Jatobá) se calou, a conversa de Homero ganhou corpo e a arbitragem começou a sabotar o time Coral. Na 7ª rodada do segundo turno o Sport liderava com 1 ponto a mais do que o Santa, uma vitória no clássico contra o time da ilha e passaríamos a frente, venceríamos o segundo turno e seríamos bicampeões. O que aconteceu? O Sport só empatou o jogo porque a arbitragem anulou um gol legalíssimo de Júnior Maranhão que daria a vitória e a liderança do turno ao Santa. No dia seguinte Homero Lacerda e os demais diretores do Sport se mantiveram calados, a estratégia havia dado certo e o Santa, com sua carteira roubada, nada podia fazer. Para os rubro-negros pressionar a arbitragem valeu muito e é isso que eles tentam fazer agora.
O Sport entrou nessa de desviar a atenção para arbitragem para não levantar a questão de como é bem possível que esse ano o Santa seja de novo campeão com uma folha salarial 3 vezes menor que a do elenco rubro-negro (Santa tem folha de 500 mil enquanto o Sport de 1,5 milhão), que mesmo duas divisões abaixo no cenário nacional o Santa vença mais uma vez.
O Santa Cruz Futebol Clube está voltando a ser o grande clube que nunca deveria deixar de ter sido, tem sido bem administrado e tem tido bons resultados em campo. Nas arquibancadas, nas audiências de TV e nas camisas nas ruas a maioria Coral é esmagadora, e isso incomoda aos Outros FC .
Vamos ganhar mais uma vez com a raça em campo e o grito das arquibancadas e nenhum juiz covarde vai nos impedir. Aos diretores e torcedores do Sport restará o que vai ser rotina para eles nos próximos anos: choro livre

Para encerrar uma pequena foto da nossa torcida no jogo de ontem:

 
Segundo o jornalista Cássio Zirpoli o público de "apenas" 24.525 pessoas é muito difícil de acreditar. Com certeza tinha bem mais.


domingo, 22 de janeiro de 2012

Quem será o cavaleiro da barbárie contra Obama?

                      

Sou viciado na política americana, acho que todo o processo de escolha de um candidato a presidente algo muito interessante. Esse esquema das prévias eleitorais em cada Estado é muito prodigioso pois força os candidatos a aparecer e buscar apoio dos filiados do partido para ser o candidato a presidente. Aqui no Brasil é a cúpula dos partidões que decidem os candidatos a presidência, nenhuma corrente política é consultada, o PT e PSDB são exemplos disso.
Antes de discorrer sobre o que acho que vai acontecer nas eleições dos EUA é preciso entender algumas coisas sobre os EUA e seu povo. Os EUA são a vanguarda tecnológica e científica do mundo, tem a economia mais forte e a democracia mais sólida, mas isso não é exatamente mérito do povo estadunidense. Os EUA são um país educacionalmente fraco, onde apenas sendo alguém muito endinheirado para ter um curso superior numa faculdade de respeito, ou sendo um gênio para conseguir bolsas de estudo. As grandes faculdades dos EUA, ao contrário do Brasil, são privadas e um filho da classe média que consiga uma vaga nessas universidades é forçado a adquirir um empréstimo estudantil em bancos privados e que provavelmente o manterá endividado por anos.
Nesse contexto o cidadão médio dos EUA não enxerga no conhecimento uma possibilidade de ascensão social, prefere trabalhar duro para conseguir realizar o “sonho americano”. Daí se forja populações inteiras que literalmente desprezam o conhecimento e passam a ver a polidez e a intelectualidade como arrogância. Esse vácuo educacional que assola a população faz com que as bases sociais sejam bem menos racionais do que aquilo que a propaganda cultural estadunidense mostra ao mundo. A religiosidade calvinista não encontrou durante muitos anos nenhum contra poder na construção do imaginário social dos EUA e isso trouxe suas conseqüências boas e más: de um lado criou uma população super competitiva e que enxerga a riqueza como sinal da salvação espiritual, o que faz o indivíduo muito predisposto ao trabalho; por outro lado a população dos EUA desenvolveu um individualimo extremo, uma insensibilidade social grotesca e, devido a esse excesso de religiosidade aliada ao déficit educacional, um analfabetismo científico e intelectual que atinge a maioria esmagadora da população. (basta notar que na cultura dos EUA há uma exaltação do ignorante brutamontes que é bom nos esportes e nas lutas enquanto o intelectual é mostrado de maneira vexatória.). Outra característica dos EUA é também o partidarismo exagerado, especialmente do partido mais conservador, o Republicano.
[Nota: acabei de perceber  como a formação cultural dos EUA é bem parecida com a de Santa Cruz do Capibaribe. Com exceção da influência calvinista, Santa cruz parece um microcosmo do que acontece nos EUA)
Esse americano comum é chamado de John Doe (algo como “João Ninguém”), cineasta e escritor Michael Moore chama com muita propriedade essa figura de “Stupid White Man” (Homem branco estúpido). É esse o eleitorado de classe média, muito religioso e conservador e com pouca escolaridade que é a base eleitoral do Partido Republicano dos EUA, justamente o partido que mais venceu eleições e que hoje faz oposição ao presidente Obama que é do Partido Democrata.
O sistema de prévias dos EUA mostra bem como o eleitorado do país é um tanto ignorante e passa, sem aviso prévio, do estado de irredutibilidade ao de ser facilmente manipulável, o que caracteriza dois extremos perigosos. Os atuais postulantes a candidatura representam bem essa marca do eleitorado. É engraçado como as propostas do candidato se mostram  insignificantes para o eleitor diante da imagem que o político passa, a escolha parece ser mais intuitiva onde o eleitor, incapaz de entender propostas sérias, busca um perfil que lhe pareça mais adequado ao momento, conteúdo fica em segundo plano.
Neste pleito atual o candidato mais moderado dos Republicanos é Mitt Romney, um empresário bem sucedido e de posições menos radicais do que o habitual para seu partido, mas é visto com desconfiança por ser mórmon (só John Kennedy conseguiu chegar a presidência dos EUA não sendo protestante declarado, era católico), além disso é conhecido por aumentar impostos quando era governador de Massachusetts o que o afasta do eleitor republicano comum. Justamente por ser moderado é capaz de trazer o eleitorado independente, que é mais simpático ao Partido Democrata, mas sua moderação desanima os velhotes do partido.
   
