quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

O Santa Cruz Futebol clube contra a "tática do pivete"

 


Os batedores de carteira das grandes cidades têm uma tática bem inteligente na hora de dissimular seus roubos: quando passam a mão na carteira de algum pobre diabo e percebem que este o flagrou o delinqüente começa a gritar enquanto corre “pega ladrão! pega ladrão!” para disfarçar dos demais transeuntes a atenção de seu roubo e transmití-la para um roubo imaginário. No fim das contas o batedor de carteira sai ileso e o cidadão roubado nada pode fazer.
No futebol pernambucano os dirigentes do Sport Clube do Recife usam da mesma estratégia para tentar desestabilizar o campeonato e pressionar os árbitros a dar aquela ajudinha ao time vermelho e preto quando eles não conseguem ganhar sozinhos.  Esse ano o Santa Cruz começou razoavelmente bem o campeonato, vencendo 3 dos 4 jogos e mostrando superioridade sobre os adversários mesmo estando ainda longe do futebol ideal. Sabendo a pedreira que vão encarar pela frente os dirigentes rubro-negros, em especial um tal de Guilherme Beltrão, já começam a alegar um possível favorecimento ao Santa Cruz por parte das arbitragens. A intenção é pressionar a federação e os árbitros criando um clima de desconfiança para forçar futuros erros em favor do Sport. (entendeu a semelhança com o batedor de carteiras?)
Vamos aos fatos:
O Santa Cruz teve, em suas três vitórias no atual campeonato, jogadores adversários expulsos e 3 pênaltis marcados em seu favor (todos muito claros), eu gostaria bastante que alguém me mostrasse qual das expulsões de adversários não foi justa. Contra o Belo Jardim o defensor foi expulso por uma entrada desleal que se acerta o jogador era capaz de quebra-lhe a perna; contra o Serra Talhada o defensor puxou a camisa do nosso atacante impedindo um ataque em velocidade, tomou o segundo amarelo; contra o Ypiranga o volante Junior Terceiro foi expulso por dois amarelos (uma mão na bola dentro da área e uma falta em Natan durante um ataque do Santa Cruz).
Se o Santa vem ganhando jogos essa tática da direção rubro-negra não deveria incomodar, mas é melhor tomar cuidado pois isso já nos tirou um título pernambucano.
Em 2006 o Santa venceu o primeiro turno do pernambucano e lutava pelo bicampeonato. No primeiro turno haviam sido marcados 5 pênaltis em favor do time coral (todos corretamente, diga-se) e isso foi o bastante para que a então diretoria do Sport colocasse a tática do batedor de carteiras. Homero Lacerda ia a todas as rádios acusar um favorecimento ao Santa Cruz por parte dos árbitros, que o Sport era prejudicado e blá, blá, blá... Como a diretoria tricolor (na época presidida pelo desastroso Romerito Jatobá) se calou, a conversa de Homero ganhou corpo e a arbitragem começou a sabotar o time Coral. Na 7ª rodada do segundo turno o Sport liderava com 1 ponto a mais do que o Santa, uma vitória no clássico contra o time da ilha e passaríamos a frente, venceríamos o segundo turno e seríamos bicampeões. O que aconteceu? O Sport só empatou o jogo porque a arbitragem anulou um gol legalíssimo de Júnior Maranhão que daria a vitória e a liderança do turno ao Santa. No dia seguinte Homero Lacerda e os demais diretores do Sport se mantiveram calados, a estratégia havia dado certo e o Santa, com sua carteira roubada, nada podia fazer. Para os rubro-negros pressionar a arbitragem valeu muito e é isso que eles tentam fazer agora.
O Sport entrou nessa de desviar a atenção para arbitragem para não levantar a questão de como é bem possível que esse ano o Santa seja de novo campeão com uma folha salarial 3 vezes menor que a do elenco rubro-negro (Santa tem folha de 500 mil enquanto o Sport de 1,5 milhão), que mesmo duas divisões abaixo no cenário nacional o Santa vença mais uma vez.
O Santa Cruz Futebol Clube está voltando a ser o grande clube que nunca deveria deixar de ter sido, tem sido bem administrado e tem tido bons resultados em campo. Nas arquibancadas, nas audiências de TV e nas camisas nas ruas a maioria Coral é esmagadora, e isso incomoda aos Outros FC .
Vamos ganhar mais uma vez com a raça em campo e o grito das arquibancadas e nenhum juiz covarde vai nos impedir. Aos diretores e torcedores do Sport restará o que vai ser rotina para eles nos próximos anos: choro livre

Para encerrar uma pequena foto da nossa torcida no jogo de ontem:

 
Segundo o jornalista Cássio Zirpoli o público de "apenas" 24.525 pessoas é muito difícil de acreditar. Com certeza tinha bem mais.


domingo, 22 de janeiro de 2012

Quem será o cavaleiro da barbárie contra Obama?

                      

Sou viciado na política americana, acho que todo o processo de escolha de um candidato a presidente algo muito interessante. Esse esquema das prévias eleitorais em cada Estado é muito prodigioso pois força os candidatos a aparecer e buscar apoio dos filiados do partido para ser o candidato a presidente. Aqui no Brasil é a cúpula dos partidões que decidem os candidatos a presidência, nenhuma corrente política é consultada, o PT e PSDB são exemplos disso.
Antes de discorrer sobre o que acho que vai acontecer nas eleições dos EUA é preciso entender algumas coisas sobre os EUA e seu povo. Os EUA são a vanguarda tecnológica e científica do mundo, tem a economia mais forte e a democracia mais sólida, mas isso não é exatamente mérito do povo estadunidense. Os EUA são um país educacionalmente fraco, onde apenas sendo alguém muito endinheirado para ter um curso superior numa faculdade de respeito, ou sendo um gênio para conseguir bolsas de estudo. As grandes faculdades dos EUA, ao contrário do Brasil, são privadas e um filho da classe média que consiga uma vaga nessas universidades é forçado a adquirir um empréstimo estudantil em bancos privados e que provavelmente o manterá endividado por anos.
Nesse contexto o cidadão médio dos EUA não enxerga no conhecimento uma possibilidade de ascensão social, prefere trabalhar duro para conseguir realizar o “sonho americano”. Daí se forja populações inteiras que literalmente desprezam o conhecimento e passam a ver a polidez e a intelectualidade como arrogância. Esse vácuo educacional que assola a população faz com que as bases sociais sejam bem menos racionais do que aquilo que a propaganda cultural estadunidense mostra ao mundo. A religiosidade calvinista não encontrou durante muitos anos nenhum contra poder na construção do imaginário social dos EUA e isso trouxe suas conseqüências boas e más: de um lado criou uma população super competitiva e que enxerga a riqueza como sinal da salvação espiritual, o que faz o indivíduo muito predisposto ao trabalho; por outro lado a população dos EUA desenvolveu um individualimo extremo, uma insensibilidade social grotesca e, devido a esse excesso de religiosidade aliada ao déficit educacional, um analfabetismo científico e intelectual que atinge a maioria esmagadora da população. (basta notar que na cultura dos EUA há uma exaltação do ignorante brutamontes que é bom nos esportes e nas lutas enquanto o intelectual é mostrado de maneira vexatória.). Outra característica dos EUA é também o partidarismo exagerado, especialmente do partido mais conservador, o Republicano.
[Nota: acabei de perceber  como a formação cultural dos EUA é bem parecida com a de Santa Cruz do Capibaribe. Com exceção da influência calvinista, Santa cruz parece um microcosmo do que acontece nos EUA)
Esse americano comum é chamado de John Doe (algo como “João Ninguém”), cineasta e escritor Michael Moore chama com muita propriedade essa figura de “Stupid White Man” (Homem branco estúpido). É esse o eleitorado de classe média, muito religioso e conservador e com pouca escolaridade que é a base eleitoral do Partido Republicano dos EUA, justamente o partido que mais venceu eleições e que hoje faz oposição ao presidente Obama que é do Partido Democrata.
O sistema de prévias dos EUA mostra bem como o eleitorado do país é um tanto ignorante e passa, sem aviso prévio, do estado de irredutibilidade ao de ser facilmente manipulável, o que caracteriza dois extremos perigosos. Os atuais postulantes a candidatura representam bem essa marca do eleitorado. É engraçado como as propostas do candidato se mostram  insignificantes para o eleitor diante da imagem que o político passa, a escolha parece ser mais intuitiva onde o eleitor, incapaz de entender propostas sérias, busca um perfil que lhe pareça mais adequado ao momento, conteúdo fica em segundo plano.
Neste pleito atual o candidato mais moderado dos Republicanos é Mitt Romney, um empresário bem sucedido e de posições menos radicais do que o habitual para seu partido, mas é visto com desconfiança por ser mórmon (só John Kennedy conseguiu chegar a presidência dos EUA não sendo protestante declarado, era católico), além disso é conhecido por aumentar impostos quando era governador de Massachusetts o que o afasta do eleitor republicano comum. Justamente por ser moderado é capaz de trazer o eleitorado independente, que é mais simpático ao Partido Democrata, mas sua moderação desanima os velhotes do partido.
   
