O texto que iniciou essa série
discute como as forças políticas e sociais mais reacionárias se utilizam da
religião como um disfarce para esconder seus interesses reais para a busca do
poder.
Como os disfarces antigos
perderam força na pós-modernidade, devido ao discurso politicamente correto, a
religião acabou sendo a principal cortina de fumaça usadas pelos partidos e
setores mais conservadores contra qualquer força realmente inovadora dentro da
sociedade, além de permitir que candidatos com intenções completamente
anti-populares vençam as eleições, e, chegando ao poder, coloquem as coloquem
em prática.
UM CASO INTERESSANTE
Nessa segunda parte usaremos
alguns casos como exemplo. O primeiro caso que me chama a atenção é o do pastor
Eurico (PSB-PE), deputado eleito com 185.870 votos. Pastor Eurico se elegeu a partir do imenso
curral eleitoral que é a Assembléia de Deus em Pernambuco e no Brasil;
durante a campanha lembro de conversar com o representante da campanha dele na
cidade e a ladainha em defesa do candidato era a mesma: “temos que votar nos irmãos de fé”, “vamos votar contra a lei
homofobia”, “vamos defender o evangelho na câmara” e por aí vai... Lógico
que essas propostas são aceitas pela massa de fiéis das igrejas que, aliados a
desinformação geral da população que não sabe como os poderes da república
funcionam, vêem seus líderes como verdadeiros “ungidos” e enxergam todos os
aspectos da realidade como uma luta de um suposto “bem” contra o “mal” (lógico
que para ele o “bem” é tudo que está de acordo com os dogmas religiosos e “mal”
é tudo que foge das regras da religião).
A votação de Eurico só mostra
a eficiência deste discurso religioso (que inevitavelmente evolui para
posicionamentos bizarros) e a incapacidade da grande maioria dos cidadãos em
discutir política a partir de propostas e projetos e da rede de interesses que
está por trás de cada candidato, partido ou grupo social ao qual esse
representa. Essa incapacidade
permite que o candidato tenha um excelente disfarce para seus reais interesses
e para as implicações práticas das propostas políticas e sociais destes candidatos.
O mais interessante é que esse mesmo Pastor Eurico votou
em favor de um imoral projeto de lei que tenta privatizar os Hospitais
Universitários (http://forumsus.blogspot.com.br/2011/09/veja-quem-votou-no-projeto-de-lei.html
Procure
na parte “PSB”) . Ou seja, ele, o 5º deputado mais votado em Pernambuco,
votou para que os Hospitais Universitários, que atendem gratuitamente o cidadão
e ainda servem como residência médica para formandos, sejam privatizados e
possam passar a cobrar por um serviço que deveria ser gratuito e direcionado
justamente aos mais pobres e necessitados.
Porque o Pastor Eurico (ultimo do cartaz) não divulga a seus eleitores, especialmente os que fazem parte do curral eleitotal religioso, que ele é a favor da privatização da saúde pública?
Agora cabe uma reflexão: se o Pastor dissesse que é favor da privatização de hospitais
públicos ele teria uma votação tão expressiva? Acho que nem eleito seria,
mas foi simplesmente porque escondeu seu discurso em toda uma retórica
religiosa. Mas aí se mostra uma face destas bancadas religiosas no
congresso: o ódio a qualquer coisa que
seja pública ou que exija um contrapartida social
O caso do Pastor Eurico é o mais emblemático por diversos
motivos: primeiro que é de Pernambuco, meu estado natal ; segundo que é o caso
mais evidente do curral eleitoral religioso, também chamado de “voto de cajado”;
terceiro porque é a mostra maior do cinismo promovido por essas bancadas
religiosas. A estratégia de disfarçar suas posições políticas nefastas atrás
de um discurso moralista religioso é a prova desta cortina de fumaça que as
forças políticas mais reacionárias usam para disfarçar as reais conseqüências de
sua presença nas esferas do poder.
OUTRO CASO BEM ELUCIDATIVO
CNI e evangélicos se unem contra taxação de fortuna e pensão gay
Outro fato que mostra de que as bancadas religiosas são um
braço importante dos políticos de caráter antipopular foi o caso da votação do
projeto de taxação das grandes fortunas, que foi vetado na câmara com
fundamental participação da bancada religiosa em aliança com a CNI
(Confederação Nacional da Indústria).
Antes cabe uma reflexão: qual cristão, baseado em sua fé
e no conhecimento das palavras de Cristo, se oporia a uma lei que taxasse
diferencialmente as grandes fortunas? Basta uma leitura simples dos evangelhos para
ver que as palavras de Cristo quanto aos ricos são duras (por exemplo Mateus
cap. 19 ver. 21, ou mesmo as palavras do sermão do monte servem para perceber que
Cristo não era lá grande entusiasta das grandes fortunas.)
O projeto que taxa as grandes fortunas foi vetado a partir
da ação nefasta desta bancada religiosa, que conseguiu, de uma única tacada,
unir o seu tradicional preconceito religioso com a seu tradicional elitismo
reacionário. O fato é que a aliança entre os políticos vinculados com as
grandes elites e os deputados religiosos conseguiram impedir que dependentes de
homossexuais tivessem direito a benefícios previdenciários e impediram um
projeto de lei que taxaria os patrimônios acima de 4 milhões de reais, e a
arrecadação desse tributo sendo direcionada ´para a saúde pública.
Ou seja, para defender o interesse dos ricos e manter seu
preconceito homofóbico, os deputados sacrificaram um projeto de lei que garantiria
maiores recursos para a saúde pública e beneficiaria justamente os mais pobres
(muitos dos que votaram neles, diga-se).
UMA CONCLUSÃO
É esse tipo de política canalha, elitista, preconceituosa e
imoral que é praticada pelas bancadas religiosas. São esses os efeitos da ação
da religião sendo usada como pauta
política.
No fim a ação das bancadas religiosas serve para punir o pobre e fazê-lo achar bom, bem ao gosto da direita mais reacionária.
No fim a ação das bancadas religiosas serve para punir o pobre e fazê-lo achar bom, bem ao gosto da direita mais reacionária.
Não há na bancada religiosa do congresso um único projeto
relevante nas áreas de saúde, educação e segurança que tenha sido elaborado por seus membros, afinal esse não é o interesse deles.
Ao impedir as minorias sexuais e sociais de terem direitos e fazer grande estardalhaço por isso a bancada religiosa cria um disfarce perfeito para o projeto de poder que vem tentando ser implantado pela direita brasileira: o da precarização dos serviços públicos mais básicos (especialmente os de saúde e de educação).
Ao impedir as minorias sexuais e sociais de terem direitos e fazer grande estardalhaço por isso a bancada religiosa cria um disfarce perfeito para o projeto de poder que vem tentando ser implantado pela direita brasileira: o da precarização dos serviços públicos mais básicos (especialmente os de saúde e de educação).
Citei apenas dois casos que considero principais, mais
existem outros casos que podem ser bem elucidativos quanto a ação nefasta das
bancadas religiosas no poder.
Em breve a terceira e última parte desta série.
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