A pior das solidões é a solidão de idéias, quando se tem muito a dizer e ninguém disposto a escutar. Por sentir-me assim é que retorno com esse blog de audiência pífia. A intenção é justamente de pregar no deserto, falar com as pedras, correr atrás do vento. Mesmo com a aproximação um estafante fim de ano nos 4 colégios onde leciono, um projeto de mestrado para elaborar (com leituras e mais leituras se acumulando) um tempo cada vez mais escasso simplesmente vou reativar o meu blog. A intenção prática é a de pegar novamente ritmo de escrita a intenção maior é a de falar sobre aquilo que ninguém quer discutir (pelo menos não seriamente).
Coisa ingrata é lutar contra o espírito da época. Hoje sinto que ninguém mais se interessa por problema algum, pensar cansa e para se elaborar uma opinião realmente consistente sobre qualquer tema é preciso ter alguma vivência intelectual, cruzar informações usar de conhecimentos diversos que se adquire durante a vida; e simplesmente ninguém mais faz isso. O importante é lançar opiniões toscas, sem fundamento, baseadas muitos mais na “sabedoria popular” (que de sábia tem pouca coisa) do que em um exercício de pensamento realmente relevante. As redes sociais dão prova disso todo dia.
Não importa se da alma mais ignorante, daquela que assiste o Programa do Gugu e do Datena, ou do mais erudito doutor, jornalista, professor (sim, eles também), hoje é cada vez mas claro que todo mundo se percebeu que ser idiota é mais fácil do que ser inteligente. Ser um “Zé povinho” não requer prática, nem tampouco habilidade, basta querer ser um e... pronto! Daí é sair vomitando posições políticas, sociais e morais de constranger um Alborgheti .
Simplesmente vejo gente com alguma instrução usando de sua erudição para encher de pompa as idéias mais medíocres. Daí tome mais moralismos sem nexo, mais bairrismo idiota, mais exaltação de “heróis da história” e mais defesas das idéias mais reacionárias. Se acham verdadeiros “eruditos novaiorquinos” por isso quando na verdade não passam de texanos decadentes. Lêem certas revistas como se fossem uma nova Bíblia e sentem orgasmos quando algum colunista destila preconceito politicamente incorreto, com um pouco de sorte você encontrará algum dizendo “Hitler não estava tão errado” ou “a ditadura fez bem ao país, naquela época não tinha corrupção”
Já dos ignorantes habituais se espera o de sempre: o voto nos piores políticos, a rejeição a qualquer idéia realmente coerente, os preconceitos comuns, as correntes ridículas nos facebooks da vida, os modos rudes e grosseiros, a apreciação de humor chulo, e o uso da ignorância como argumento ( agora engrossado com o endosso dos pseudo-eruditos que usam sua formação para legitimar as opiniões dos “Zé povinhos”).
Daí não raro que os discursos de pessoas aparentemente díspares em suas posições sociais (“eruditos” e ignorantes, sem distinção de classe social) se assemelhem tanto: “antigamente existia respeito”; “os valores da família não são mais respeitados, por isso o mundo está assim”; “a culpa é da falta de Deus na sociedade”; “esses negros são uns preguiçosos que se escondem por trás das cotas”; “os gays tem ódio dos héteros”; “Politico X é bom porque é igual ao povo”; “Quem critica nossa cidade é porque sente raiva dela”, “fulano de tal é um herói de nossa história, devemos a ele nosso desenvolvimento”; “quem se importa com a cultura dos índios, é tudo um bando de maconheiro”, isso entre outras infinidades de pérolas. No Facebook essas “opiniões” vem acompanhadas de mensagens religiosas e/ou motivacionais tiradas do perfil de alguma banda de forró, padre cantor, ou jogador de futebol. (isso fora as citações falsas)
Daí qualquer um que tente desafiar a mediocridade geral e irrestrita (globalização funcionou até nisso, hein?!) é tratado como pária social, seja nas redes sociais, seja no trabalho, seja entre os conhecidos no dia-a-dia. Um texto mais longo ninguém quer ler, uma opinião mais longa e abalizada ninguém quer ouvir, uma música com uma letra que preste ninguém quer escutar. Um livro que tenha alguma profundidade, com muitas linhas? Pufffffs, aí é que ninguém nem chega perto.
Não se trata de consumir apenas o erudito, de buscar apenas ser intelectual, ou desprezar todas as formas de entretenimento e distrações mais populares, isso é impossível (além do óbvio fato de que algo ser popular não significa que necessariamente seja ruim). Eu gosto de músicas populares, de piadas bobas e conversas despretensiosas; também assisto novela e (muito) futebol, também falo bobagens. O problema é que as pessoas simplesmente estão declarando uma guerra contra qualquer tipo de pensamento mais elaborado, e sinceramente não acho que exista quem despreze o conhecimento e a inteligência por algum tipo de determinismo social ou algo que o valha. Todos esses “Zé povinhos”, com diploma na mão ou não, sabem que defendem um ideal de vida degradante onde o cinismo é o principal sustentáculo, os valores aceitos socialmente hoje são tão degradantes que apenas alguém com sérios problemas os defenderia por convicção genuína. Até o mais radical hedonismo tem seus limites.
Por isso ressuscitei o blog, para ser a minha trincheira pessoal contra esse espírito que corrói essa época. Não que eu seja um gênio, um messias, um guru (Zeus me livre disso), mas esse consenso construído pelo imobilismo das mentes é simplesmente opressor para alguém que sempre admirou a curiosidade, o desafio contras as tradições, um debate aberto e pleno sobre qualquer tema, a ausência de tabus intelectuais. Minhas idéias são simplórias em sua maioria, mas não são formadas a partir do nada, da doutrinação, muito menos da mediocridade geral.
É claro que me envergonho de muitos textos que escrevi aqui no blog (porque o texto foi pobre, argumentação foi falha e a gramática ruim, o tema foi irrelevante, ou porque simplesmente mudei de opinião sobre o assunto), mas também sinto orgulho de outros textos que escrevi, vez por outra posto o link no twitter e no Facebook e, como de costume, ninguém lê.
Esse blog nunca moderou um único comentário, ninguém nunca o considerou relevante para tal (a postagem de maior audiência foi sobre futebol), mas é meu grito solitário em prol de algum debate de idéias que vá realmente ao âmago das coisas e contra esse debate de surdos travado por essa época que idolatra a futilidade e a ignorância.
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