Mitt Romney                                         Newt Gringrich                                     Rick Santorum
Outra alternativa é o desastroso Newt Gingrich , vencedor das últimas prévias. Gringrich é católico mas é bem conservador. Ex-deputado atuante é um ídolo para segmentos do partido. Mas é um desastre em público: temperamental e cheio de escândalos conjugais ele espanta o eleitorado evangélico radical que exige total retidão moral de seus candidatos. Para agradar esse público Gringrich se apresenta em eventos religiosos como um “pecador arrependido”, num truque de marketing muito eficiente num pais protestante como os EUA.
O outro candidato é Rick Santorum, uma aberração política brutal. Vencedor das primeiras prévias do partido é um ídolo da direita evangélica, defende a manutenção dos exorbitantes gastos militares (que ferraram com a economia do país). Suas posições religiosas ao muito acentuadas, ponto de dizer que não acha prudente uma mulher ser presidente pois isso não seria vontade de Deus (leia sobre isso aqui [em inglês]).
O Obama corre o risco de perder a reeleição por ter errado na recuperação econômica dos EUA ao tentar salvar os bancos privados no lugar de incentivar a produção e gerar empregos, uma postura que é clássica do Partido Republicano, justamente seus opositores. Ao não se dispor a fazer um novo New Deal Obama deixou de ser visto como uma esperança e passou a ser visto como parte do problema. Na famosa crise de 1929 a saída foi colocar dinheiro na mão dos trabalhadores, já Obama preferiu dar dinheiro aos causadores da crise (os bancos) em vez de ajudar suas vítimas. Mas o atual governo dos EUA fez reformas importantes que com certeza serão eliminadas caso Obama não se reeleja. A criação de um sistema de saúde gratuito nos EUA é uma posição revolucionária e que desperta um ódio irracional dos Republicanos já que eles são defensores do estado mínimo. Ou ainda a proposta de aumento de impostos aos mais ricos, que é excelente pois cobra mais de quem mais pode pagar e deixa mais dinheiro na mão do consumidor comum, mas que vem sendo vetada pelos Republicanos. Nos EUA os ricos pagam proporcionalmente bem menos impostos que a classe média e os pobres.
Meu palpite é que se o candidato for Mitt Romney o Obama estará em péssimos lençóis, pois a campanha de seu adversário será demolidora, com muito dinheiro investido e com o fato de Romney ter uma vida pessoal irrepreensível. Restaria a Obama apelar para o preconceito religioso da direita evangélica contra os mórmons, o que não faz o estilo dele nem de seu partido.
Se os candidatos forem Rick Santorum ou Newt Gringrich acho que o Barack Obama ganha sem precisar sair de casa. Santorum restringe o eleitorado a apenas a direita radical evangélica, assustando moderados e independentes, já Gringrich tem tantos escândalos conjugais e pessoais que será facilmente ofuscado pelas polêmicas, além de ser temperamental ao extremo o que o faz  um grande falador de bobagens comprometedoras.
Por via das dúvidas o Obama tem é que melhorar a economia dos EUA  rapidamente pois se o candidato for Romney ele vai sofrer um bocado e eu duvido que ele ganhe. Se o partido Republicano voltar ao poder nos EUA os avanços de Obama (criação de um sistema de saúde, impostos maiores aos ricos e diminuição dos gastos militares) serão todos revogados e um desastre social e político nos EUA, e talvez no mundo, estará a caminho.

sábado, 21 de janeiro de 2012

Religulous - o polêmico comediante Bill Maher lidera um documentário muito bom


Um dos memlhores documentários dos últimos tempos é o hilariante "Religulous". Ancorado pelo genial e polêmico Bill Maher o documentário toca num ponto pesado do mundo moderno: A Religião. O filme faz parte desta nova safra em que os documentários fazem críticas diretas a um tema, sem a preocupação de parecer imparcial, a intenção é de transformar o filme literalmente num panfleto.

Maher começa a investigar no filme onde estão as bases do radicalismo religioso nos EUA e pelo mundo entrevista alguns tele-evangelistas picaretas, zomba impiedosamente do vaticano e faz um confronto direto ao Islamismo da maneira que é mais irritante aos fanáticos desta crença: com humor e ironia.

O lado de humor do documentário não tira sua seriedade. É impossível não se revoltar com o fanatismo religioso que os muçulmanos estão colocado em vigor na Europa tentando transformar Maomé, o Alcorão e o Islamismo em icones que não podem ser criticados ou ironizados. Ou ainda com o fanatismo cristão dos EUA com tele-evangelistas aproveitadores (ensinaram bem a lição aos do Brasil), das teologias da prosperidade e da falsa impressão de que os líderes da Independência dos EUA,os "Founding Fathers", eram cristãos e fizeram a América em bases cristãs (na verdade os líderes da independência americana em secularistas convictos e quase nenhum ia a igreja). Melhor é quando Maher é barrado no vaticano por fazer parte de uma "lista negra" do Papa.
O toque de humor está no talento de Maher como confrontador, ao fazer perguntas complicadas aos religiosos se ouve respostas bizarras e chega a ser engraçado o esforço mental dos entrevistados para inventar justificativas a certos costumes bizarros de alguns credos religiosos

O filme também tenta mostrar como a relação promiscua entre religião e política é sinônimo de barbárie. Nos EUA maior parte dos políticos nega publicamente o evolucionismo para agradar a direita evangélica do país. Um dos melhores momentos do filme é a entrevista com o senador Mark Pryor, onde a barca furada da mistura política x religião dá uma pequena amostra do desastre anunciado que é. Segue-se o diálogo:
Maher: - Você acredita que estamos perto do dom dos tempos?
Pryor: - Sim, temos muitas evidências disso.
Maher: - E isso supostamente não tiraria a sua motivação em fazer algo bom pelas pessoas, uma vez que o mundo vai acabar?
Pryor: - ... (silencio constrangedor)