Mitt Romney                                         Newt Gringrich                                     Rick Santorum
Outra alternativa é o desastroso Newt Gingrich , vencedor das últimas prévias. Gringrich é católico mas é bem conservador. Ex-deputado atuante é um ídolo para segmentos do partido. Mas é um desastre em público: temperamental e cheio de escândalos conjugais ele espanta o eleitorado evangélico radical que exige total retidão moral de seus candidatos. Para agradar esse público Gringrich se apresenta em eventos religiosos como um “pecador arrependido”, num truque de marketing muito eficiente num pais protestante como os EUA.
O outro candidato é Rick Santorum, uma aberração política brutal. Vencedor das primeiras prévias do partido é um ídolo da direita evangélica, defende a manutenção dos exorbitantes gastos militares (que ferraram com a economia do país). Suas posições religiosas ao muito acentuadas, ponto de dizer que não acha prudente uma mulher ser presidente pois isso não seria vontade de Deus (leia sobre isso aqui [em inglês]).
O Obama corre o risco de perder a reeleição por ter errado na recuperação econômica dos EUA ao tentar salvar os bancos privados no lugar de incentivar a produção e gerar empregos, uma postura que é clássica do Partido Republicano, justamente seus opositores. Ao não se dispor a fazer um novo New Deal Obama deixou de ser visto como uma esperança e passou a ser visto como parte do problema. Na famosa crise de 1929 a saída foi colocar dinheiro na mão dos trabalhadores, já Obama preferiu dar dinheiro aos causadores da crise (os bancos) em vez de ajudar suas vítimas. Mas o atual governo dos EUA fez reformas importantes que com certeza serão eliminadas caso Obama não se reeleja. A criação de um sistema de saúde gratuito nos EUA é uma posição revolucionária e que desperta um ódio irracional dos Republicanos já que eles são defensores do estado mínimo. Ou ainda a proposta de aumento de impostos aos mais ricos, que é excelente pois cobra mais de quem mais pode pagar e deixa mais dinheiro na mão do consumidor comum, mas que vem sendo vetada pelos Republicanos. Nos EUA os ricos pagam proporcionalmente bem menos impostos que a classe média e os pobres.
Meu palpite é que se o candidato for Mitt Romney o Obama estará em péssimos lençóis, pois a campanha de seu adversário será demolidora, com muito dinheiro investido e com o fato de Romney ter uma vida pessoal irrepreensível. Restaria a Obama apelar para o preconceito religioso da direita evangélica contra os mórmons, o que não faz o estilo dele nem de seu partido.
Se os candidatos forem Rick Santorum ou Newt Gringrich acho que o Barack Obama ganha sem precisar sair de casa. Santorum restringe o eleitorado a apenas a direita radical evangélica, assustando moderados e independentes, já Gringrich tem tantos escândalos conjugais e pessoais que será facilmente ofuscado pelas polêmicas, além de ser temperamental ao extremo o que o faz  um grande falador de bobagens comprometedoras.
Por via das dúvidas o Obama tem é que melhorar a economia dos EUA  rapidamente pois se o candidato for Romney ele vai sofrer um bocado e eu duvido que ele ganhe. Se o partido Republicano voltar ao poder nos EUA os avanços de Obama (criação de um sistema de saúde, impostos maiores aos ricos e diminuição dos gastos militares) serão todos revogados e um desastre social e político nos EUA, e talvez no mundo, estará a caminho.

