Conheci a escrita de Gabriel Garcia Marques em 2003-2004, época em que frequentava a FAFICA, com uma amiga da época. Ela me emprestou o livro, o preferido de seu ex-esposo do qual recém havia se separado, provavelmente esperando que eu jamais o devolvesse. Num raro lapso de responsabilidade eu devolvi o livro em tempo razoavelmente rápido, só dois anos após ter pego emprestado. Anos depois Vaniara me presenteou com o livro no dia dos namorados de 2006, o melhor presente que eu poderia receber.
Lí o livro várias vezes, sempre com a mesma paixão de como se fosse a primeira vez e em cada época de férias o leio de novo. É um vício, uma necessidade fundamental de entrar de novo na narrativa e no estilo de Gabbo. Nunca encontrei um livro tão fantástico quanto esse, nunca me senti tão identificado com uma história.
A livro narra a saga da família Buendía, que é iniciada com o casamento de dois primos o José Arcádio e Úrsula. Ao casarem-se o medo de ter um filho que 'nascesce com rabo de porco" por serem primos, leva Ursula e negar relações sexuais com o marido. Um dia após vencer uma rinha de galos José Arcádio Buendía é insultado em sua masculinidade pelo dono do galo derrotado. Como vingança mata-o e na mesma noite obriga Úrsula a finalmente seví-lo como mulher. Esses acontecimentos e a aparição do fantasma do morto, sempre a atormentar as noites do casal Buendía derrubando suas panelas, faz com que José Arcádio Buendia decida recrutar outras família e sair em busca de um novo lugar pra morar. depois de longas procuras se estabelecem em Macondo.
O casal tem três filhos: José Arcadio, Aureliano Buendía (o meu preferido) e Renata Buendía. Posteriormente há a chegada de Rebeca. A cidade de Macondo é fundada por algumas famílias que acompanharam os Buendía durante a sua viagem, mas José Arcadio Buendía é o líder da comunidade, responsável por fazer a divisão de rescursos e mediação de conflitos. Em pouco tempo, a cidade é achada por um grupo de ciganos, que trazem diversas descobertas ao povo de Macondo. Entre os ciganos está Malquíades, um sábio que morre e ressucita diversas vezes no decorrer da história, personagem chave para o enredo de Cem anos de Solidão.
A partir daí o livro narra os encontros e desencontros ocorridos nas vidas de seus membros por diversos anos e gerações, até que o último Buendía vivo consegue decifrar as escrituras que prediziam o futuro da família. Neste trajeto, há uma mistura bastante rica e bem dosada de elementos, personagens e acontecimentos: Uma excecução em massa de trabalhadores (referência ao "massacre dos bananeiros", ocorrido de fato na Colombia em 1928). Uma população inteira que perde a memória e guerrilheiros e líderes revolucionários que são apagados da história por poderosos e pelos medo que se entranha no povo de Macondo. Mulheres que se trancam por décadas numa casa escura. Homens que arrastam atrás de si um cortejo de borboletas amarelas.
O tema central do livro é a solidão, pois parece que todos os integrantes da família, das mais diversas gerações, estão fadados a conviver com a solidão. Os temas passam pelos personagens que compõem o imaginário latino-americano como os revolucionários de caráter quase quixotesco, as putas folclóricas, as lendas fantásticas que são muito vivas ainda em sociedades do interior da Latino-América.
O personagem mais marcante pra mim é o segundo filho de José Arcádio Buendia, o Aureliano Buendia. Figura fechada e introspectiva que ao perceber a manipulação eleitoral do partido conservador passa a simpatizar com o partido liberal. Depois, ao insurgir junto como os moradores de Macondo contra um batalhão do exército que ocupava violentamente a cidade, torna-se o principal líder guerrilheiro do Partido Liberal, e passando a ser conhecido agora como Coronel Aureliano. A tragetória do personagem é fantástica. Entra numa luta política da qual não entende bem, nas palavras dele "não entende como as pessoas lutam por coisas que não se pode tocar". Começa a se endurecer com as batalhas e ao encarar as mais duras derrotas e se ver em constante contradição começa a renegar sua própria história, não permitindo sequer que lhe tirem uma única foto, e escolhendo viver até seus últimos dias fazendo peixinhos artesenais de ouro, aos quais derretia e fazia novamente infinitas vezes. Consciente da miséria da própria existência morre sozinho em casa, provavelmente suicídio. O Coronel Aureliano, consegue ser uma definição um tanto romântica e ao mesmo tempo inquietante da figura do revolucionário Latino-Americano, além de carregar dilemas existenciais profundos. Um diálogo fantástico do Coronel Aureliano com seu principal capitão capitão (Gerineldo Marques) mostra a profundidade do personagem:
Coronel Aureliano: "Gerineldo, por qual motivo você luta?"
Gerineldo: "Ora coronel, pelo grande Partido Liberal!'
Coronel Aureliano: "Pois eu luto apenas por orgulho, e sou mais feliz do que você, que luta por uma coisa que não tem importância pra ninguém".
É Impossível descrever nesta postagem a profundidade do livro Cem anos de Solidão, ganhador do prêmio Nobel de Literatura em 1982 e com mais de 30 milhões de exemplares vendidos no mundo todo. Um livro fantástico do escritor latino-americano mais bem sucedido da história. só lendo pra saber o quanto é fascinante.
Para conhecer mais do livro: http://pt.wikipedia.org/wiki/Cem_Anos_de_Solid%C3%A3o
Para saber o que foi o Massacre dos Bananeiros da Colômbia: http://hcalvospina.free.fr/spip.php?article269
Boa leitura!
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