E melhor diálogo entre os dois:
Maher: - você acredita no criacionismo certo? Isso me chama a atenção, já que você, como um senador, é uma das poucas pessoas que realmente manda nesse país e me causa preocupação de que meu país seja governado por quem acredita na história da "serpente falante" (o mito de Adão e Eva)
Pryor: - Você não precisa passar por um teste de Q.I. para chegar ao senado (depois de alguns segundos faz cara de "falei bobagem")

Uma das críticas que se faz a esse documentário é que maher entrevista apenas religiosos caricatos e oportunistas e deixa de lado os religiosos sérios. Mas é aí que está a relevância do documentário, Maher corre atrás justamente daqueles que estão liderando a campanha de irracionalismo religioso pelo mundo. Não é segredo para ninguém de que hoje os líderes religiosos moderados e decentes tem tido dificuldade em manter seu rebanho e de arrebanhar novos fiéis, os líderes religiosos picaretas são mestres da arte do espetáculo e da pouca reflexão, além de se aproveitarem da ignorância alheia (uma matéria prima muitíssimo abundante). Os religiosos sérios com certeza estariam do lado do ateu Bill Maher se participassem do filme.
Nota 8,5 Um bom documentário.

Assista ao trailler: ( no Youtube há o filme completo caso você queira assistir, é bem fácil de encontrar)



quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

A dieta do palhaço - Será que somos aquilo que comemos?

 

Quando as leis de mercado são o único moderador de um segmento dá pra sentir que não existe moderação nenhuma. Quando as empresas podem praticar uma concorrência sem nenhuma regra que exija delas responsabilidade logo o desastre vai cair em quem consome.
Os EUA são a população mais gorda do mundo. a obesidade é a segunda maior causa mortis evitável do país perdendo apenas para o cigarro. Isso num país onde não há sistema de saúde pública, então adoecer pode ser a porta de entrada para a ruína financeira. Morgan Spurlock discute as causas da epidemia de obesidade que atinge os EUA e que é tendência mundial. Os métodos de Spurlock são bem  pouco ortodoxos: ele resolve transformar a si próprio numa cobaia viva que passa 30 dias se alimentado apenas de lanche do Mcdonalds (viveu na prática o sonho de qualquer criança de 9 anos). Os efeitos na sua saúde são devastadores.
As regras da experiência:
  • Deve plenamente comer em McDonald's três comidas por dia
  • Deverá escolher cada item no menu do McDonald's ao menos uma vez durante o transcurso dos 30 dias (fez em nove dias)
  • Deve ingerir só os itens do menu. Isto inclui a água engarrafada.
  • Deve escolher o tamanho "Super Size" de sua comida sempre que lhe for oferecido.
  • Deve aceitar todas as promoções oferecidas para que ele compre mais comida que a intencionada inicialmente.
  • Terá de caminhar a média que se caminha nos Estados Unidos, sobre a cifra de 5000 passos ao dia, porém isto não era rígido, já que ele caminhou relativamente mais, em comparação do que se caminha em Nova York que em Houston.
Mais do que ser uma experiência radical, quase um suicídio em longo prazo, o documentário discute como a falta de leis que regulem as empresas e a ausência de alguma agência reguladora governamental transforma o consumidor na maior vítima do processo.  As empresas bombardeiam o consumidor com toneladas de propagandas se aproveitando da ausência do Estado como regulador; a inexistência de um sistema público de saúde tira do governo dos EUA a responsabilidade em promover hábitos de vida saudáveis aos estadunidenses. Como conseqüência a população vai ficando cada vez mais gorda e alimentando a sanha devoradora do sistema de saúde privado dos EUA.
As crianças são o principal alvo das empresas de fast-food, o poder viciante destes alimentos (comprovados durante o documentário) faz dos infantes as maiores vítimas e garantia de um público futuro que será ávido consumidor destas porcarias industrializadas.
O documentário é muito bom principalmente devido a experiência bizarra ao qual Morgan se submete. Em 30 dias consome o que uma pessoa deveria consumir de fast-food em 8 anos e os efeitos na saúde são devastadores: a vida sexual é nula, Morgan vive em depressão constante, o fígado quase para de funcionar e seus músculos literalmente viram gordura.
Morgan usa técnicas de edição e de entrevista muito parecidas com a de Michael Moore, mas consegue não alimentar o mesmo ódio pelo adversário o que torna as entrevistas e depoimentos mais sóbrios.
O documentário de Spurlock é genial pela originalidade do tema e do roteiro. O filme é um belo retrato de como deixar o consumidor diante da força de propaganda das grandes corporações é um desastre anunciado. A força de coerção das grandes empresas chega a ser constrangedora, nos EUA as empresas de fast-food controlam até o fornecimento de lanches para as escolas públicas, o que vai garantir gerações futuras consumidoras destes produtos e cada vez mais obesas.
O filme também é pródigo em mostrar como essa conversa de que a “culpa não é de quem vende e sim de quem consome” não passa de balela, um engodo desleal e covarde. Não há como um cidadão médio elaborar uma opinião consistente se deve ou não consumir um produto quando a única fonte de informação é a sedutora propaganda. Não há sequer como ele próprio estabelecer, por suas próprias idéias, um limite seguro para o consumo de qualquer produto se não for informado a ele os riscos de um consumo excessivo. Pode parecer que estou considerando todas as pessoas como ingênuas e influenciáveis, mas acho que é justamente isso o que acontece. As pessoas são entupidas de informações distorcidas e  propagandas sedutoras sem ter um mínimo referencial que faça um contraditório a essa avalanche promovida pelas grandes corporações.
Esse consumo irracional, fundamentado em toneladas de propaganda e na ausência de regulamentação governamental que exija responsabilidade de quem vende, não ocorre apenas sobre nas redes de fast-food. Basta ver como as redes de TV odeiam qualquer tipo de regulação da mídia, qualquer tentativa de adequar a grade de programação a um padrão ético é imediatamente tratada como “censura” pela opinião pública.
Vender porcaria é a especialidade das grandes corporações, sejam do ramo de alimetos, informação, entretenimento, etc. e está cada vez mais difícil achar um concorrente de qualidade contra elas.
E, se o governo e a justiça dos EUA se fingem de morto diante das redes de fast-food, no Brasil o governo perde a quebra de braço na luta para atribuir responsabilidade às grandes redes de comunicação.
Voltando ao documentário: é muito bom e consegue dar bons toques de humor num tema sério  Nota 9,0
Se aguentar a espera assita aqui o documentário completo
 

Se preferir assista apenas o trailler 


terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Uma celebração a vida e um protesto contra a morte