sábado, 21 de janeiro de 2012

Religulous - o polêmico comediante Bill Maher lidera um documentário muito bom


Um dos memlhores documentários dos últimos tempos é o hilariante "Religulous". Ancorado pelo genial e polêmico Bill Maher o documentário toca num ponto pesado do mundo moderno: A Religião. O filme faz parte desta nova safra em que os documentários fazem críticas diretas a um tema, sem a preocupação de parecer imparcial, a intenção é de transformar o filme literalmente num panfleto.

Maher começa a investigar no filme onde estão as bases do radicalismo religioso nos EUA e pelo mundo entrevista alguns tele-evangelistas picaretas, zomba impiedosamente do vaticano e faz um confronto direto ao Islamismo da maneira que é mais irritante aos fanáticos desta crença: com humor e ironia.

O lado de humor do documentário não tira sua seriedade. É impossível não se revoltar com o fanatismo religioso que os muçulmanos estão colocado em vigor na Europa tentando transformar Maomé, o Alcorão e o Islamismo em icones que não podem ser criticados ou ironizados. Ou ainda com o fanatismo cristão dos EUA com tele-evangelistas aproveitadores (ensinaram bem a lição aos do Brasil), das teologias da prosperidade e da falsa impressão de que os líderes da Independência dos EUA,os "Founding Fathers", eram cristãos e fizeram a América em bases cristãs (na verdade os líderes da independência americana em secularistas convictos e quase nenhum ia a igreja). Melhor é quando Maher é barrado no vaticano por fazer parte de uma "lista negra" do Papa.
O toque de humor está no talento de Maher como confrontador, ao fazer perguntas complicadas aos religiosos se ouve respostas bizarras e chega a ser engraçado o esforço mental dos entrevistados para inventar justificativas a certos costumes bizarros de alguns credos religiosos

O filme também tenta mostrar como a relação promiscua entre religião e política é sinônimo de barbárie. Nos EUA maior parte dos políticos nega publicamente o evolucionismo para agradar a direita evangélica do país. Um dos melhores momentos do filme é a entrevista com o senador Mark Pryor, onde a barca furada da mistura política x religião dá uma pequena amostra do desastre anunciado que é. Segue-se o diálogo:
Maher: - Você acredita que estamos perto do dom dos tempos?
Pryor: - Sim, temos muitas evidências disso.
Maher: - E isso supostamente não tiraria a sua motivação em fazer algo bom pelas pessoas, uma vez que o mundo vai acabar?
Pryor: - ... (silencio constrangedor)

E melhor diálogo entre os dois:
Maher: - você acredita no criacionismo certo? Isso me chama a atenção, já que você, como um senador, é uma das poucas pessoas que realmente manda nesse país e me causa preocupação de que meu país seja governado por quem acredita na história da "serpente falante" (o mito de Adão e Eva)
Pryor: - Você não precisa passar por um teste de Q.I. para chegar ao senado (depois de alguns segundos faz cara de "falei bobagem")

Uma das críticas que se faz a esse documentário é que maher entrevista apenas religiosos caricatos e oportunistas e deixa de lado os religiosos sérios. Mas é aí que está a relevância do documentário, Maher corre atrás justamente daqueles que estão liderando a campanha de irracionalismo religioso pelo mundo. Não é segredo para ninguém de que hoje os líderes religiosos moderados e decentes tem tido dificuldade em manter seu rebanho e de arrebanhar novos fiéis, os líderes religiosos picaretas são mestres da arte do espetáculo e da pouca reflexão, além de se aproveitarem da ignorância alheia (uma matéria prima muitíssimo abundante). Os religiosos sérios com certeza estariam do lado do ateu Bill Maher se participassem do filme.
Nota 8,5 Um bom documentário.

Assista ao trailler: ( no Youtube há o filme completo caso você queira assistir, é bem fácil de encontrar)



quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

A dieta do palhaço - Será que somos aquilo que comemos?

