O conhecimento médio dominante
sobre Hitler é mais baseado numa antipatia (justa) criada pelas escolas, meios
de comunicação, etc. do que se baseia em
um entendimento sobre o que realmente foi o fascismo/nazismo enquanto doutrina
social e política. Hitler é visto como um psicopata sanguinário e
preconceituoso que empreendeu as políticas de eugenia e de genocídio apenas por
que era mal e por ter conseguido, apenas por sua impressionante retórica
manipular os sentimentos de uma nação inteira, a Alemanha, mobilizando todo um
povo em seus nefastos ideais.
Nada mais superficial e mentiroso. Não que
Hitler fosse uma “boa pessoa” ou alguém sem poder de convencimento (muito pelo
contrário), mas essa interpretação com ênfase exagerada na pessoa de Hitler e
em seus caprichos enquanto indivíduo
mostra apenas que para que uma idéia se cristalize na cabeça das pessoas
basta apenas contar com ajuda de maus professores de História (daqueles bem
decorebas), de um sistema de educação que valoriza apenas o acúmulo de
informações sem a discussão crítica das mesmas,
e, por conseqüência disso, com a
nossa característica comum de achar que os grandes acontecimentos históricos,
bom ou ruins, são frutos apenas de um ato de vontade de “grandes homens”.
Pessoas sem capacidade de entender contextos sociais e históricos sempre cairão
na armadilha intelectual de buscar respostas simples, confortáveis e,
logicamente, falsas para temas que gerem questões muito complexas.
Essa incapacidade de analisar
as coisas fugindo de simplificações grosseiras faz com que a percepção coletiva
sobre os fatos históricos seja um enorme balaio de gatos onde tudo importa
menos a verdade. Essa memória acaba sendo usada para que um monte de
espertalhões defensores das piores ideologias criem a aparência de que suas
conjecturas tem raízes históricas ou que são baseadas em fatos reais
vivenciados pelos seres humanos em alguma determinada época da história. E
esses espertalhões adoram Hitler e precisam dele para justificar suas idéias
assim como precisam de água para viver, ainda que aparentem não compactuar com
nenhum princípio do nazismo (pelo menos não declaradamente).
O fato é que essa memória
histórica que hoje se mostra dominante sobre Hitler fez com que a população
desinformada sobre o tema vincule a Hitler qualquer postura ou comportamento
considerado ruim (qualquer mesmo). Daí surge a mais calhorda das falácias
que é a idéia que se Hitler defendia uma coisa ela de antemão já seria ruim e
deveria ser rejeitada; o detalhe fica pelo fato que na grande maioria das vezes
Hitler não defendia essas idéias, mas uma enorme parte dos espertalhões
estabelece essa ligação na tentativa de descredenciar argumentos contrários aos
seus.
A partir daqui mostro algumas das
falácias sobre Hitler muito usadas em debates por espertalhões, algumas dessas
falácias são tão ridículas e na mesma medida são populares, e sobra gente que
engula isso:
Falácia 1: “COMUNISMO E NAZISMO
SÃO A MESMA COISA. O PARTIDO DE HITLER SE CHAMAVA ‘PARTIDO NACIONAL SOCIALISTA
ALEMÃO’, LOGO O NAZISMO É DE ESQUERDA”
Essa falácia chega a ser
ridícula, o nazismo, assim como as demais variações do fascismo, são ideologias
anti-socialistas. O discurso anti-socialista serviu como chamariz para o
partido conseguir a simpatia, e vultosas doações financeiras de banqueiros e
industriais alemães, vale lembrar que na Alemanha a ação dos comunistas por
pouco não rende uma revolução logo após a I Guerra Mundial, o que explica o
temor das elites alemãs da época. Na intenção de concentrar poderes na mão do
partido nazista e eliminar a oposição comunista o governo de Hitler atribuiu a
“judeus-comunistas” o incêndio do Parlamento Alemão (Reichstag).
O comunismo foi o “outro” do qual
o regime se utilizou para mobilizar a nação contra um suposto inimigo comum e
pelo qual manteve a população em permanente estado de tensão.
Muitos citarão o pacto de
não-agressão entre Hitler e Stalin (“Pacto Ribentrop – Molotov”) alegando haver
alguma proximidade entre os regimes, mas uma coisa não tem necessariamente a
ver com a outra. O pacto de não-agressão entre Alemanha e URSS tinha objetivos
estratégicos, especialmente para os alemães que depois romperam esse pacto
durante a II Guerra Mundial e invadiram a URSS. De forma alguma esse pacto pode
ser entendido como um acordo de cooperação mútua e de cumplicidade ideológica
entre os regimes.