No fim deste mês farão dois anos da morte de Artur Correa, não consegui esperar até a data para escrever sobre ele. De uns dias pra cá tem a lembrança dele tem sido muito forte pra mim.
Conheci Artur em 2005 e não fui com a cara dele de imediato. Tinha uma calma no falar que muito me parecia com arrogância, uma tranqüilidade que de início me causava irritação. Ao tronar-me amigo dele conheci uma figura única, talvez o ser humano mais completo que conheci.
Vivemos anos intensos de nossa amizade, tenho uma dívida com ele por seu companheirismo e integridade que jamais poderei pagar. Entramos em causas perdidas, barcas furadas, mas ele nunca abandonou o barco. Foi honesto, fiel  e sincero comigo até as últimas conseqüências, me encorajou nos momentos difíceis e sempre me dava um bom motivo para manter a cabeça erguida.
Artur também era um grande amigo para boas conversas, daquelas de varar madrugadas. Nos últimos dias venho lembrando de um domingo a noite onde passamos eu, ele, Gilson e Clarissa conversando até a madrugada na rua, falando e rindo alto, tomando cervejas (Arthur fingia que bebia) e depois correndo pelas ruas como moleques brincando de “toca”. São ótimas lembranças.
É impossível descrever em palavras o quanto Artur era uma pessoa marcante, nunca o vi negar ajuda a ninguém, sempre tinha conselhos muito sensatos e mesmo nas situações mais tensas e nas discussões mais fortes jamais alterava o tom da voz. Era capaz de manter a cabeça no lugar e tinha uma leitura apurada das situações e das intenções das pessoas. Conviver com ele faz muita falta, as vezes quando me pego diante de algum dilema ou problema penso “o que Artur me diria?”.  Nas poucas vezes em que passo perto de sua antiga casa lembro dos domingos que passávamos tomando vento e conversando bobagens, aperta uma saudade enorme.
Quando foi descoberto que Artur tinha um tumor no cérebro todos meio que intuíam o que aconteceria. A gravidade da situação denunciava um fim iminente. A figura de Artur tão debilitado, com um lado do corpo com os movimentos comprometidos e com a fala dificultada era uma facada sem misericórdia no peito. Nas últimas semanas de vida ele perdeu o contato efetivo com o mundo, o corpo ficou totalmente debilitado e ele perdeu a capacidade de falar. Sobrou apenas um movimento quase imperceptível em uma das mãos e o movimento dos olhos. Imagino o quanto foi difícil para ele passar os últimos dias sem poder conversar com aqueles a quem amava, sem poder se despedir e falar últimas palavras que serviriam de alento para seus parentes.
Mesmo sabendo que o falecimento do meu amigo era questão de tempo uma sensação boa me acompanhava. Eu e meus amigos sabíamos que nunca haviamos precisado sentir a ameaça de perdê-lo para reconhecer o quanto ele era importante. Sempre que estivemos juntos celebramos nossa amizade e isso me deixa orgulhoso além de transformar a saudade que hoje sinto dele em algo mais suportável. Quando seu problema de saúde surgiu isso apenas acentuou o que já sentíamos por ele.
Mais do que repetir o texto padrão de “bom amigo, bom filho, bom rapaz” Artur representa pra mim uma figura ímpar, que escolheu fazer de sua vida uma obra de arte, que optou por se manter acordado enquanto o mundo ao redor escolheu o sono, que quando todos pararam resolveu caminhar, que jamais se deixou levar pela iminência da morte e fez de seu próprio fim um protesto em favor da vida, da coragem, do sonho. Tanto que hoje ele permanece muito vivo de outras formas.
Uma figura como Artur deveria ter sido conhecida pelo mundo, por isso faço questão de que as pessoas saibam que um dia houve alguém como ele, capaz de sentir um amor sincero pelas pessoas sem exigir absolutamente nada em troca e de se oferecer para ajudar os amigos em seus sofrimentos apenas pelo prazer em fazer o que é certo. Manterei a memória dele viva.
Se o mundo não o conheceu, azar do mundo. Eu o conheci.

Das Tripas Coração

Lobão

Quem foi que disse a você, quero saber
Que perder é o mesmo que esperar?
Quero saber quem é que vai ficar tranquilo
perdido na beira do abismo, sangrando?
Se você pudesse ter alguém de joelho aos teus pés
A pedir o teu final
Sussurrando todo seu calor na tua orelha
Procurando uma palavra que não fosse em vão
Que fizesse você compreender...
Que eu abandono meu lugar rasgando as veias
Derramando o meu amor pelas areias
Anuncio um lindo sol radiante
A última alvorada em teu semblante
E na perfeição de um céu sem sombras
A gente vai se encontrar
Quem é que vai zombar desse Deus trapaceiro
Nesse Rio de Janeiro
Quem é que vai anunciar a próxima atração
E uivar pra lua cheia gargalhar dos tormentos do mundo
Quem é que vai ficar sorrindo jogando palavras ao mar
Vendo a terra toda estremecer
Quero saber quem é que vai guardar toda essa dor
De ficar sozinho no convés sem a tripulação
Sou eu...
Que abandono meu lugar rasgando as veias
Derramando o meu amor pelas areias
Anuncio um lindo sol radiante
A última alvorada em teu semblante
E na perfeição de um céu sem sombras
A gente vai se encontrar
E das tripas coração mais uma tarde
Pra levar o meu amor pra eternidade
Meu amigo, por favor, me aguarde
Que a gente vai se encontrar
Que a gente vai se encontrar


sábado, 14 de janeiro de 2012

Sobre Globo e Record


Nessa briga entre Globo e Record não é muito difícil saber qual lado escolher: o da Globo. Mais do que achar que a TV dos Marinho é melhor em programação, qualidade jornalística e em postura enquanto empresa de comunicação; acho que a TV Globo é mais relevante e menos prejudicial no tipo de informação e entretimento oferecidos a população do que a TV de Edir Macedo . Além de, lógico, sempre lembrar que a Record hoje compete com a Globo menos por seu sucesso empresarial e muito mais pelo dinheiro dos dízimos e ofertas doados aos montes pelos crédulos fiéis da Igreja Universal.  Aviso de antemão que não esqueço os desvios editoriais da Globo, suas manipulações, suas baixarias exibidas em programas esdrúxulos e sua aliança com a ditadura militar que governou o Brasil de 1964 até 1985; mas o que discuto é a disputa entre a TV Globo e a TV Record, e como acho que no fim das contas a Record vai acabar perdendo e feio.
A Globo perdeu vários atores e artistas (todos antigos sucessos já decadentes ou atores de segunda linha na emissora) para a Record, perdeu o direito sobre as Olimpíadas e o Pan-Americano e teve seus direitos de transmissão do brasileirão ameaçados pela Record (a Globo teve que pagar cotas altíssimas ao clubes para não perder as transmissões), mas o leque de artimanhas da TV do Edir está se esgotando.
O tiro certeiro dado pela emissora dos Marinho foi apostar na falta de unidade das igrejas evangélicas, na competitividade e busca desenfreada (e desavergonhada) por dinheiro promovida pelos grandes tele-evangelistas do Brasil. Para a Globo bastou trazer grandes artistas da música gospel para o cast da Som Livre e estabelecer uma aliança com outros pastores influentes (Silas Malafaia, Valdomiro Santiago) para abocanhar parte do público mais cobiçado do país. O crescimento econômico e a ascensão econômica das classes D e E, justamente o nicho onde as igrejas tem tido mais êxito, fez as Organizações Globo ver onde estava a “galinha dos ovos de ouro” para recuperar a audiência perdida. A TV carioca era vista, já fazia muito tempo, como “inimiga” dos evangélicos e nunca rejeitou publicamente esse rótulo, mas agora tenta concertar o estrago feito.
O entrevero entre Globo e evangélicos começa de fato em 1989, quando a Igreja Universal compra a TV Record. Logo a emissora carioca viu que a ousadia de Edir Macedo ia trazer dor de cabeça. Uma rede de TV alimentada pelo dízimo de fiéis, que já eram conhecidos na época pelo fanatismo, ia ser mais eficiente financeiramente do que uma empresa alimentada pelo mercado publicitário.
Diante da nova concorrente e com a certeza de que ela traria problemas ao predomínio da vênus  platinada no Brasil a Globo cuidou em dar um belo cartão de visitas: em 1989 um Globo Repórter demolidor sobre a Igreja Universal e Edir Macedo.
Veja o vídeo:


Os efeitos a partir daí se tornaram contraditórios, por um lado a Globo conseguiu mostrar Edir Macedo como um charlatão da fé  e por tabela  isso atingia a credibilidade da sua emissora (que demorou um bocado para emplacar na audiência, só atingindo o 2° lugar no Ibope a partir de 2004). Por outro lado a Globo passou a contar com a antipatia dos evangélicos. A rivalidade entre as várias denominações não era tão nítida como é hoje, assim os evangélicos viam os fiéis da Universal como “irmãos excêntricos”, daí entendiam os ataques da TV de Roberto Marinho contra Edir Macedo como se fossem dirigidos aos crentes de todas denominações. Para piorar o quadro a Globo usava novelas e mini-séries para caricaturar os pastores e os fiéis da Universal, mas isso acabava sendo considerado como um ataque a todos os evangélicos. A Globo realmente usou sua esmagadora audiência para tentar passar uma imagem negativa dos cristãos-protestantes, tentar a todo custo frear o evidente avanço do protestantismo neo-pentecostal do país, mas chegou a um exagero absurdo.
A minissérie “Decadência”, de 1995, mostrava Edson Celulari na figura de um pastor corrupto, que enriquecia as custas da fé dos fiéis. O gestual e as falas do personagem são claramente copiadas de Edir Macedo. Mas a pior da minissérie é que elas mostravam os fiéis evangélicos de forma muito depreciativa, tanto houveram cenas que insinuavam que algumas moças chegavam a transar com o pastor como uma forma de “chegar a Deus”.

Na novela “Meu Bem Querer”, de 1998, os fiéis de uma Igreja evangélica são mostrados como figuras caricatas, fanáticas e um tanto mal-educadas. Além disso o filho do pastor Bilac Maciel (um pastor honesto interpretado por Mauro Mendonça), o também pastor Julião Mourão (interpretado por Leonardo Brício) estupra a própria cunhada para satisfazer um desejo amoroso escondido.
Diante desta sorte de impropérios a Globo vestiu a carapuça de inimiga dos evangélicos e estava cavando a sua perda de audiência que hoje está se deflagrando. Como efeito colateral mais grave, ao meu ver, esta caracterização desrespeitosa dos fiéis protestantes tirou também credibilidade jornalística da TV Globo. As denúncias contra a Universal, todas verdadeiras, não eram levadas a sério já que quase toda a audiência, inclusive não evangélicos, entendiam as matérias como fruto da rivalidade Globo x Record e não de uma apuração jornalística séria.
A partir dos anos 2000 a Record passou a incomodar de vez e contou para isso também com os vacilos da emissora carioca. A Globo passou 6 anos dividindo as transmissões do brasileirão com a Record na intenção de diminuir os gastos com a compra dos direitos de transmissão que se quisesse poderiam ser exclusivos dela. A audiência dos jogos ajudou a divulgar a grade de programação da Record, que logo cresceu em audiência e se consolidou em 2° lugar.
Mas como a Record conseguiu competir em qualidade e audiência com a TV Globo? A resposta todos sabem: financiamento indireto da Igreja Universal. Com o dinheiro dos fiéis a igreja passou a entupir os cofres da emissora de dinheiro e isso se refletiu na qualidade dos programas e do jornalismo. O esquema é simples: a Igreja Universal compra os horários da madrugada da TV Record com preços muito acima dos de mercado, esse dinheiro é que dá suporte financeiro para a emissora. Se a Record dependesse apenas do mercado publicitário jamais conseguiria competir financeiramente com a Globo, a emissora carioca tem audiência 3 vezes maior que a Record. Mas ao utilizar o dinheiro dos fiéis, que é isento de impostos, através de um financiamento supervalorizado a emissora do Edir cresceu muito, de uma forma tão imoral que o ministério público não podia ficar calado. As investigações do ministério público devem ter feito a direção das Organizações Globo ter orgasmos múltiplos:

Agora a Globo para dar um xeque mate na Record percebeu que a situação era apostar no racha e na competitividade das igrejas evangélicas. Passou a estabelecer alianças com pastores dissidentes da Universal (Waldomiro Santiago) e com antigos amigos de Edir hoje desafetos (Silas Malafaia) dando-lhes espaço nos telejornais, personagens mais amigáveis em novelas e promovendo festivais de música gospel (Promessas). Contratou para o cast da Som Livre grandes nomes da música evangélica (Diante do Trono como carro chefe) e hoje os artistas golpel ocupam um espaço considerável nas chamadas dos intervalos dos programas globais. O fato é que a Globo sempre foi a vitrine sonhada pelos evangélicos para seus projetos de expansão e aquisição de fiéis (Silas Malafaia já disse que sonha com um programa na Globo ) e a emissora dos Marinho acabou quebrando o monopólio da divulgação evangélica da Record.
O golpe foi tão certeiro que a Record passou agora a ser mal vista entre os próprios evangélicos, muito por culpa própria. Tentando descredenciar os artistas e pastores aliados da TV Globo, a Record fez uma matéria de 40 minutos no programa “Domingo Espetacular” acusando estes artistas e pastores de defender a, segundo eles, herética doutrina do ‘cai-cai”.

A matéria é jornalisticamente perfeita: analisa a origem deste movimento, mostra evidências científicas da bobagem que é esse "cai-cai" inclusive com a explicação de um neurologista e entrevista figuras dissidentes deste movimento.  O chocante da matéria é que mostra figuras famosas do meio pentecostal brasileiro em situações vexatórias que só eram conhecidas do próprio meio evangélico, a Record agora escancarou para o grande público a bizarrice teológica destas doutrinas da moda gospel. Cenas de Ana Paula Valadão delirando caída no chão, ou imitando vergonhosamente um leão no palco de um show foram comentadas por semanas; ainda tem as já conhecidas palhaçadas de do pastor Marco Feliciano e suas “asneiras gospel”. É engraçado notar que a Universal combate uma doutrina muito parecida com as bobagens produzidas por ela própria.

