Um dos meus temas preferidos para conversar ou escrever é o futebol. Mal posso ver um jogo na TV que deixo o que estiver fazendo para assistir, e quando o jogo é do Santa Cruz Futebol Clube então... . Esse texto foi escrito em 2008 quando eu ainda morava em Campina Grande e cursava História na UEPB. O Santa ia enfrentar o Campinense na estréia da Série C do Campeonato Brasileiro, eu estava eufórico e Campina grande respirava a expectativa daquele jogo durante semanas. Pensava que iamos sair do buraco a partir daquela partida, mal sabia eu que o calvário coral estava longe de terminar. Mas valeu a experiência de ter sido o porta-voz da nação coral. Depois foi incrível ver a invasão da torcida tricolor a Campina Grande, até hoje os paraibanos comentam.
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Campina Coral na expectativa
Por Mário Júnior, direto de Campina Grande
Morar fora de Pernambuco parecia um pesadelo uns tempos atrás, por um único motivo apenas: eu ia ficar distante do Santa Cruz. Já morava meio longe das Repúblicas Independentes do Arruda antes, Santa Cruz do Capibaribe fica a 150 km do Recife, mas era ótimo ver o telejornal falar do Santa, ir a bares assistir aos jogos e viajar para o Recife apenas com o dinheiro da passagem e do ingresso, só pra ver O Mais Querido jogar. Mas ao ir morar na Paraíba, para cursar a faculdade, achei que ia surtar de saudades do tricolor, porém não foi tanto assim.
Ao chegar em Campina Grande tratei de levar a cabo a minha obrigação cívica de pregar o evangelho tricolor a toda criatura e fui até bem sucedido, os paraibanos acostumados a torcer apenas na época do estadual se impressionavam com as histórias que eu contava sobre a grandeza da nossa torcida, do nosso estádio e das nossas vitórias hoje tão raras. Tem gente que me conhece, visita minha casa, mas não me conhece pelo nome, chamando-me apenas de “Santa Cruz”. Pense num orgulho que sinto. Mas antes de falar como está a expectativa para o confronto com o Campinense (a coisa daqui) tenho que falar de seu Basílio, um senhor tricolor que me levou as lágrimas ao falar do Santa.
Era um sábado e ia passar na tv Santa Cruz x Marília pela série B e eu já na expectativa desde cedo passei o dia todo com a camisa do glorioso, enquanto arrumava minha casa para uns amigos recém convertidos que iam ver o jogo comigo, fui a padaria de seu Basílio aqui no bairro do catolé em Campina Grande. Mal cheguei e ele, um senhor bastante idoso e simpático, já foi logo dizendo: “vai jogar hoje na televisão o nosso tricolor, né?” Daí surgiu um diálogo que jamais esquecerei. Seu Basílio falou que foi sócio do clube por mais de 40 anos, viu o Arruda ser construído e ampliado e no fim da conversa os olhos deles encheram de lágrimas e então ele disse: “faz 6 anos que moro em Campina Grande desde que saí do Recife e nunca mais ví o Santa Cruz e não tenho podido acompanhar pois não tenho tempo, nem sei mexer em computador, minha vida está bem menos colorida agora”. Eu deveria negar até a morte mas deixei cair uma lágrima na frente de todo mundo na padaria.
Seu Basílio tem ficado triste nos últimos tempos, pois só tem ouvido notícia ruim do clube e mantém umas esperanças que infelizmente estão fora da realidade: “Edinho vai resolver isso ele é um cabra bom e levantar o clube”, quando ele me diz isso eu apenas fico em silêncio, não tenho coragem de matar as esperança dele ao dizer que Edinho consegue desagradar a gregos e troianos.
Mas Campina Grande vive um clima de espera pela rodada de abertura da série C, os torcedores do campinense encaram o jogo com uma expectativa maior do que a final do paraibano que eles venceram. Se vencerem o Santa Cruz vai ter uma festa maior do que a do título paraibano. O dono da casa onde eu moro já tá querendo apostar uns dois meses de aluguel que a raposa (mascote gay da porra!!!) vai bater o santinha. Os Trezeanos (outro time da cidade) onde me vêem com a camisa tricolor dão apoio e me dizem que vão ao estádio secar os rivais. É nessas horas que vejo a real grandeza do nosso clube, pois todo mundo me trata de um jeito diferente só por eu ser tricolor e um simples embate contra o Santa monopoliza as atenções, mesmo faltando mais de 45 dias para o dia do jogo.
Eu mal consigo estudar só de pensar no jogo, com outros amigos tricolores eu só falo do confronto e saio pelas ruas imaginando a chegada da caravana de torcedores que virá acompanhar o nosso time. Quando se está na série C qualquer jogo-treino ganha cara de decisão, imagina então quando o seu clube vai jogar na cidade em que tu mora? Estarei lá no estádio Amigão vestido em três cores, extasiado com a chegada da torcida, cantando a plenos pulmões e incentivando em todos os minutos, mesmo que nosso manto sagrado esteja sendo vestido por pernas-de-pau e nosso presidente ainda seja o diminutivo. Pois como disse o sábio seu Basílio pra mim ontem: “o Santa cruz vai nascer de verdade no dia 06 de julho, essa partida determinará nossa vida daqui até a eternidade”.
Post original em: http://www.blogdosantinha.com/artigos/campina-coral-na-expectativa/
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