Falácia 2: “HITLER ERA ATEU”
Hitler teve uma criação católica,
recebeu crisma e estudou em colégio beneditino. Alguns biógrafos dizem que na
sua adolescência teve contato com a mitologia pagã germânica o que o
supostamente a desenvolver uma posição negativa quanto ao cristianismo. O fato
é que Hitler sempre se mostrou em público como um cristão, seu livro Mein Kampf
(Minha Luta) Deus é citado várias passagens (http://www.paulopes.com.br/2012/09/as-reverencias-a-deus-feitas-por-hitler.html#.UOTpwaz5PdM)
e as falas são contundentes no sentido de legitimar o nazismo utilizando-se da
fé cristã.
É bom lembrar também que o
anti-semitismo alemão tem origens que passam muito além do período de domínio
político do partido nazista. Lutero no século XVI já se mostrava como claro
anti-semita e é inegável sua influencia na cultura alemã em vários sentidos (lingüístico,
social e religioso)
Essa falácia só expressa um
preconceito nojento contra os ateus.
Falácia 3: “HITLER PERSEGUIU AS
IGREJAS E ERA ANTI-CRISTÃO”
Essa fala é controversa. A
perseguição nazista não respeitava a questão religiosa: quem não tinha 100% de
fidelidade ao governo, ou não era ariano puro, ia pra vala independente do
credo. O fato é que Hitler tentou criar uma Igreja oficial do estado, o
programa do partido Nazista diz em seu parágrafo 24 que o partido adota os princípios
do “cristianismo positivo”.
Claro que existe um evidente
contracenso em que o partido Nazista afirma adotar princípios do cristianismo mesmo
com Cristo sendo judeu, mas o anti-semitismo na Alemanha tem forma perceptível desde
a Reforma Protestante pela ação de Martinho Lutero (um ferrenho anti-semita)
Lembrem-se também da famosa
concordata assinada entre Hitler e o Vaticano, a Reichskonkordat, onde a Igreja
Católica, para manter intacta sua participação na sociedade alemã, assume o
compromisso de que seus clérigos jurarão fidelidade ao Reich e ao Führer. ( http://pt.wikipedia.org/wiki/Reichskonkordat
)
Engraçado que o Papa Bento XVI, ex-membro da
juventude Hitlerista (porque era obrigatório a todos os jovens alemães da
época, é bom deixar claro), afirmou que o nazismo foi uma tentativa de retirar
Deus do seio da sociedade, mesmo com a Igreja Católica tendo silenciado com as
implicações do regime de Hitler na Alemanha e ter tido uma amizade ainda mais
profunda com o regime de Mussolini na Itália (o pioneiro dos regimes
fascistas). Não dá pra esperar desse sujeito muito compromisso com a verdade...
(http://www.paulopes.com.br/2010/09/papa-associa-o-extremismo-ateu-tirania.html#.UOTqdaz5PdM)
Aqui no Brasil a última vez que ouvi alguém
falar que Hitler perseguia Igrejas cristãs foi num programa do pastor Silas
Malafaia (não encontrei o vídeo), o que só mostra a desonestidade
intelectual desse sujeito. O pastor-deputado Marco Feliciano, assim como
Malafaia, tenta comparar a luta pelos direitos homossexuais com essa suposta
perseguição nazista, repetindo o abuso sobre o conhecimento histórico que
expressamos na imagem que abre esse post. Vigarice pura! ( http://www.marcofeliciano2010.com.br/?p=1459 NOTA: Marco
Feliciano, Malafaia e seus asseclas chamando alguém de fascista é igual a um
batedor e carteira gritando “pega ladrão”)
É de bom grado lembrar que as relações entre
Hitler e as Igrejas nem sempre foi pacífica e a tentativa de criar uma “Igreja
Oficial do Reich” encontrava resistências dentro das Igrejas Luteranas
diversas, muito mais pela falta de liberdade doutrinária do que por repudiarem
os rumos tomados pelo regime.
Falácia 4: “HITLER DEFENDIA A
RESTRIÇÃO DO USO DE ARMAS DE FOGO PARA OS CIDADÃOS”
Não sei dizer se essa afirmação é
verdade. Ví nos últimos dias no facebook uma postagem que atribuía a Hitler uma
frase onde expressava o seu interesse em manter cidadãos de povos dominados sem
direito a porte de armas pois isso facilitaria a manutenção da dominação. Não sei
dizer se a frase realmente é de Hitler e se ele se opunha ao livre porte de
armas, mas mostra mais um aspecto do uso de Hitler e do Nazismo como argumento:
a busca de uma reação muito mais emocional do que racional. Se Hitler era contra
o porte irrestrito de armas isso nada significa ( que o desarmamento seja algo
bom ou ruim). Países como Japão e Inglaterra promoveram campanhas de
desarmamentos muito bem sucedidas e não me parecem nações adeptas do nazismo.
...
Por enquanto é só, talvez quando eu estiver com mais
paciência eu melhore esse texto
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