O efeito da matéria foi inverso, como os artistas e atores atingidos estão na crista da onda do mercado gospel  logo os pastores aliados da Globo se apressaram em atacar a Record e acusá-la de sabotar o movimento evangélico, os fãs (no sentido mais pejorativo que essa palavra possa ter) defenderam apaixonadamente as loucuras de Ana Paula Valadão nas redes sociais e passaram a atacar a Record. Foi o bastante para que a Record e a Universal entrassem em estado de isolamento no mundo gospel. A Globo começou a ganhar o jogo no campo do adversário.
Por esse motivo acho que a Globo vai vencer a batalha, a Record anda sangrando as igrejas para financiar os altos salários de seus artistas e jornalistas e a Universal enfrenta uma queda brutal no número de fiéis, principalmente pelo novo fenômeno entre os vendilhões do templo: Valdemiro Santiago, que rouba fiéis ingênuos da Universal para implantar-lhe as mesmas táticas de manipulação.
A esperança da Record é o fato de que sua aliança com governo do PT  dá a chance de pintar a Globo como Anti-Lula e Anti-Dilma, de acusá-la de ser conivente com a ditadura militar que devassou o Brasil por 21 anos. Mas basta o PT perder o governo federal (tudo é possível) que a Record e a Universal perderão o amparo e a simpatia dos quadrúpedes ideológicos que as enxergam como um braço ideológico das esquerdas do Brasil.
Outra alternativa é tentar alianças com denominações evangélicas tradicionais, (o pentecostalismo clássico) que perdem fiéis diante da nova conjuntura do movimento evangélico do país. A Assembléia de Deus, por exemplo, vive uma briga interna pesada, onde o pastor Wellington Bezerra tenta manter sua presidência da denominação diante de ataques de opositores e de ex- aliados como o Malafaia (a quem Wellington acusa de querer acabar com a editora da denominação, a CPAD, para monopolizar o mercado editorial evangélico). Talvez aí esteja a grande sacada da Universal  para transferir prestígio para Record e romper com o atual isolamento no meio evangélico: a aliança com denominações e lideranças tradicionais. As diferenças teológicas com certeza ficariam de lado.
Isolada dos demais evangélicos, sangrando financeiramente suas igrejas, caindo em descrédito jornalístico e investigada pelo ministério público por suas transações ilegais (já passou da hora), a Record enfrenta agora o outro lado da luta, quem antes atacava está agora nas cordas, eu aposto que a Globo prepara um nocaute.  

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

DISCOS PERDIDOS – 3 Obras geniais de Odair José (Parte 1): Odair José (1973)



Um dos maiores gênios da música popular chama-se Odair José, um artista genial que sempre falou a linguagem do povo sem se deixar tornar popularesco, chinfrim ou esculhambação. Mas foi um maldito, um artista que pela sofisticação, talento e coragem acabou se tornando uma figura que não teve seu talento reconhecido, enquanto isso os artistas populares politicamente corretos ganharam fama e dinheiro vendendo música de baixa qualidade.
Odair é tachado de “brega”, um termo nada desonroso mas que reduz o valor de sua obra. Nas suas canções o romantismo nunca é mostrando com aquelas letras piegas e ultra previsíveis, e sua interpretação fica longe do exagero e da caricatura que marcavam as interpretações dos cantores bregas dos anos 70. O brega sempre foi visto, preconceituosamente, como uma música desprezível e feita para ignorantes excluídos, Odair chutou isso pra cima, fez música excelente, que se fossem gravadas por gente como Raul Seixas ou o “rei” Roberto Carlos seriam consideradas “pérolas da MPB”. Acho que Odair não é venerado hoje como um dos maiores compositores do país também porque sua música o trouxe inimigos bem poderosos, como a ditadura militar, a Igreja Católica (a maior de seus desafetos, que chegou a excomungá-lo devido ao teor de suas músicas), e grandes empresas farmacêuticas  que dominavam o mercado de anticoncepcionais no início dos anos 70. Ter esses inimigos mostra que Odair José fez música com conteúdo, com inteligência, com estilo, o artista que canta apelando para mediocridade das massas nunca incomodou ninguém.
Sobre a motivação de sua obra Odair afirmava  "Amadureci um ano em um dia ao observar a vida das pessoas com quem convivia no centro e na Lapa. Não sou compositor, mas um observador. Meus assuntos existem, não preciso inventá-los. Eu apenas faço música com a vida alheia e ela às vezes é dolorida"
O primeiro disco de nossa lista é o antológico “Odair José” de 1973. Um disco genial, onde quase todas as músicas fizeram sucesso e algumas causaram  polêmicas enormes. Neste disco Odair mostra, através de letras sofisticadas, toda uma crítica dos costumes e até algumas referências sutis a situação política do país.
Faixas:
1.       “Deixe essa vergonha de lado”:
Uma canção que deu a Odair José o título de o “cantor das empregadas”. Onde narra a história de um romance que ele teria com uma empregada doméstica que, envergonhada com a profissão, mente dizendo ser a dona da casa e que a criança que ela leva para escola não é filho de sua patroa mas seu irmão. A crítica social de Odair já aparece nesta música. Em 1973 a profissão de empregada doméstica não era regulamentada nem mesmo reconhecida, o desprezo social com essa figura era gritante, a canção é a primeira a escancarar o fato.

2.        “Os anjos”
Canção que aparenta ter motivações religiosas mostra um Odair deprimido, uma melancolia que se percebe na letra:  “Os anjos estão voltando vem pra dizer que Deus está chegando/
Eu vejo uma esperança no infinito um caminho tão bonito por onde ele vai passar/Eu escuto uma canção anunciando, nosso pai esta chegando ele vem pra conversar/Eu preciso está presente nessa hora, pois quando ele for embora, vou pedir pra mim(sic) levar.”

3.       “Eu, Você e a Praça”
A acidez das letras de Odair se mostra presentes, aqui. A canção narra um encontro de um homem com uma mulher numa praça. Há nas músicas referências a carícias sexuais e a uma relação mantida em segredo: “Encostei o meu corpo no seu/E um novo desejo nasceu/ Entre nós dois/ Seus carinhos me deixavam louco/Nosso tempo era curto e tão pouco/ deixamos pra depois.”  Foi regravada numa excelente versão por Zeca  Baleiro

4.       “E ninguém liga pra mim”
Mais uma da refinada melancolia de Odair, letra sofrida mas com uma interpretação sóbria e um arranjo muito bom. Muito boa canção.
5.       “De repente”
Outra canção melancólica, com versos que podem ser interpretados como uma referência ao regime ditatorial da época : “de repente não posso mais sair na rua/ de repente e minha liberdade se acabou/ (...) de repente alguém bateu em minha porta/ de repente o telefone toca/ de repente em mais nada eu acredito”.  Grande canção e um refrão bem bonitinho.

6.       “Uma vida só” (Pare de tomar a pílula)
A canção mais polêmica do álbum, foi líder de execução nas rádios por dois meses, depois foi censurada. A letra caiu na boca do povo, mas chegou a ser proibida por algum tempo, por contrariar o governo. Em 1973 o governo militar promovia programas de controle da natalidade com base na farta distribuição de anticoncepcionais nas comunidades pobres, a música foi considerada subversiva e proibida de ser tocada no Brasil. Uma farmacêutica que produzia anticoncepcionais e mantinha campanhas publicitárias em todas as quatro redes de TV nacionais da época, exigiu que Odair não fosse chamado a nenhum programa televisivo mesmo que não cantasse a música proibida. Até a Igreja católica, cujas rusgas com Odair começaram um ano antes (1972) com o lançamento da música “Cristo, quem é você?”, apoiou a censura de uma musica que concordava com seus princípios. Para a mente dos clérigos da época a canção, ao falar abertamente sobre a pílula mesmo que recomendando o não uso, era um incentivo ao consumo de anticoncepcionais (a religião e suas idéias mirabolantes, né?)
O que me incomoda é que até hoje a canção é mais lembrada pela polêmica do que pelo conteúdo. É uma canção bonita onde um marido apaixonado tenta convencer sua mulher, através de argumentos bem românticos, a gerar um filho da união do casal. Uma excelente canção.