 

Quando as leis de mercado são o único moderador de um segmento dá pra sentir que não existe moderação nenhuma. Quando as empresas podem praticar uma concorrência sem nenhuma regra que exija delas responsabilidade logo o desastre vai cair em quem consome.
Os EUA são a população mais gorda do mundo. a obesidade é a segunda maior causa mortis evitável do país perdendo apenas para o cigarro. Isso num país onde não há sistema de saúde pública, então adoecer pode ser a porta de entrada para a ruína financeira. Morgan Spurlock discute as causas da epidemia de obesidade que atinge os EUA e que é tendência mundial. Os métodos de Spurlock são bem  pouco ortodoxos: ele resolve transformar a si próprio numa cobaia viva que passa 30 dias se alimentado apenas de lanche do Mcdonalds (viveu na prática o sonho de qualquer criança de 9 anos). Os efeitos na sua saúde são devastadores.
As regras da experiência:
  • Deve plenamente comer em McDonald's três comidas por dia
  • Deverá escolher cada item no menu do McDonald's ao menos uma vez durante o transcurso dos 30 dias (fez em nove dias)
  • Deve ingerir só os itens do menu. Isto inclui a água engarrafada.
  • Deve escolher o tamanho "Super Size" de sua comida sempre que lhe for oferecido.
  • Deve aceitar todas as promoções oferecidas para que ele compre mais comida que a intencionada inicialmente.
  • Terá de caminhar a média que se caminha nos Estados Unidos, sobre a cifra de 5000 passos ao dia, porém isto não era rígido, já que ele caminhou relativamente mais, em comparação do que se caminha em Nova York que em Houston.
Mais do que ser uma experiência radical, quase um suicídio em longo prazo, o documentário discute como a falta de leis que regulem as empresas e a ausência de alguma agência reguladora governamental transforma o consumidor na maior vítima do processo.  As empresas bombardeiam o consumidor com toneladas de propagandas se aproveitando da ausência do Estado como regulador; a inexistência de um sistema público de saúde tira do governo dos EUA a responsabilidade em promover hábitos de vida saudáveis aos estadunidenses. Como conseqüência a população vai ficando cada vez mais gorda e alimentando a sanha devoradora do sistema de saúde privado dos EUA.
As crianças são o principal alvo das empresas de fast-food, o poder viciante destes alimentos (comprovados durante o documentário) faz dos infantes as maiores vítimas e garantia de um público futuro que será ávido consumidor destas porcarias industrializadas.
O documentário é muito bom principalmente devido a experiência bizarra ao qual Morgan se submete. Em 30 dias consome o que uma pessoa deveria consumir de fast-food em 8 anos e os efeitos na saúde são devastadores: a vida sexual é nula, Morgan vive em depressão constante, o fígado quase para de funcionar e seus músculos literalmente viram gordura.
Morgan usa técnicas de edição e de entrevista muito parecidas com a de Michael Moore, mas consegue não alimentar o mesmo ódio pelo adversário o que torna as entrevistas e depoimentos mais sóbrios.
O documentário de Spurlock é genial pela originalidade do tema e do roteiro. O filme é um belo retrato de como deixar o consumidor diante da força de propaganda das grandes corporações é um desastre anunciado. A força de coerção das grandes empresas chega a ser constrangedora, nos EUA as empresas de fast-food controlam até o fornecimento de lanches para as escolas públicas, o que vai garantir gerações futuras consumidoras destes produtos e cada vez mais obesas.
O filme também é pródigo em mostrar como essa conversa de que a “culpa não é de quem vende e sim de quem consome” não passa de balela, um engodo desleal e covarde. Não há como um cidadão médio elaborar uma opinião consistente se deve ou não consumir um produto quando a única fonte de informação é a sedutora propaganda. Não há sequer como ele próprio estabelecer, por suas próprias idéias, um limite seguro para o consumo de qualquer produto se não for informado a ele os riscos de um consumo excessivo. Pode parecer que estou considerando todas as pessoas como ingênuas e influenciáveis, mas acho que é justamente isso o que acontece. As pessoas são entupidas de informações distorcidas e  propagandas sedutoras sem ter um mínimo referencial que faça um contraditório a essa avalanche promovida pelas grandes corporações.
Esse consumo irracional, fundamentado em toneladas de propaganda e na ausência de regulamentação governamental que exija responsabilidade de quem vende, não ocorre apenas sobre nas redes de fast-food. Basta ver como as redes de TV odeiam qualquer tipo de regulação da mídia, qualquer tentativa de adequar a grade de programação a um padrão ético é imediatamente tratada como “censura” pela opinião pública.
Vender porcaria é a especialidade das grandes corporações, sejam do ramo de alimetos, informação, entretenimento, etc. e está cada vez mais difícil achar um concorrente de qualidade contra elas.
E, se o governo e a justiça dos EUA se fingem de morto diante das redes de fast-food, no Brasil o governo perde a quebra de braço na luta para atribuir responsabilidade às grandes redes de comunicação.
Voltando ao documentário: é muito bom e consegue dar bons toques de humor num tema sério  Nota 9,0
Se aguentar a espera assita aqui o documentário completo
 

Se preferir assista apenas o trailler