terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Livro- "FEBEAPÁ" 1,2 e 3 - ( Stanislaw Ponte Preta [Sérgio Porto] )

 
 "É difícil ao historiador precisar o dia em que o Festival de Besteira começou a assolar o País. Pouco depois da "redentora", cocorocas de diversas classes sociais e algumas autoridades que geralmente se dizem "otoridades", sentindo a oportunidade de aparecer, já que a "redentora", entre outras coisas, incentivou a política do dedurismo (corruptela de dedo-durismo, isto é, a arte de apontar com o dedo um colega, um vizinho, o próximo enfim, como corrupto ou subversivo — alguns apontavam dois dedos duros, para ambas as coisas), iniciaram essa feia prática, advindo daí cada besteira que eu vou te contar".

Sérgio Porto, sob o pseudônimo Stanislaw Ponte-Preta,  escreve o FEBEAPÁ(Festival de Besteiras que Assolam o País) em sua primeira edição em 1966, com dois anos de instaurada a “redentora” (como o autor se referia ao golpe militar de 64, que era chamada cinicamente de “revolução” pelo militares). No livro está presente uma crítica fina da situação política e social do Brasil nos anos que se seguiam ao golpe militar.
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O livro é uma coletânea das bobagens pronunciadas e efetuadas por figurões da alta sociedade e por defensores e funcionários do regime militar. Sérgio Porto usa de uma ironia ímpar para retratar o absurdo social que pululava as mentes dos integrantes da “redentora”. Daí o livro nas suas três  edições (1966, 1967, 1968) é iniciado com  um seleção de notícias mais bizarras, que realmente aconteceram no período. É uma boa amostra da pobreza intelectual, bem como da canalhice pouco disfarçada, daqueles que defendiam o regime militar na época. E seguem-se um monte relatos absurdos como o do delegado que ordenou a prisão do escritor da peça de teatro “Édipo Rei” por considerar a temática da peça (uma relação incestuosa) um atentado a moral e os bons costumes. Detalhe: Sófocles, o escritor da peça, viveu na Grécia Antiga no século 5 antes de Cristo.   Ou do caso da professora que ao ver que o filho tinha sido reprovado em matemática denunciou um professor ao DOPS (departamento de ordem política e social) como um perigoso agente comunista. Ou ainda o caso do juiz que para impedir a proliferação do pensamento socialista no Brasil proibiu a importação, bem como a compra e venda de Vodka; ou o caso do general da Aeronáutica de Minas Gerais que impediu o uso de mini-saias durante o carnaval para “não ofender as forças armadas”. Esses são apenas um dos casos narrados do livro, além destes há uma infinidade de outros e cada um mais hilário do que o outro.
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Além disso as três edições do livro trazem crônicas impagáveis, vindas da genialidade de Sérgio Porto e que segundo ele seriam adaptações de casos que realmente aconteceram.  As crônicas são de um humor fino, com uma escrita pra lá de malandra (cheia de gírias cariocas, comparações divertidas e hilárias e diálogos muito espertos) fica impossível não rir e reler muitas vezes. O estilo de Sérgio Porto é inconfundível. Destacam-se “Zezinho e Coronel”, “O padre e o busto”,  “O analfabeto e a rofessora”, “O major da cachaça”, “O grande compositor” e “Zona de solução estudantil” (essa uma das melhores, onde um senhor católico conservador deixa a entender num artigo de jornal que solução para conter as manifestações juvenís é a criação de zonas de baixo meretrício em locais determinados)
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É o tipo de livro que, como disse no post anterior, deveria ser trabalhado nas aulas de literatura e redação dos colégios. Há uma linguagem leve, que faz rir, mas ao mesmo tempo muito inteligente.  Na parte do FEBEAPÁ há um monte de notícias grotescas com um comentário espirituoso do escritor, o que as torna ainda mais engraçadas. Na parte das crônicas existem todo um conjunto de crítica dos costumes, confronto de gerações, ironias e piadas. Tudo o que um adolescente gosta.
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O livro é excelente incentivo a leitura para os jovens: leve, engraçado, divertido e, acima de tudo, inteligente. Para alunos de 9° ano (8° série) serviria como um bom intertexto com História do Brasil (facilitando o entendimento sobre o cotidiano do Brasil durante a ditadura militar), além de ser um livro que traz textos bem interessantes sobre como eram os costumes e sexualidade da época, bem como o conflito de gerações entre jovens liberais e velhos conservadores (no livro chamados de “cocorocas”).
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 São livros assim que eu defendo que sejam trabalhados em sala de aula, com temáticas importantes, que exijam compreensão e senso crítico, mas que respeitem a fase da vida que os adolescentes estão passando e forneça-lhes o riso, a descontração e a diversão. Além de Sérgio Porto, escritores como Luiz Fernando Veríssimo, Mario Prata seriam mais eficientes na hora de incentivar os jovens a entrer no mundo da leitura com qualidade. Não é tão difícil assim.

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