7.       “Revista Proibida”
Uma canção muito massa. Uma balada onde Odair narra a compra de uma edição de revista masculina (revista proibida) e encontra uma foto de um ex-affair que posa em um nu frontal. O que faz ele lembrar momentos íntimos do casal, além de lamentar o fim do relacionamento. Outro traço polêmico de Odair se mostra presente: as suas referências diretas, mas nem por isso pouco elegantes, sobre sexo. O que também lhe garantia a antipatia da Igreja e de setores conservadores (acho que eles deviam gostar e apoiar apenas cantores que cantavam sobre dor de corno, deve ser isso...).

8.       “Eu sinto pena e nada mais”
Uma boa piada com a liberação feminina vivida na época e a confusão de costumes gerada por isso. O caso de uma mulher que, para ferir o orgulho do ex-marido, se entrega sexualmente a alguns de seus amigos. Uma visão aguçada sobre o conflito de costumes vividos no Brasil no início dos anos 1970, onde a liberdade da mulher, sexualmente inclusive, se choca com o machismo tradicional. Na música o marido sente pena e desprezo da atitude da ex-mulher.
9.       “As noites que você passou comigo”
Uma boa dor de cotovelo. As referências a sexo entre o casal estão presentes (Viciado no negócio esse Odair, em?). Trecho da letra: “Você dizendo que não lembra quem sou eu./Não tem graça pois seu corpo já foi meu./Mesmo que não queira o passado existiu./Quantas noites em minha cama você dormiu.”
10.   “Quem é esse rapaz”
Mais uma dor de cotovelo. A mais fraquinha do disco. Mas mostra o machismo tradicional da música e do homem da época.  Trecho da letra “Será que ele tem maior amor que o meu?/ se que com ele você vai ser mulher?”
11.   “Cadê Você”
Música muito famosa na época e mais ainda em 1992, quando Leandro e Leonardo regravaram. A letra é muito curta,Odair conta que quando Leandro e Leonardo o consultaram para pedir a autorização para a regravação perguntaram: “mas a letra é tão curta assim?”.

12.   “Que saudade de você”
A despedida do disco é uma boa canção. O arranjo é muito bom e a letra é simples e eficiente. O disco não podia se encerrar com uma canção melhor, ao terminar o disco já se sente  saudade e volta-se a escutá-lo de novo.

sábado, 7 de janeiro de 2012

RICARDO GONDIM - Em defesa de um pastor que luta contra o obscurantismo religioso

Notícia que li no blog do Paulo Lopes:
Pastor Ricardo Gondim afirma que ateus tem que ser ouvidos e respeitados
O pastor Ricardo Gondim é sem dúvida o líder religioso mais consciente e equilibrado do Brasil, tem tido uma postura respeitosa com outros credos, e com os que não seguem credo algum,  e defendido posições de extrema inteligência e ponderação. Talvez seja por isso que esteja mergulhando num processo de humilhação pública promovida pelos líderes evangélicos fundamentalistas na intenção de descredenciá-lo e impedi-lo de ser uma voz que coloque algum freio nessa “revolução pentecostal” que tem sido a cara da mudança social e religiosa no país.
Por “revolução pentecostal” entende-se o crescimento de igrejas protestantes de caráter fundamentalista, que afirmam ser a Bíblia o único livro que deve balizar as opiniões do fiel, seja politicamente, socialmente e até nas questões do conhecimento acadêmico científico(“só é verdade se estiver de acordo com a Bíblia”). Outras características marcantes do movimento pentecostal brasileiro é uma visão de mundo dualista onde tudo aquilo que não está escrito na Bíblia, ou, como na maioria dos casos, determinado pela liderança da igreja é fruto da ação demoníaca. Assim já se vê que esses grupos, devido a essa visão fundamentalista e infantil, rejeitam a secularização da sociedade e mais ainda o Estado Laico. São grupos que querem a partir da força social e eleitoral combater o pluralismo religioso, a diversidade sexual e cultural, além de combater qualquer tipo de informação científica que contradiga as narrativas bíblicas (as igrejas pentecostais são as que mais lutam pelo ensino religioso nas escolas e também pelo ensino da teoria criacionista).
Nesse contexto o pastor Ricardo Gondim foi uma voz destoante do movimento fundamentalista que se desenrola hoje no Brasil. Seu histórico de polêmicas, onde quase sempre tinha razão, vem de longe. Quando o movimento religioso protestante no Brasil ainda não tinha ganhado o caráter de “guerra cultural” no Brasil ele já denunciava o fundamentalismo de algumas denominações. Seu livro “É proibido: O que a Bíblia permite e a Igreja proíbe” de 1999 causou estardalhaço no universo evangélico.
Mas o Pastor entrou em rota de colisão direta com o fundamentalismo pentecostal de dois anos pra cá. Diante deste contexto, onde os tele-evangelistas estão mais interessados em passar uma visão deturpada do evangelho visando infantilizar os fiéis para que estes lhes garantam mais doações, Gondim passou a defender publicamente posições moderadas e que respeitassem o estado democrático de direito e a laicização do Estado (duas posturas odiadas pelo neo-pentecostalismo). 
Primeiro veio a entrevista na revista Carta Capital onde defendeu que os homossexuais deveriam ter direito a união civil e com os mesmos direitos de qualquer cidadão. O pastor não falou em momento algum que celebraria ou ordenaria celebrações de casamentos homo-afetivos, nem tampouco disse que não era pecado, apenas afirmou que perante a lei, que é laica e igual para todos, esse grupo deveria  ter direitos reconhecidos. Também afirmou não achar que Deus estivesse no controle de tudo, pois se assim fosse Ele seria o responsável pelas mazelas do mundo, o que se chocaria com a idéia de um “Deus bondoso”.  Foi o bastante para que uma tormenta caísse sobre o líder religioso. Um grupo de pastores da Igreja Betesda, da qual Gondim é pastor -presidente, rompeu com sua liderança e fundou uma nova denominação, a Beth Shalom, apenas devido a suas afirmações na entrevista (o que mostra as motivações desta denominação). Depois os diretores da revista evangélica "Ultimato" o demitiram do posto de colunista, que ele ocupava havia 20 anos, devido as mesmas afirmações.
Em 2011 postou em seu blog um excelente texto intitulado “Deus me livre de um Brasil evangélico”, onde denunciava as idéias fundamentalistas absurdas defendidas pelo movimento neo-pentecostal no Brasil. No texto ele expressa preocupação com a destruição cultural, social e intelectual que um movimento tão radical poderia trazer. ( Leia aqui)
O pastor está pagando o preço de lutar contra a descaracterização de sua fé feita por aqueles que são seus congêneres. O levante pentecostal brasileiro segue as regras do mesmo movimento ocorrido nos EUA:
a)      Interdição do debate político-social de uma sociedade democrática, ao tentar levar a retórica religiosa para a política promovendo um ataque frontal contra a separação entre igreja e Estado
b)      Perseguição e difamação de movimentos sociais de minorias como feministas ou organizações de defesa dos direitos homo-afetivos, bem como a perseguição a ateus e livre-pensadores
c)       Defesa de pseudo-ciências, como o ensino criacionista nas escolas e a obrigação de ensino religioso nas escolas públicas. Além do ataque raivoso ao evolucionismo darwinista
d)      Manipulação do voto dos fiéis, forçando-os a votar em candidatos religiosos e com a formação de verdadeiros  “currais eleitorais” dentro das igrejas
e)      Forte ênfase nos dízimos, nas ofertas e nas promessas de que o fiel terá prosperidade financeira ao contribuir com a “obra”
f)       Apelo a supostos milagres de cura e libertação (todos sem comprovação factual e que de tão picaretas chegam a ser hilários)

