segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

CAPITALISMO: UMA HISTÓRIA DE AMOR - Um excelente documentário que foi silenciado


Qual o futuro de uma sociedade pensada e estruturada a partir da minoria mais rica? Onde os investimentos sociais são diminuídos, os ricos não pagam impostos, e a ação do estado como regulador da economia é nula. Onde as empresas conseguem lucrar até com a morte de funcionários. Onde as horas de trabalhos são aumentadas sem um aumento de salário correspondente. Onde não há sistema de saúde e onde o direito de ter um teto para morar só vale se você não estiver endividado com os bancos. Qual o futuro de uma sociedade estruturada dessa maneira?
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Neste documentário Michael Moore trata sobre a crise financeira global iniciada com o estouro da bolha imobiliária americana, mas faz mais do que meramente mostrar as várias faces da crise. O cineasta mostra como os EUA, antes aclamados como os grandes defensores da democracia, hoje se transformaram numa “plutonomia”, ou seja, um país de uma nova aristocracia, que foi nascida nos centros financeiros de Wall Street.
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 Moore investiga o processo que originou a crise em seu real início, exatamente em 1980 com o início do governo de Ronald Reagan nos EUA. Reagan com certeza é um ídolo do Partido Republicano, insensível as causas sociais e lacaio das grandes empresas desde sua atuação como ator/garoto-propaganda  nos anos 50 e 60. Foi no seu governo que as reformas neo-liberais nos EUA foram implantadas com eficiência e radicalismo, como um rolo compressor passando por cima de sindicatos, justiça e de direitos básicos do cidadão. O desmantelamento industrial dos EUA começa justamente com o fenômeno das desregulamentação do sistema bancário e a banalização das hipotecas. Era como se, devido a escassez de empregos e a migração de empresas para outros países, os EUA tivessem incentivado a população a viver de empréstimos bancários dando suas casas como garantia, e pagariam esses empréstimos com pesadas taxas de juros não fixas que poderiam ser reajustadas  sempre pra cima (lembre-se: desregulamentação bancária). Junto a isso lembre-se da insensibilidade social do governo Reagan, que ampliou a produtividade e as horas de trabalho sem ampliar os salários. 
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Moore faz essa ponte histórica pois é dela que se entende o que levou os EUA a esse estouro da bolha imobiliária. Os Republicanos tiveram sua utopia de mundo ultra-liberal onde os ricos não pagavam impostos interrompida por 8 anos de governo Clinton, ao retomarem o poder com Bush cuidaram em brutalizar definitivamente as relações financeiras. Além de jogar a população pobre na penúria o governo Bush promoveu um socorro justamente àqueles que tinham sido os principais especuladores da crise: os bancos.
Daí Moore vai mostrando todo o fenômeno que corrói a maior nação do mundo. O déficit habitacional devido as dívidas com as hipotecas e os empréstimos adquiridos pelos cidadãos para cumprir com despesas médicas (não há sistema de saúde pública nos EUA). Mostra como o cidadão comum eleitor republicano, o famoso “John Doe” (algo como “Zé ninguém”) é o mais atingido pela crise imobiliária. O filme também tem o cuidado de mostrar que os bancos, as empresas de saúde e as seguradoras tornam-se financiadoras da campanha de Barack Obama temendo represálias diante de sua evidente eleição. Isso é um bom ponto de partida para se entender por que Obama ainda não tirou os EUA da crise, pois, assim como seu antecessor, ele assumiu o compromisso de salvar o sistema financeiro primeiro para só depois, se der tempo, pensar no emprego dos americanos.
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Diante deste contexto onde as corporações mandam no país, Moore começa a mostrar os efeitos nefastos disso na vida do cidadão comum americano. Como as seguradores que fazem seguros de vida milionários em nome de seus empregados mas nomeando a si próprias como beneficárias únicas da indenização. Até com a morte de um funcionário as empresas ganham benefícios. O caso da esposa que perdeu o marido com câncer e depois descobre que o seguro de vida que a empresa fez, no valor de 1,5 milhão de dólares, será repassado integralmente para a corporação é simplesmente revoltante. Ou o outro caso do marido que perde a esposa e, além de não receber o seguro de vida dela, já que a empresa era a única beneficiaria, fica com uma dívida de quase 100.000 dólares para pagar ao hospital. Ainda mais revoltante é saber que as corporações chamam essa canalhice de “seguro dos caipiras mortos”, dando uma mostra do quanto vale a vida humana para elas. Em outro dos vários casos mostrados no filme, uma cidade americana resolve privatizar o sistema de detenção juvenil. A empresa privada visando aumentar os lucros suborna juízes para que aumentem a níveis que passam do absurdo o número de detenções juvenis, aumentando assim os ganhos da empresa que, por sua vez, recebe os dividendos da própria prefeitura.
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Moore faz deste o seu melhor documentário, bem produzido e roteirizado, além de uma excelente edição de imagens. Mostra-se mais esquerda do que até a própria esquerda dos EUA gostaria em seu documentário mais Marxista (no melhor sentido do termo).
Lógico que devido a fúria denuncista do filme, misturado com doses de ironia e humor de primeira classe, o filme fosse ignorado e silenciado pela grande mídia dos EUA e dos cadernos de cultura dos jornalões pelo mundo. A arrecadação foi precária, pouco mais de 50% da arredação de seu documentário anterior (o também excelente “Sicko”). Mas isso não apaga o excelente trabalho de Michael Moore, o cineasta mais incendiário dos últimos 25 anos.
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Assista o trailer oficial do filme:


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