Hoje Gondim e aqueles que compactuam com suas idéias representam uma parcela mínima do movimento evangélico no país. O crescimento pentecostal é liderado por Igrejas e tele-evangelistas que estão sempre ávidos em pedir dinheiro aos fiéis, cada vez em quantias mais elevadas, se aproveitando do desespero ou do desconhecimento de uma enorme parte da população. Esse grupo majoritário é que consegue horários pagos na TV, elege políticos cuja a única ideologia é o reacionarismo, além de promover o preconceito contra ateus, homossexuais, feministas, adeptos de religiões afro-brasileiras e livres-pensadores em geral.
O pastor Ricardo Gondim hoje é considerado um herege. E deve sentir muito orgulho disso.

Frases do pastor Ricardo Gondim:
“Todavia, reafirmo minhas palavras: em um Estado laico, a lei não pode marginalizar, excluir ou distinguir como devassos, promíscuos ou pecadores, homens e mulheres que se declaram homoafetivos e buscam constituir relacionamentos estáveis. Minhas convicções teológicas ou pessoais não podem intervir no ordenamento das leis.
Eu não fiz uma defesa da homossexualidade, e sim dos direitos dos homossexuais. O direito deve premiar a todos. Num Estado democrático, até mesmo os assassinos têm direitos. Não é porque eles cometeram um crime que possam ser torturados ou agredidos, por exemplo. As igrejas podem ter uma posição contrária à homossexualidade, mas não podem confundir seus preceitos com o ordenamento jurídico do país ou tentar impor sua vontade. Muitos disseram que o Supremo Tribunal Federal tripudiou sobre as igrejas evangélicas ao reconhecer a união estável homoafetiva. Nada disso, o STF estava apenas garantindo os direitos de um segmento da sociedade. Essa é sua função.”

“Deus soberano é uma visão construída na Idade Média, e serviu muito aos interesses de nobres e pessoas do clero que, para justificar seu poder, se colocavam como representantes da vontade divina na terra. Só que essa visão é incompatível com o mundo de hoje. O Estado é laico. As pessoas guiam os seus destinos. Deus não pode ser culpado por uma guerra, por exemplo. Não vejo nisso nenhuma expressão da vontade divina, nem como punição.”
“Nem todos os evangélicos pensam como esses grupos midiáticos que confundem preceitos religiosos com ordenamento jurídico e querem impor sua vontade a todos.”

"Deus não é rival da liberdade humana, mas seu maior incentivador."
(Grifos nossos)
Leiam também:
Reportagem da revista Carta Capital: “O Pastor herege” http://www.cartacapital.com.br/sociedade/o-pastor-herege/

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

DISCOS PERDIDOS - Paulo Ricardo (1989) e Paulo Ricardo e RPM (1993)


 Paulo Ricardo - 1989

Paulo Ricardo e RPM - 1993

Antes de ser o artista vazio que é hoje, sedento por sucesso quase a qualquer custo, mais uma formula do que um conteúdo, Paulo ricardo capitaneou uma das bandas mais bem sucedidas do Rock nacional, o RPM. O sucesso da banda parece ter sido tão estrondoso que até hoje o Paulo Ricardo vive querendo reeditar isso a todo custo, esquecendo o bom compositor que foi em momento anteriores.
.
O RPM, acabou pela primeira vez em 1988 depois do deplorável disco “Quatro Coiotes” (tenho o vinil original em casa), Neste álbum não há uma canção que lembre minimamente o que foi o RPM dos discos “Revoluções Por Minuto” e “Rádio Pirata”.
.Primeiro disco solo de Paulo Ricardo 
Bem diferente e melhor do que o romantismo dos anos 90-2000

Em 1989 Paulo Ricardo se lança em carreira solo num excelente disco de pop-rock. O disco tem 10 canções e é muito bom. Existem alí boas letras, bons arranjos e um disco que consegue ser agradável do início ao fim, embora não tenha alcançado sucesso comercial  relevante na época. Em 1989 foi, talvez, o último ano de sucesso de Rock nacional, depois se seguiram as febres da lambada e depois do sertanejo-brega (que queda de qualidade, hein?).
.
Mas o disco é classe “A”. Tem excelente canções como “A um passo da eternidade” (a única que tocou muito nas rádios), “Indo e vindo” (uma pegada blues muito boa), as baladas “Sem mim” e “Nas rochas”, “A fina poeira no ar” (com Rita Lee), os bons rocks “Canções e Revoluções”, “A arte de fazer amor” e “Viver por viver”, além da excelente “O Nylon e o Marfim”. 
.
Fora do RPM os arranjos das músicas de Paulo Ricardo ficam bem melhores, o excesso de teclados de Luiz Schiavon muitas vezes estragavam as músicas. Neste disco os arranjos são bem elaborados e tem como base a guitarra e violão de Fernando Deluqui, que continuou com Paulo Ricardo após o fim do RPM como seu “fiel escudeiro”. Um disco muito bom, vale cada um dos 45 minutos de duração. Nota 9,0

 
Depois de um segundo disco solo (Psico-Trópico) muito fraco, onde só o que prestava era capa, Paulo Ricardo junta-se a Fernando Deluqui e ressucita  o RPM em 1993. O novo disco seria lançado com o nome do RPM, porém Luiz Schiavon entrou na justiça, e então o álbum foi lançado com o nome Paulo Ricardo & RPM. Não conta com a presença do tecladista e compositor Luiz Schiavon e do baterista Paulo P.A. Pagni (ambos da formação original da banda).
.
O disco também é muito bom, com as guitarras de Deluqui dando as ordens e Paulo Ricardo voltando a escrever boas letras num disco de rock pesado mas  sem exageros. São dez músicas bem trabalhadas e bem produzidas, com bons solos de guitarra, o álbum escorrega em poucos momentos mas consegue ser bom.
Existem excelentes canções alí como “Gênese” (uma letra genial e um arranjo muito bom, tema da novela global Olho Por Olho), “O fim”, “Virus” (minha preferida), “Perola”, ‘Falsos Oasis”. O disco escorrega apenas em “Outro lado” e em “Hora do Brasil” (uma letra que causa vergonha alheia de tão ruim), além de um certo exagero nas interpretações de Paulo Ricardo.



Gênese:
"Não pretendo esperar, não entendo o que há
O que acontece com essa gente devagar
Não espero chegar eu não quero passar
Pela vida como quem tem que se desculpar"
.
Mas o álbum sobrevive a isso e consegue ser muito bom. Nota 8,0. O problema é que o álbum não vendeu nada na época, além do sertanejo em 1993 a axé music começa a invasão as rádios e aos programas de TV. Impossiblitado de concorrer diante da indiferença da grande mídia o disco “Paulo Ricardo e RPM” hoje é esquecido até pelos próprios integrantes da banda, que se recusam a tocar músicas deste dele nas turnês atuais.

Paulo Ricardo & RPM - 1993

São dois álbuns muito bons, vale uma busca por um download